Partido dos Trabalhadores

Sob um governo à deriva, economia brasileira afunda

Descrédito generalizado de Bolsonaro e Guedes atola a economia nacional. Nos governos do PT, o país se tornou um dos principais destinos de investimentos no mundo

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Um novo tsunami atinge o Brasil, agora sem comando

A semana começou com um cartaz de 4 metros de altura por 12 metros de comprimento, onde estava escrita a expressão “NaufraGuedes”, colado na avenida Faria Lima, a “Wall Street” paulista. E acabou com uma grande ressaca dos analistas do mercado financeiro, que a cada dia emite sinais mais explícitos da erosão da credibilidade do ministro-banqueiro Paulo Guedes – até entre seus pares.

A perspectiva para os investimentos em 2022, por exemplo, cai a cada relatório emitido na Faria Lima. E ecoa nas páginas do Valor Econômico, porta-voz dos endinheirados, que nesta sexta-feira (3) publicou matéria sobre a deterioração das expectativas por uma “recuperação” acenada por Paulo Guedes desde o início da pandemia. Pura ilusão.

“No fechado do ano, a formação bruta de capital fixo (FBCF), como é conhecido o indicador dentro do Produto Interno Bruto (PIB), deve crescer acima dos dois dígitos, ainda por causa da base fraca de comparação com 2020. Mas a perspectiva para 2022, com eleições e aumento de juros, é incerta e alguns analistas não descartam retração ao redor de 2% a 3% dos investimentos”, aponta a reportagem.

Os pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) esperam queda de 5% no investimento neste quarto trimestre, e de mais 2,4% em 2021. “Veremos uma desaceleração no ano que vem, principalmente por parte da construção civil, que responde por metade do investimento”, prevê Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro da instituição.

“O cenário adiante é incerto, o câmbio está muito desvalorizado, o que aumenta o preço de máquinas e equipamentos. O Brasil é visto com muita incerteza e 2022 não será um ano de grande investimento”, conclui a economista.

Os analistas da XP Investimentos e da Tendências Consultoria chamaram a atenção para a alta da taxa básica de juros (Selic). “O desempenho dos investimentos deve ser mais fraco dado o processo de elevação da taxa de juros, que tem efeito defasado na economia”, explica Rodolfo Margato, da XP, que prevê queda de 2% a 2,5% em 2022.

A Tendências estima queda de 3% ano que vem, em meio ao encarecimento do crédito. Sócio da consultoria, o ministro da Fazenda de José Sarney, Maílson da Nóbrega, disse que a equipe econômica do desgoverno Bolsonaro vive em uma “realidade paralela”. “Apenas o governo acha que o Brasil vai surpreender o mundo. Só se for negativamente. O resultado do PIB era esperado pelos economistas, exceto os do governo”, criticou.

Professor de Economia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), André Roncaglia concorda. “O Paulo Guedes é literalmente um desastre. Porque ele não consegue nem ao menos oferecer uma leitura adequada do cenário, como o capitão que está comandando esse grande transatlântico deveria dizer”, observou em entrevista ao Jornal Brasil Atual.

Os governos do PT transformaram o poder de compra do Estado brasileiro em instrumento estratégico de desenvolvimento para garantir mercado para a produção nacional e estimular a inovação.. Foto: Reprodução

Com Lula e Dilma foi diferente

Em 2020, sob Bolsonaro, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) no Brasil despencou no Monitor de Tendências de Investimentos Globais da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). Com a queda, o Brasil passou para a 11ª posição no ranking dos países que mais recebem investimento estrangeiro direto.

Em 2012, sob Dilma Rousseff, o Brasil chegou a ser o terceiro país mais citado no Monitor como destino preferido de investimentos. Desde 2010, mesmo com crise global, a economia nacional variava entre quarta e quinta maior receptora de investimentos do mundo. A situação começou a mudar em 2016, e agora se aprofunda em colapso maior.

“Esse caminho que o Brasil tomou, após o golpe contra Dilma e Lula, está colhendo os frutos do desastre”, disse José Dirceu em entrevista à Rádio Brasil Atual, nesta sexta-feira (3). Dirceu foi ministro-chefe da Casa Civil nos dois primeiros anos de mandato de Lula, quando se instituiu uma política econômica que mudou os rumos do país.

Por 13 anos, o Brasil viveu uma era de crescimento, estabilização das finanças públicas e dos preços, de elevação inédita da confiança dos investidores no Brasil, de inclusão social e de aumento da riqueza do país. Os governos do PT construíram as bases para transformar o Brasil numa nação desenvolvida, projeto sabotado pelo golpe de 2016.

A economia cresceu enquanto foram gerados superávits fiscais que aumentaram a sustentabilidade das contas públicas. A gestão responsável adotada pelo PT visava assegurar as bases para um Estado mais eficiente, capaz de alocar os recursos públicos para reduzir os desequilíbrios sociais e regionais.

Como resultado, a dívida pública assumiu clara tendência de redução e chegou aos patamares mais baixos em décadas. A dívida líquida do setor público passou de 59,9% do PIB para 35,6%, entre 2001 e 2014, atingindo em 2013 o patamar mais baixo (30,5%).

O Brasil economizava, mas também investia no maior programa de inclusão social da história: o Bolsa Família. Ao mesmo tempo em que garantiram a segurança alimentar de milhões de famílias, os recursos do Bolsa Família dinamizaram a economia de pequenas localidades e municípios, estimulando micro e pequenos negócios.

Mobilizar empresas públicas, usar instrumentos do Estado para aprimorar o ambiente em que as empresas atuam, apoiar o investimento produtivo e abrir novos mercados, tudo isso fez parte de uma diretriz clara: produzir em quantidade e com competitividade, gerando empregos e oportunidades para toda a população.

Crédito, inclusão e trabalho

Sob a premissa de que uma economia se dinamiza quando há crédito disponível em prazos e condições adequadas para financiar consumo e investimento, os governos do PT mobilizaram vários instrumentos para estimular a inclusão bancária da população e ampliar o financiamento do setor produtivo. O expressivo crescimento do crédito doméstico alavancou o consumo, a produção, o emprego e a renda.

Os bancos públicos tiveram papel relevante no processo de ampliação da oferta de acesso ao crédito, sobretudo para segmentos a que o sistema financeiro privado dedica menor atenção – longo prazo, rural, habitacional e micro e pequenos negócios.

No campo, o volume de crédito para financiar a produção foi multiplicado. Enquanto na safra 2002/2003 foram autorizados R$ 20 bilhões, na safra 2015/2016 os recursos chegaram a R$ 187,7 bilhões, aumento de 302%. Novas linhas de crédito, mais adequadas ao perfil de cada produtor, dos familiares ao agronegócio, foram lançadas.

Os governos do PT também adotaram medidas para estimular o crescimento da produção e da competitividade da indústria. Novos instrumentos foram mobilizados para atingir três objetivos complementares: reduzir os custos de produção industrial, incentivar o desenvolvimento tecnológico e a inovação, e estimular as exportações.

As indústrias brasileiras foram apoiadas por medidas que buscavam reduzir o custo de seus dois principais insumos – trabalho e capital. Como a desoneração da folha de pagamentos; desoneração tributária; crédito mais barato; o Simples Nacional e o Microempreendedor Individual como parte do Simples Nacional, que visou estimular a formalização e a inclusão previdenciária dos que trabalham por conta própria.

Também foram adotadas medidas institucionais e programas voltados ao fortalecimento do sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) e sua integração à política de desenvolvimento. O orçamento para CT&I quase dobrou entre 2002 e 2015. Os desembolsos da Finep cresceram 66% no período 2007-2015.

Os governos do PT transformaram o poder de compra do Estado brasileiro em instrumento estratégico de desenvolvimento para garantir mercado para a produção nacional e estimular a inovação. Nesse sentido, foram mobilizados de forma complementar três conjuntos de instrumentos: margens de preferência, política de conteúdo nacional e encomendas tecnológicas.

Por seu potencial para alavancar o crescimento econômico, gerar emprego e promover desenvolvimento regional, foram priorizados os investimentos em infraestrutura. A conjugação investimento público/privado moveu obras e concessões com o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) e o Programa de Investimento em Logística (PIL).

Obras paralisadas por anos, como as Eclusas de Tucuruí e o Canal do Sertão Alagoano, foram retomadas. Projetos estruturantes, como a duplicação da BR-101, as Usinas Hidrelétricas do Madeira, a exploração do pré-sal e a Integração do São Francisco, foram iniciados.

O PAC representou a retomada do planejamento no setor de infraestrutura do país, que havia sido abandonado por 30 anos. Áreas como ferrovias, hidrovias, grandes empreendimentos em geração e transmissão de energia, saneamento, recursos hídricos e habitação foram contempladas com um volume inédito de recursos.

As despesas do PAC com recursos do orçamento tiveram aumentos consecutivos desde o lançamento, em 2007, chegando a R$ 76,4 bilhões em 2014. Investimentos das estatais triplicaram em relação a 2002, alcançando R$ 157,3 bilhões em 2013.

Foram criados milhões de empregos – a ponto de a demanda por engenheiros e trabalhadores qualificados se tornar maior do que a oferta. Foi preciso criar mais vagas nos cursos de engenharia das universidades públicas e fazer um grande esforço de capacitação de mão de obra, com a criação de mais de 400 escolas técnicas.

PIB cresceu junto com a renda dos trabalhadores

Em média, o PIB cresceu 2,9% ao ano nos governos do PT. O bom desempenho econômico resultou em inédita ampliação do PIB per capita, de R$ 26,6 mil para R$ 33,96 mil. O Brasil chegou a ser a 5ª maior economia do mundo, com distribuição de renda e inclusão social. Em 13 anos, a meta da inflação foi cumprida em 12.

Ainda no primeiro mandato de Lula, houve forte redução da dívida externa. Velho trauma brasileiro, a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi integralmente quitada antes mesmo do vencimento, em 2006. Em 2009, o Brasil foi além e emprestou US$ 10 bilhões ao FMI, tornando-se um de seus 47 países credores.

Dessa forma, o endividamento externo, que deu início a tantas crises nos anos 1970 e 1980, deixou de ser um fator de risco para o Brasil. Outro indicador da solidez econômica construída no período foi o forte crescimento das reservas internacionais, que chegaram a US$ 376.128 bilhões em 12 de maio de 2016, quando Dilma foi afastada pelo golpe.

Em 2008, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s concedeu ao Brasil o grau de investimento. “A elevação reflete o amadurecimento das instituições brasileiras e a estrutura de política, como foi evidenciado pelo alívio da carga de dívida fiscal e externa e as melhores perspectivas de crescimento”, disse a analista de crédito da S&P Lisa Schineller na ocasião. As outras agências, Fitch e Moddy’s, logo seguiram a decisão.

O ambiente de crescimento econômico e de estabilidade nos preços e nas contas públicas mudou a avaliação dos investidores externos em relação ao país. Nos 13 anos de PT, o saldo de entrada de investimento estrangeiro no Brasil foi sempre positivo – em especial no período Dilma, quando atingiu volumes inéditos na história recente.

Em 2015, a queda do PIB foi fruto da baixa nos preços das commodities, da mudança na política monetária norte-americana, da desaceleração da economia chinesa e do aumento do custo da energia. O quadro foi agravado pelo bloqueio, no Congresso, de todas as iniciativas do governo Dilma, em sincronia com as pautas-bomba e a criação de um ambiente político propício ao impeachment sem crime de responsabilidade. Estava selado o destino do país, que agora “colhe os frutos do desastre”.

Da Redação, com informações da RBA e da revista O partido que mudou o País