A crise econômica e política da Venezuela tem sido utilizada como demarcação ideológica no Brasil. Assunto nas eleições presidenciais, o tema se materializou mais forte por aqui pela chegada em massa de migrantes no Norte do país. A situação na Venezuela é crítica, especialmente na economia. No sexto ano de contração econômica e com grande deficit orçamentário, a pobreza – que havia sido fortemente combatida pelo chavismo – volta a crescer.
Entretanto, há muito o que se discutir sobre sua origem, e não serão respostas simples como “erros do governo populista” ou “bloqueio internacional” que darão o panorama geral dos problemas que levaram à esta crise. Há fatores explícitos: a desvalorização do principal produto da economia venezuelana – o petróleo; a má gestão da política econômica; as sanções econômicas de natureza política por parte dos Estados Unidos. Mas há, também, um amplo apoio popular ao presidente Maduro, que não pode ser negado e que permite um respaldo político poucas vezes visto no nosso continente a um processo popular tão longo.
Num mundo em mudança, com o multilateralismo perdendo cada vez mais força e com o ascenso de lideres nacionalistas de direita que diminuem o espaço dos organismos internacionais, a polarização aumenta acerca de temas como esse. Ao invés do nosso país adotar uma postura clara de política externa independente, soberana, altiva e ativa – que carateriza os períodos mais prósperos da nossa diplomacia – o governo Bolsonaro opta pela submissão aos entendimentos do Departamento de Estado norte-americano.
Por este motivo, baixem as pedras.
Não se esqueçam que Tabaré Vasquez (Uruguai) e Evo Morales (Bolívia), ambos de partidos que também compõe o Foro de São Paulo, vieram ao país participar da posse de Bolsonaro. A ida de Gleisi (Presidenta do Partido dos Trabalhadores) à Caracas para participar da posse de Maduro, diferente da nossa Chancelaria que nem convidou o mandatário venezuelano para a posse do governo, vai cumprir esse papel e seguir essa tradição.
Acredito, sinceramente, que os espaços para a resolução das crises internacionais são os fóruns multilaterais. Nosso continente hoje carece dos espaços, tão frutíferos na primeira década do século, que permitiriam as mesas de negociações para crises como as que enfrenta Venezuela e Nicarágua. Mas é mais fácil jogar pedra. Pedras que tornam cada vez mais difícil uma solução que não passe por ingerência externa, ataque à soberania e sofrimento da população mais carente.
Não nos esqueçamos que há pouco menos de 10 anos o Brasil mediava um acordo, ao lado da Turquia, para resolver a questão nuclear do Irã. Processo que sofreu fortes críticas da nossa mídia nacional, que afirmava que o país estava se aproximando apenas de líderes ditadores e autoritários.
Por fim, sugiro que leiam a nota que divulgada pela Gleisi Hoffman, à luz dos argumentos que coloquei aqui. Baixem às pedras e tentem segurar um pouco o antipetismo. Há uma nova fase se iniciando nas relações internacionais e as coisas são mais complexas de se entender do que parecem.
Alexandre Pupo é militante da juventude do PT