Na mais nova demonstração de que o país está de joelhos, submisso diante dos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro reforçou nesta quarta-feira a política de subserviência total ao governo de Donald Trump, desrespeitando a soberania nacional. Num rompante típico de chefetes de republiquetas, Bolsonaro anunciou nas redes sociais que o Brasil não vai comprar a Coronavac, desenvolvida pelos chineses e testada pelo Instituto Butantã. “Não será comprada”, escreveu em rede social.
Na véspera, o ministro da Saúde, General Eduardo Pazuello, havia anunciado que o governo federal adquiria 46 milhões de doses da vacina. Hoje, Bolsonaro desautorizou. “O povo brasileiro não será cobaia de ninguém”, disse o presidente. Antes da reunião com governadores, o Ministério da Saúde chegou a enviar um ofício ao Instituto Butatan, na segunda-feira, 19, para confirmar a intenção de compra das vacinas.
Líderes do PT reagiram à decisão do Planalto. “Não comprar, por questões ideológicas, vacina cientificamente comprovada e deixar para a população decidir tomar vacina contra Covid-19, pondo em risco a vida de milhões, é crime de responsabilidade”, denunciou a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR). “O impeachment volta à pauta. Até quando Bolsonaro vai brincar com o Brasil e com a vida do povo?”, questionou. No Congresso, há uma articulação da oposição para obrigar o governo a fornecer as vacinas. No início da semana, Bolsonaro declarou que não haveria campanha de vacinação obrigatória contra o Covid-19.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também apontou a deslealdade de Bolsonaro com o país, reiterando suas críticas à política de desinteresse e descaso do Palácio do Planalto com os desdobramentos da crise sanitária. “O Bolsonaro está subordinando os interesses brasileiros à estratégia geopolítica dos Estados Unidos”, advertiu Lula. “E os EUA não admitem que nenhum país da América Latina tenha relações com a China. Tratam a América Latina como quintal deles”, reforçou.
Também a ex-presidenta Dilma Rousseff se mostrou preocupada com a decisão. “Por ignorância e fanatismo ideológico, Bolsonaro ameaça a vida da população. Interditando o uso de uma vacina, será responsável pelas mortes que vierem a ocorrer pela falta de prevenção. Terá de ser julgado por isso”, advertiu. Ela lembrou que é Bolsonaro que tem feito o povo de cobaia, ao incentivar o uso de remédio inócuo contra a Covid19, como a hidroxicloroquina, que é perigoso pelos efeitos colaterais. “Agora, atenta contra o conhecimento e a civilização, ao anunciar que vai vetar o uso da primeira vacina disponível contra a doença”, ressaltou.
Crise com estados
De acordo com a Reuters, o centro de pesquisas biomédicas do Estado de São Paulo, o Instituto Butantan, está testando a vacina Sinovac, e o governador João Doria esperar a aprovação da Anvisa até o final do ano para dar início à campanha de vacinação a partir de janeiro. Doria disse após reunião do Ministério da Saúde que o governo federal concordou em comprar 46 milhões de doses da vacina chinesa. A inclusão da CoronaVac no programa nacional de vacinação seria um grande sucesso para a China no que poderia ser um dos primeiros esforços de imunização contra o coronavírus no mundo.
O Instituto Butantan anunciou que os resultados preliminares dos testes clínicos em estágio final do CoronaVac em 9 mil voluntários provaram que a vacina chinesa de duas doses é segura. O diretor do Butantan, Dimas Covas, disse que os dados sobre a eficácia da vacina não serão divulgados até que os testes sejam concluídos. Os resultados até agora são preliminares e os pesquisadores continuarão acompanhando os participantes. Este é o primeiro conjunto de resultados dos testes globais de Fase 3 da Sinovac, que também estão sendo conduzidos na Turquia e na Indonésia.
Nesta quarta-feira, governadores e secretários de Saúde ficaram revoltados com o recuo de Bolsonaro em relação à compra da vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan. “Se Bolsonaro desautorizar o amplo acordo feito por Pazuello, ele mais uma vez estará sabotando o sistema de saúde e criando uma guerra federativa”, alertou o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).
“Espero que bons conselheiros consigam debelar esse novo surto de Bolsonaro. Ele anunciou que pretende recorrer à Justiça para ter acesso a vacinas validadas pela comunidade científica. “Bolsonaro não pode dispor das vidas das pessoas para seus propósitos pessoais. E Bolsonaro vai perder de novo, se insistir com mais essa agressão insana aos estados”, acrescentou.
Da Redação, com agências de notícias