Em entrevista à revista alemã “Der Spiegel“, publicada nesse sábado (2), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre a crise política enfrentada pelo Brasil. O líder petista defendeu a presidenta eleita Dilma Rousseff e criticou o presidente golpista Michel Temer.
Ele voltou a falar em “vingança” ao ser questionado sobre o processo de impeachment em andamento contra Dilma. “O impeachment foi um ato de vingança do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, o qual não ajudamos quando foi acusado de corrupção.”
Lula reafirmou também que ainda não foi provado nenhum crime cometido pela presidenta eleita. “Essa coisa toda com o orçamento não passa de uma acusação barata. Quem está insatisfeito com o resultado das últimas eleições, deveria esperar pelas próximas”, afirmou. “Uma mudança abrupta não faz bem para o País.”
O ex-presidente acredita que as chances de o impeachment não ocorrer são grandes. Seria necessário conseguir o apoio de apenas mais seis senadores, disse. Além disso, diz Lula, “Temer cometeu muitos erros”.
“Temer parece acreditar que ficará no poder por 70 anos. Ele trocou o comando de todos os postos importantes, dos ministérios, do Banco Central, da Petrobras. É absurdo”, criticou Lula.
“Se a Dilma de fato voltar, vamos precisar de meio ano para contratar e dispensar gente de novo”, concluiu. A votação sobre o afastamento definitivo de Dilma está prevista para agosto.
Ele apontou uma “sociedade cada vez mais polarizada” e a desaceleração econômica como fatores que levaram ao processo de impeachment.
“Tudo isso se refletiu num parlamento que não apenas bloqueou todos os projetos de lei do nosso governo, mas que também espreitava uma oportunidade de expulsar o PT, depois de quase 14 anos, do poder”, disse. “Parece que a democracia incomoda uma parcela da sociedade”, afirmou, referindo-se às “elites conservadoras.”
Lula afirmou que a mídia, mais especificamente a TV Globo, o taxou de corrupto ao afirmar que ele possui dois imóveis, apesar de ele não ser o proprietário deles. “Eles querem me desmoralizar perante à opinião pública.”
“Um juiz investiga o senhor. O senhor não tem medo de ser preso?”, perguntou a “Der Spiegel”. “Não tenho medo da prisão”, respondeu Lula. “Preocupa-me muito mais o fato de, na nossa democracia, parecer ser possível se tornar uma vítima de mentiras desse tipo.”
“Não tenho medo da prisão. Preocupa-me muito mais o fato de, na nossa democracia, parecer ser possível se tornar uma vítima de mentiras desse tipo”
O ex-presidente afirmou que casos de corrupção estão vindo à tona graças ao PT, que estabeleceu as bases legais para isso nos últimos anos. “A crise é um sinal de que o Brasil avançou na luta conta a corrupção […] Um dia teremos orgulho do que está acontecendo no momento.”
A “Der Spiegel” também abordou a nomeação de Lula para o cargo de ministro-chefe da Casa Civil, em março deste ano, suspensa pela Justiça.
Lula explicou não ter feito nada de errado e destacou que já havia sido convidado por Dilma para assumir o cargo no ano passado. “Eu achava que não havia lugar para dois presidentes no Palácio do Planalto, e recusei”, disse.
Com uma piora da crise, seus aliados o teriam pressionado a tentar “afastar o impeachment”. “Eu não abandono uma companheira somente para salvar minha própria reputação”, afirmou.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações do Deutsche Welle