Na América Latina, mais de 81 mil pessoas morrem por suicídio todo ano, segundo dados da ONU. Já o Brasil registrou 13.463 mortes por suicídio em 2018, o equivalente a 37 casos por dia, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
Apesar da urgência em se tratar do assunto, a sociedade ainda tem muitos estigmas e tabus em torno de transtornos mentais e suicídios. De acordo com a OPAS (Organização PanAmericana de Saúde), essa situação faz com que muitas pessoas que estão pensando em
tirar suas próprias vidas ou que já tentaram suicídio não procurem ajuda e, por isso, não recebam o auxílio que necessitam.
A prevenção não tem sido tratada de forma adequada devido à falta de consciência do suicídio como um grave problema de saúde pública. Em diversas sociedades, o tema é um tabu e, por isso, não é discutido abertamente. Ainda segundo a OPAS, poucos países incluíram a prevenção ao suicídio entre as prioridades de saúde e só 38 países relatam possuir uma estratégia nacional para isso.
Saúde pública
O suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos, de acordo com o Ministério da Saúde, e o recorte de classe tem um peso fundamental nessa estatística — 79% dos suicídios no mundo ocorrem em países de baixa e média renda. A falta de perspectiva futura, o desamparo social e econômico, a desigualdade brutal de acessos e oportunidades são elementos que podem compor esse quadro trágico que, apesar da atitude individual, é construído sobre bases coletivas.
As autoridades em saúde revelam que, para cada suicídio, há muito mais pessoas que tentam a cada ano. Ou seja, a tentativa prévia é o fator de risco mais importante para o suicídio na população em geral.
Os homens são os que mais morrem desse fator, no entanto, as mulheres são as mais reincidentes na tentativa de tirar a própria vida (Sinan – Brasil, 2011 – 2016). E a mortalidade é mais prevalente em idosos com mais de 70 anos.
Já no recorte racial e étnico, os indígenas apresentam maiores índices de mortalidade em relação a negros, brancos e amarelos e a maior incidência chega até em crianças — chegando na faixa etária de 10 a 19 anos.
“Os indígenas vem sendo exterminados de diversas formas ao longo de nossa história. A falta de políticas de saúde mental em aldeias indígenas ou até mesmo a invisibilidade desse tema pelos governantes faz com que a gente chegue nesse ponto trágico: de termos crianças e jovens indígenas tirando a própria vida“, Anne Moura, secretária nacional de mulheres do PT.
A OPAS reafirma que sensibilizar a comunidade e quebrar o tabu são ações importantes aos países para alcançar progressos na prevenção do suicídio.
Na mídia
A desinformação e a falta de consciência também geram dúvidas sobre como abordar o tema na mídia, por exemplo, deixando duas pontas difusas de abordagem: de um lado, o sensacionalismo, nada recomendado; e do outro, a completa ausência de conteúdo por receio ou medo de “instigar” esse tipo de atitude. Por se tratar de uma questão de saúde pública complexa, que envolve múltiplos setores da sociedade e diversas esferas de governo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) preparou cartilhas e sínteses básicas para orientar os profissionais de comunicação de como abordar o suicídio — incentivando o diálogo qualitativo com o público, trabalhando a conscientização com responsabilidade.
10 recomendações para noticiar suicídios na mídia:
Evitar descrever o suicídio como inexplicável e esclarecer os sinais de alerta;
Evitar glorificar ou romantizar o ato do suicídio e tentar apresentar uma história equilibrada sobre a pessoa;
Evitar incluir o método, local ou detalhes da pessoa que faleceu e limitar as informações aos fatos que o público precisa saber;
Evitar retratar o suicídio como uma resposta aceitável às adversidades da vida;
Evitar títulos sensacionalistas;
Evitar gráficos e fotografias prejudiciais;
Evitar o uso de linguagem estigmatizante;
Não compartilhar o conteúdo de cartas suicidas;
Evitar citar a polícia ou as primeiras pessoas que presenciaram o ato;
Apresentar recursos sempre que possível, como o telefone de linhas de ajuda.
Cartilha OMS:
Prevenção do suicídio: um manual para profissionais da mídi
Como prevenir
Suicídios são evitáveis. Portanto, há uma série de medidas que podem ser tomadas junto à população, subpopulação e em níveis individuais para prevenir o suicídio e suas tentativas, incluindo:
Redução de acesso aos meios utilizados (por exemplo, pesticidas, armas de fogo e certas medicações);
Cobertura responsável pelos meios de comunicação;
Introdução de políticas para reduzir o uso nocivo do álcool;
Identificação precoce, tratamento e cuidados de pessoas com transtornos mentais ou por uso de substâncias, dores crônicas e estresse emocional agudo;
Formação de trabalhadores não especializados em avaliação e gerenciamento de comportamentos suicidas;
Acompanhamento de pessoas que tentaram suicídio e prestação de apoio comunitário.
O suicídio é uma questão complexa e, por isso, os esforços de prevenção necessitam de coordenação e colaboração entre os múltiplos setores da sociedade, incluindo saúde, educação, trabalho, agricultura, negócios, justiça, lei, defesa, política e mídia. Esses esforços devem ser abrangentes e integrados, pois apenas uma abordagem não pode impactar em um tema tão complexo quanto o suicídio.
Como identificar suspeitas
Falar sobre querer morrer, não ter propósito, ser um peso para os outros ou estar se sentindo preso ou sob dor insuportável
Procurar formas de se matar
Usar mais álcool ou drogas
Agir de modo ansioso, agitado ou irresponsável
Dormir muito ou pouco
Se sentir isolado
Demonstrar raiva ou falar sobre vingança
Ter alterações de humor extremas
Mudanças marcantes na personalidade ou nos hábitos
Piora do desempenho na escola ou em outras atividades
Afastamento da família e de amigos
Perda de interesse em atividades de que gostava
Descuido com a aparência
Perda ou ganho inusitado de peso
Comentários autodepreciativos persistentes
Pessimismo em relação ao futuro, desesperança
Comentários sobre morte, sobre pessoas falecidas e interesse por essa temática
Doação de pertences que valorizava
“Se eu perguntar sobre suicídio, poderei induzir uma pessoa a isso?”
Questionar de modo sensato e franco fortalece o vínculo com a pessoa, que se sente acolhida e respeitada
“Ele está ameaçando suicídio apenas para manipular os outros”
Muitas pessoas que se matam dão sinais verbais ou não verbais de sua intenção para amigos, familiares ou médicos. Não se pode deixar de considerar a existência desse risco
“Quem quer se matar se mata mesmo”
Essa ideia pode conduzir ao imobilismo. As pessoas que pensam em suicídio frequentemente estão ambivalentes entre viver ou morrer. Prevenção é impedir os casos que são evitáveias.
“Uma vez suicida, sempre suicida”
A elevação do risco de suicídio costuma ser passageira e relacionada a algumas condições de vida. A idealização suicida não é permanente. Pessoas que já tentaram suicídio podem viver, e bem, uma longa vida
Não deixe a pessoa sozinha
Tire de perto armas de fogo, álcool, drogas ou objetos cortantes
Leve a pessoa para uma assistência especializada
Ligue para canais de ajuda
Ligue 188, Centro de Valorização da Vida
O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, email, chat e voip 24 horas todos os dias.
A ligação para o CVV em parceria com o SUS, por meio do número 188, são gratuitas a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular.
Também é possível acessar www.cvv.org.br para chat, Skype, e-mail e mais informações sobre ligação gratuita.
Políticas públicas salvam vidas
Dados do Ministério da Saúde revelam que a existência de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) no município reduz em 14% o risco de suicídio. Durante os governos Lula e Dilma, políticas de saúde mental estavam entre as prioridades da atuação do SUS federal. Em 2006, foram instituídas as diretrizes nacionais de Prevenção ao Suicídio e, em 2011, foi criada a Rede de Atenção Psicossocial, tratando os problemas de sofrimento e transtorno mental com a complexidade e a multiplicidade de ações que são necessárias. Confira abaixo, algumas das principais ações do Ministério da Saúde, durante os governos do PT, na prevenção ao suicídio.
O Ministério da Saúde lançou em 2006 a Portaria nº 1.876, de 14 de agosto de 2006, que institui Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio, a ser implantadas em todas as unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão. Ainda em 2006, lançou o Manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental.
Em 2011, pela Portaria nº 3088/2011, foi instituída a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo ofertado o cuidado em saúde mental por todos os pontos da RAPS, que prevê a articulação desde Atenção Básica: Equipe de Saúde da família (ESF), Unidade Básicas de Saúde (UBS), Centro de Convivência, Consultório na Rua, Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) até a Atenção Hospitalar e serviços de urgência e emergência (UPA 24h, SAMU 192), sob a coordenação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
A Portaria nº 1271, de 06 de junho de 2014, a qual define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, torna as tentativas de suicídio e o suicídio agravos de notificação compulsória imediata em todo o território nacional. O que indica a necessidade de acionamento imediato da rede de atenção e proteção para a adoção de medidas adequadas a cada caso.
Curso EAD, parceria Ministério da Saúde e UFSC, de Crise e Urgência em Saúde Mental . Entre os anos de 2014 e 2015 foram certificados 1.990 profissionais que atuam no Sistema Único de Saúde
Desde 2015 o Ministério da Saúde mantém parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), instituição voltada ao apoio emocional por meio de ligação telefônica para prevenção de suicídios. Em 2017, a parceria foi ampliada, tendo sido assinado um novo Acordo de Cooperação Técnica, que prevê a gratuidade das ligações ao CVV em todo o território nacional.