Metade dos brasileiros que vive em grandes cidades concorda com a expressão “bandido bom é bandido morto”, aponta pesquisa divulgada nesta segunda-feira (5). Para o deputado federal Afonso Florence (PT-BA), o levantamento reflete o “clamor da população” por políticas públicas que promovam a segurança.
“Diferentemente do que pode parecer, não é um clamor pela pena de morte, mas por melhoria de vida das faixas da população atingidas mais fortemente pela violência”, avalia.
Dos 1.307 entrevistados em 84 cidades com mais de 100 mil habitantes, 45% declarou concordar com a expressão, 3% não concorda nem discorda e 2% não sabe.
“Há estatísticas alarmantes da letalidade do combate ao crime organizado. Já há uma pena de morte ilegal, que atinge principalmente a jovens negros, de periferia, mortos por grupos de extermínio em confronto com a polícia”, alerta o parlamentar.
No estado de São Paulo, nos primeiros nove meses de 2015, o número de chacinas ocorridas superou o total de todo o ano passado. Foram 15, com 62 mortes. Houve ainda 120 assassinatos com autoria desconhecida, com indícios de execução.
“Temos que enfrentar o desafio de construir uma cultura de paz e efetivos instrumentos de políticas públicas de prevenção. A segurança pública é responsabilidade dos estados, mas precisamos de uma ação cooperada”, defende o parlamentar.
A pesquisa foi realizada pelo Instituto Datafolha sob encomenda do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e vai integrar o 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que será divulgado nesta semana.
De acordo com a pesquisa, 53% dos jovens entre 16 e 24 anos discorda da frase “bandido bom é bandido morto”. Trata-se do maior percentual entre as faixas etárias. O estudo mostra ainda um índice crescente de concordância à medida que a idade avança.
Na avaliação do especialista em segurança pública e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB), Nelson Gonçalves Souza, a diferença é resultante do processo de socialização dos jovens e do acesso às tecnologias.
“Os mais jovens estão inseridos no mundo da comunicação global e, consequentemente, fazem comparações com o que ocorre no Brasil e no resto do mundo. Eles não admitem que o País se submeta a aprovar a eliminação de seus integrantes”, analisa.
Além disso, ele afirma que a geração mais jovem foi educada “na perspectiva da humanização das relações sociais, que passem necessariamente pelo respeito à vida”. Da mesma forma, os mais velhos conheceram um Brasil “menos violento do que é hoje” e, por isso, defendem soluções radicais.
População negra – O professor chama atenção para o fato de 44% da população negra concordar com a afirmação. “É algo surpreendente e perigoso, pois eles são as principais vítimas da violência no Brasil, sobretudo da cometida por policiais”, ressalta.
Nelson Gonçalves alerta ainda para a necessidade de repensar o sistema de Justiça criminal do Brasil, incluindo o aparato policial. Para ele, a sensação de impunidade é um incentivo à barbárie e às ações de justiça pelas próprias mãos.
“No Brasil, a Polícia Militar tem problemas, como tem Polícia Civil e Federal, mas os problemas da PM ficam mais evidentes porque sua atuação é mais visível. Precisamos começar a refletir por que as polícias brasileiras agem tão violentamente”, disse.
O especialista defende a desvinculação constitucional da PM das Forças Armadas sem que haja perdas dos benefícios trabalhistas para os policiais.
Imprensa – Os veículos de comunicação também têm responsabilidade quanto à opinião expressa no levantamento. “A imprensa tem o poder de construir e desconstruir nossa visão de mundo”, afirma Nelson.
“A gente percebe que no caso brasileiro parece que, em função da obtenção de notícia sensacionalista, há uma exacerbação do modo como se noticia o crime e se desconstrói a segurança pública brasileira”, completa.
Para ele, os meios noticiosos atrapalham ao noticiar estratégias policiais para combate ao crime e táticas de criminosos eu deram certo de maneira minuciosa. “Isso incentiva outros a reproduzirem o método, como no caso da banalização das explosões de caixas eletrônicos”, diz.
Por Cristina Sena, da Agência PT de Notícias