Países com os maiores índices de casos e mortes por Covid-19 no mundo, Brasil e EUA estão pagando um alto preço desde que a pandemia do coronavírus tomou o planeta de assalto, em janeiro. Exemplos mundiais de uma condução catastrófica da crise sanitária, os dois países sofrem as consequências diretas do negacionismo e da imprudência de seus líderes, Jair Bolsonaro e Donald Trump. Somadas, as duas nações transformaram-se em epicentro da doença e respondem por quase 40% do total de casos no mundo, com 4,1 milhões de infectados e 189,6 mil mortos – cerca de 36,8% da mortalidade do planeta.
O caso brasileiro é ainda mais espantoso, dado que o governo teve dois meses de vantagem antes da chegada da tempestade. Alertado desde o início por autoridades mundiais de saúde sobre a letalidade do vírus, Bolsonaro lavou as mãos para a “gripezinha”. O resultado hoje estampa as principais edições dos maiores jornais internacionais: hoje detém, sozinho, 11,5% das vítimas fatais e 13,1% dos casos globais. Um desastre para uma nação que representa apenas 2,7% da população mundial. Nesta terça (30), o consórcio de veículos de imprensa contabilizou 59.656 mortes – 1.272 nas últimas 24 horas – e 1.408.485 contaminados pela doença. Prestes a entrar no quinto mês da pandemia, o Brasil está muito longe de ter o surto sob controle, como indicam análises mais recentes dos dados sobre a disseminação do coronavírus.
Segundo levantamento do Centro Europeu de Prevenção e Controle das Doenças, das 33.808 mortes por coronavírus contabilizadas pelo mundo na semana passada, 7.007, ou 20,7%, ocorreram no Brasil. O cálculo foi divulgado pela ‘BBC News’. Pelas projeções, o país ainda pode levar muitas semanas para atingir o pico no número de casos. Até lá, haverá aumento maior de mortes e infecções.
Para o professor associado de epidemiologia e saúde global da Universidade de Michigan, a falta de um discurso uniforme com orientações à população por parte do governo federal prejudicou demais o combate à pandemia no Brasil. “Isso causa confusão na população e faz o respeito às regras ser menor”, afirmou o professor, em depoimento à ‘BBC’.
“Pode ser apontado como a razão pela qual vemos agora particularmente um grande surto como estamos vendo no Brasil, comparável só aos Estados Unidos – e comparável também em uma administração e resposta ruins do governo federal, deixando tudo para os governos e Estados locais”, avaliou Meza. Para piorar, o Brasil irá atravessar o inverno sem ter achatado a curva de contaminações.
A pesquisadora Marília Sá Carvalho, da Fiocruz, concorda. Para ela, faltou articulação entre esferas diferentes. “No início da pandemia o ministro da Saúde teve um conjunto de propostas que teve um impacto, e a epidemia cresceu de forma mais lenta que nos Estados Unidos”, relembrou a pesquisadora, em entrevista à BBC. “A partir de um certo momento, entra outro ministro, e o presidente considera que a covid-19 não é uma doença importante”, observou.
Explosão de casos
A aceleração de casos na América Latina preocupa técnicos da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), entidade ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a diretora da entidade, Clarissa Etienne, o Brasil deverá atingir o pico de casos apenas em agosto, assim como outros países vizinhos, como Argentina, Bolívia e Peru. A organização prevê um saldo de 438 mil mortes na região até outubro, caso haja um relaxamento das medidas de isolamento social.
O órgão ligado à OMS defende a manutenção de um conjunto de medidas para a contenção da pandemia, como o uso de máscaras, o confinamento das famílias e a aplicação de testes em massa, a fim de rastrear a evolução da doença. “Devemos estar preparados para ajustar rapidamente o rumo se a situação epidemiológica mudar. Se você está disposto a relaxar as medidas preventivas neste momento, precisará ter a coragem de voltar atrás se as infecções aumentarem”, comentou a diretora da OPAS.
Para Etienne, “[a flexibilização] requer a implementação de um conjunto de medidas de saúde pública [pelos países] para rastrear novos casos e desenvolver capacidade suficiente para detectar e controlar novos surtos”. Ainda sobre os testes em massa, o diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis da entidade, Marcos Espinal, criticou o tratamento que o governo brasileiro tem dado ao assunto.
“A OMS constantemente pediu que o Brasil aumentasse a quantidade de teste de coronavírus e que a mensagem seja consistente.” para Espinal, os governadores estão adotando medidas para frear o avanço do vírus mas “falta uma mensagem consistente. Sem isso, a população se confunde”, ressaltou.
Da Redação, com informações de ‘BBC News’ e agências internacionais