Partido dos Trabalhadores

SP inicia aplicação de testes de vacina chinesa para combater Covid-19

Logo após anúncio de que testes para duas vacinas, chinesa e britânica, mostraram-se seguros e produziram resposta imunológica contra o novo coronavírus, o estado recebeu 20 mil doses enviadas pela chinesa Sinovac. Com coordenação do Instituto Butantan, 890 voluntários começam a ser testados já nesta terça-feira no Hospital das Clínicas de São Paulo. Especialistas consideram, no entanto, que ainda é cedo para comemorações e recomendam cautela

O anúncio de testes promissores com duas vacinas, uma chinesa, outra da Universidade de Oxford, no Reino Unido, agitaram a comunidade científica no início desta semana. A possibilidade da produção em massa de uma vacina com resposta imunológica à Covid-19, que poderá chegar ao mercado entre o final do ano e o início de 2021, renovou esperanças no meio acadêmico e entre líderes mundiais. Nesta terça-feira (21), 890 voluntários em São Paulo começam a receber doses enviadas pela chinesa Sinoavach Biotech, no Hospital das Clínicas, em um projeto com o Instituto Butantan. Os testes incluirão a participação de 9 mil profissionais de saúde na fase 3. Ao todo, foram enviadas 20 mil doses. 

Sobre os testes preliminares, tanto o projeto de vacina chinês quanto o britânico mostraram-se seguros e produziram resposta imunológica contra o vírus. O de Oxford foi desenvolvido em parceria com o laboratório AstraZeneca e aplicado em mais de mil pacientes. Já o chinês, que tem apoio da Cansino Biologics, também obteve boa resposta em 500 participantes. Os ensaios estão entre as fases 1 e 2 e ainda precisam passar por uma última fase de testes, mais ampla, antes de serem considerados realmente eficazes. A conclusão das pesquisas apareceram na publicação científica ‘Lancet’. Especialistas consideram, no entanto, cedo para comemorações e recomendam cautela.

“Se nossa vacina se mostrar eficaz, é uma opção promissora, já que este tipo de vacina pode ser fabricada facilmente em grande escala” afirmou a pesquisadora da Universidade de Oxford, Sarah Gilbert. Nenhum dos testes apresentou efeitos colaterais graves, ficando restritos a febre, fadiga e dor na região onde foi aplicada a vacina.  A vacina de Oxford também está sendo testada no Brasil pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 2 mil voluntários participaram da fase 3 do ensaio.

Disputa geopolítica

O anúncio do resultado dos testes abriu uma corrida entre os laboratórios para ver qual conseguirá passar da fase 3 dos ensaios, a etapa final que garante o sucesso ou fracasso de uma vacina. Oportunidade de um negócio bilionário em escala global, as vacinas já são objeto de uma acirrada disputa entre potências no tabuleiro geopolítico internacional.

O protagonismo chinês, cada dia mais proeminente, desgasta ainda mais a imagem e o poder dos EUA, atualmente na incômoda posição de epicentro mundial da doença, graças à negligência do presidente Donald Trump na resposta à pandemia. Os chineses não apenas mostraram uma surpreendente capacidade de contenção da coronavírus com testes em massa e o fechamento das cidades mais afetadas, como lideram, ao lado do Reino Unido, a corrida pela cura.

Somente a Fundação Bol & Melinda Gates, de Bill Gates, doou U$ 750 milhões à Universidade de Oxford para auxílio nas pesquisas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente há pelo menos 163 ensaios conduzidos por laboratórios pelo mundo, e 23 estão em fase clínica. A AstraZeneca garantiu que poderá produzir dois bilhões de doses da vacina “sem lucro durante a pandemia”. Também foi prometido cerca de um bilhão de doses para países pobres.

Diferenças

Segundo o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, a diferença entre as vacinas contra a Covid-19 produzidas pelo laboratório chinês Sinovac e a universidade britânica Oxford está na tecnologia utilizada. “As tecnologias usadas na produção das vacinas são tecnologias diferentes”, disse Covas, na segunda-feira (20). “A tecnologia da vacina que nós estamos desenvolvendo é uma tecnologia tradicional. Então, ela já foi usada na produção de outras vacinas aqui no Butantan como a vacina contra raiva humana que nós produzimos e contra a dengue, usa essa tecnologia”.

De acordo com o diretor, a vacina apresenta um perfil de segurança testada  aprovada por organismos internacionais. Diferentemente da vacina inglesa. “A vacina de Oxford é uma tecnologia nova que não foi ainda utilizada na produção de outras vacinas, que não foi ainda utilizada em outras vacinas, que poderá ser até uma evolução na produção de vacinas. Mas além da demonstração e eficácia, ela precisará ter o seu processo produtivo validado por esses institutos”, observou.

O governador de São Paulo, João Dória, afirmou, em entrevista coletiva, que caso a vacina seja bem-sucedida, estará disponível em todo o país por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). A vacina será produzida pelo Instituo Butantan. “O Instituto Butantan terá todo o domínio da tecnologia, é isto que prevê o acordo com o laboratório Sinovac”, ressaltou o governador.

Cautela

Autoridades de saúde recomendaram cautela quanto ao prospecto da criação da uma vacina de fato eficaz contra a doença. A chefe da Força-Tarefa de Vacinas do Reino Unido, Kate Bingham, afirmou à rede ‘Sky News’, categoricamente, que “nunca houve uma vacina contra um coronavírus e pode nunca haver uma”.  A pesquisadora lembrou que ainda não existe vacina contra a malária, o HIV, “e essas são doenças que conhecemos bem”.

Ela acrescentou ainda que “não há expectativa de que isso definitivamente possa ser feito” e é “improvável” que haja uma única vacina [para a Covid-19] que funcione de modo universal.

No Brasil, outros especialistas também recomendaram prudência antes de comemorações precipitadas. “Vacina em testes é como anunciarem que vão limpar o Rio Tietê em São Paulo. A intenção é ótima e pra quem é de fora, parece super promissor. Mas pra quem conhece o histórico, vale esperar pra ver”, escreveu em sua conta no twitter o doutro em microbiologia, Átila Iamarino.

Da mesma maneira, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tratou o assunto com cuidado, na coletiva de segunda-feira (20). O chefe do Programa de Emergências da OMS, Mike Ryan, afirmou que o resultado dos testes é positivo mas que o caminho ainda “é longo a seguir”. “Não precisamos esperar uma vacina. Temos que salvar vidas agora”, alertou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom. “Devemos continuar a acelerar a pesquisa de vacinas e fazer mais com as ferramentas que temos em mãos”, disse.

Da Redação, com agências internacionais