Partido dos Trabalhadores

“Tinha obsessão em resolver o problema da educação”, diz Lula no RS

Em Palmeira das Missões com Lula pelo Brasil, ex-presidente fala da importância de se incluir o pobre na economia com educação, crédito, educação e distribuição de renda

Ricardo Stuckert

Lula em Palmeira das Missões

A cidade de Palmeira das Missões, no Rio Grande do Sul, recebeu a terceira parada de Lula pelo Brasil pela região sul do Brasil desta quinta-feira (22). Durante a manhã o ex-presidente já havia passado por São Miguel das Missões e depois por Cruz Alta e Panambi

Também participou do ato a presidenta eleita Dilma Rousseff, o ex-ministro Miguel Rossetto, o ex-governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra e o líder do MST, João Pedro Stédile.

Brincando que não gostaria de chamar o povo de “palmeirenses” por torcer para o Cortinhians, Lula explicou como fez a economia do país crescer incluindo o pobre, além de investir em educação. O ex-presidente ainda desafiou seus opositores a tentarem derrotá-lo nas urnas, ao invés de utilizar manobras jurídicas sem fundamento.

“Eu não seria nada se não fosse o crescimento da consciência política do povo brasileiro, do pequeno agricultor, do trabalhador, que acreditaram que suas vidas começariam a mudar se elegessem um igual a eles para governar esse pais, disse Lula ao povo de Palmeira das Missões.

“No começo, eu entendia porque as pessoas não votavam em mim. No começo, eu ia em porta de fábrica e as pessoas pensavam que se eu não tinha estudado, e como elas também não tinham estudado e não se sentiam preparadas para governar o país, não queriam votar em mim”, relembrou.

“Eles tinham medo de votar em um cara que consideravam ignorante, afinal, a literatura dizia que, para ser governo, tinha que ser da elite, tinha que ser letrado. Eu perdi três eleições e já chegava em casa com vergonha da Marisa, falava que não ia concorrer mais, e a Marisa falava ‘nada disso’, pode se preparar que na outra você vai outra vez, até ganhar.”

Segundo Lula, “a diferença entre um de nós e um cara da elite é que tudo que ele sabe é por literatura, tudo que aprendeu foi na universidade. Agora, a vivência de conviver com uma pessoa pobre, de tomar uma cervejinha, ele nunca fez. Ele não tem sentimento pra entender as pessoas”.

“Então, eu pensava que, para mudar esse país, a gente tinha que incluir o povo pobre na economia. Por isso, começamos a criar emprego e, em 12 anos, enquanto o mundo desempregou 100 milhões de trabalhadores, no Brasil criamos mais de 20 milhões de empregos com carteira assinada.”

Lula lembrou que o Brasil foi um fenômeno mundial. “As pessoas não entendiam porque a gente criava tanto emprego, e eu respondia que nós incluímos o povo pobre no orçamento da união. A gente começou além do emprego, a aumentar salário, aumentar salário mínimo, dar crédito. Criamos o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) para ajudar o pequeno produtor a vender. Percebemos que a economia começou a crescer e as pessoas começaram a melhorar.”

“Aí o povo começou a comprar uma televisão, um computador, um sapato melhor, material escolar melhor, roupa de melhor qualidade, a comer melhor, as pessoas deixaram de comer pé de frango e pescoço e passaram a comer coxa e peito. Deixaram de comer carne de terceira e passaram a comer carne de primeira”.

“A economia foi crescendo até que chegamos em 2010 com o PIB crescendo 7%. O resultado dessa política é que as pessoas que ganham bem não dão importância, mas eu tenho o testemunho de uma mulher que criava dois netos e essa mulher era obrigada a comprar um único lápis para que cada netinho fosse para a escola com metade de um lápis. Depois do Bolsa Família, comprava uma caixa de lápis para cada neto não passar vergonha.”

Lula afirmou que, com o PT, as pessoas as pessoas começaram a perceber que era possível mudar de vida. “Esse país começou a crescer, era mais emprego, mais salário, mais renda, mais poder aquisitivo, mais consumo.”

“Quando cheguei na presidência, a indústria automobilística vendia 1 milhão e 700 mil carros por ano. Quando deixamos, em 2010, a indústria auto vendia 4 milhões por ano e isso começou a irritar os mais ricos. Reclamavam que eu estava fazendo o pobre ter carro e eu ficava feliz da vida. No nordeste, o pessoal começou a aposentar o jumento e comprar motoca”, disse.

Lula relembrou os esforços que levaram ao descobrimento do pré-sal. “O pré-sal é obra de investimento, de pesquisa. A gente descobriu a maior reserva de petróleo do século 21 e dizíamos que o pré-sal seria o passaporte do futuro, para investir em educação, ciência e tecnologia.”

“Eu tinha uma obsessão em como a gente ia resolver o problema da educação, como colocar uma pessoa da periferia, de escola pública, para estudar. O filho do trabalhador não tinha como competir com o filho da classe média, porque no vestibular para universidade pública, quem passava era o filho do rico. Aí tinha que ir na escola particular e a mensalidade era cara e a pessoa mais humilde não podia estudar.”

“Resolvemos criar o Prouni. O milagre do Prouni foi isentar as dividas das universidades particulares e transformamos as dividas em bolsas de estudo e começamos a colocar as pessoas da periferia na universidade privada. Era filha de pedreiro, de pequeno vendedor. As pessoas começaram a ter acesso.”

“Na hora que você dá a mesma oportunidade, quando a pessoa toma café, almoça e janta todos dias, não tem rico melhor que pobre. O que a gente vai perceber é que há pessoas mais motivadas ou menos motivadas. As pessoas mais humildes agarraram aquilo como a tábua de salvação. O meu maior prazer é viajar o Brasil e encontrar as pessoas falando que são diplomadas pelo Prouni.”

“Ainda faltava uma coisa, porque havia muitos alunos e poucas vagas. Quando uma aluna de classe média baixa ia na Caixa Econômica, precisava de avalista. Eu decidi com o Fernando Haddad que o avalista do povo pobre seria o tesouro nacional.”

“O Brasil tem dívida ativa de mais de 1 trilhão, de pessoas que pegaram dinheiro e não pagaram, e não era pessoa pequena. Se agente pode financiar um industrial, por que a gente não pode financiar um jovem que quer estudar? Quando a gente investe em estudante a gente está investindo no avanço tecnológico e no futuro do país.”

Lula destacou a importância da educação para que o país um dia possa deixar de ser exportador de commodities como minério de ferro e soja e passar a exportar conhecimento e produtos manufaturados.

“Por isso que em 12 anos colocamos 4 milhões de jovens na universidade. Por isso que Dilma e eu, em apenas 12 anos, fizemos 4 vezes mais escolas técnicas que eles fizeram de 1909 a 2003”, orgulha-se.

“Eu quero que os jovens estudem porque quando você tem uma profissão, você arranja emprego em qualquer lugar do Brasil com salário melhor.”

“E a mulher tem que estudar, porque além de ter um emprego e a profissão, tem uma coisa mais sagrada que é a independência da mulher. O motivo da independência da mulher é que uma mulher não pode viver com alguém a custa de um pedaço de pão. Eu estou dizendo a independência de escolher o que querem ser da vida, e que ninguém dê palpite na vida de vocês.”

Dizendo-se animado, Lula afirmou que quer ser candidato. “Eu descobri que tenho 72 anos, e descobri que estou com energia de 30, e descobri que estou com um tesão de 20. Aí, meu caro, eu estou disposto, se o PT me indicar, a ser candidato à Presidência da República, a provar a essas pessoas que estão lá, mostrar como a gente vai recuperar o crescimento econômico desse pais, como recuperar a soberania e o crescimento, investindo na produção e não vendendo.”

Referindo-se ao processo judicial do qual é alvo, Lula disse que quer provar sua inocência. “Eu vou durar bastante e a única coisa que eu quero provar é a minha inocência. Sou vítima de uma mentira do jornal ‘O Globo’, de uma mentira da Polícia Federal, de uma acusação mentirosa do Ministério Público, e o Moro preferiu contar outra mentira dizendo que o apartamento era meu e ele sabe que não é.”

“A única coisa que quero é os juízes estudarem o mérito do meu processo e, se e tiver uma única culpa, eu não mereço ser candidato porque eu cometi um crime. Agora, eles estão há 4 anos cutucando a minha vida, invadiram minha casa, na casa do Cabral acharam joia, no Geddel acham mala de dinheiro, eles vão na minha casa, levantaram o colchão de um ex-Presidente da República e não encontraram nada. Deveriam ter vergonha e ter pedido desculpa”.

Lula acenou a intenção de fazer um referendo revogatório sobre a PEC do Fim do Mundo ou chamar uma nova constituinte, porque eles rasgaram a constituição de 1988.

“Se eu disputar e perder, eu acatarei o resultado como acatei em 1989, 1994 e 1998. Agora, se querem evitar que eu seja presidente, não façam uma sacanagem, tenham coragem, vamos disputar na urna para ver na urna quem vai ser o Presidente da República desse país. Eles têm que se preparar porque, se eu for candidato, é pra ganhar as eleições no primeiro turno em 2018.”

“Eu quero ganhar para governar esse país, para esse país ser respeitado e acabar com o complexo de vira-lata. Por isso vou precisar da combatividade dessa região.”

“Companheiros, estejam certos de que o Lula de hoje, embora seja mais velho, está mais animado, faz ginástica, toma vitamina. Se um velho há 12 anos atrás governou bem, imagina um jovem de 72 anos!”

Lula e Dilma em Palmeiras das Missões

Dilma: “Defender Lula é defender que o Brasil volte a crescer”

A presidenta Dilma falou que a caravana de Lula é uma caravana de esperança,”de construir um Brasil que saia desse golpe de estado de 2016″.

“Eu vivi dois golpes de estado, o golpe de 1964, aquele golpe militar que instituiu a ditadura. Como todo golpe militar, incluindo aí o golpe parlamentar, o golpe detesta ser chamado de golpe porque a palavra mostra a ilegitimidade, mostra a apropriação do poder sem voto”, afirmou Dilma.

Criticando a atitude do ministro da educação que tentou vetar um curso sobre o golpe na Universidade de Brasília, Dilma relembrou que “apareceram cursos sobre o golpe de 2016 em todo o Brasil. A pergunta é, afinal de contas por que deram um golpe? Por varias razões. A razão mais óbvia eles achavam que se chegassem no poder impediriam que as investigações chegassem até eles e os condenassem. Não foi preciso muito tempo de golpe para que as malas surgissem. Uma porção de malas iam e viam, até surgirem as malas que estavam em um apartamento de um ministro desse governo ilegítimo.”

“Não havia razão para meu impeachment porque nenhum de nós tem conta no exterior, mala andando de baixo para a cima”, defendeu a presidenta, criticando também o caráter machista e misógino do golpe, que utilizou todos os artifícios possíveis contra a mulher que estava na presidência.

“Lula é a única força que eles temem e temem muito. Por isso defender a candidatura de Lula é defender que o Brasil volte a crescer, é defender o nosso patrimônio, é defender o pequeno agricultor familiar, é defender também as mulheres desse pais, é acabar também com o ódio. Nós vamos construir um Brasil que respeite a diversidade”, finalizou a presidenta.

 

Stédile: “Não podemos mais admitir essa crise sobre a classe trabalhadora”

O líder do MST, João Pedro Stédile, afirmou que “o Brasil vive uma crise social, econômica e ambiental que virou crise política. Isso porque a burguesia, para voltar a a aumentar seu lucro, precisava do controle absoluto de todos os poderes. Para isso se articulou para derrubar a legitima presidenta Dilma”.

“Derrubar e articular um plano que joga toda a crise sobre a classe trabalhadora, entregando os nossos recursos. O que ocorreu é que a crise piorou. Chegamos ao ponto que os 6 homens mais ricos do Brasil ganham mais que 108 milhões de trabalhadores.”

“Não podemos mais admitir essa crise sobre a classe trabalhadora”, defendeu Stédile. “E a crise política que eles diziam que bastava tirar a Dilma, piorou porque eles não conseguem se legitimar frente ao povo. De todos os governos da república, esse governo golpista é o que tem menos popularidade. Até os milicos com a ditadura tinham mais popularidade.”

“Aí vem o segundo plano deles. Para ficar mais tempo no poder e completar o plano contra o povo, eles precisam tirar o Lula do campo. Por isso, nesses dois anos fizeram todas as manipulações possíveis para tentar condenar o Lula e prendê-lo. Tentaram em São Paulo e não conseguiram, tentaram em Curitiba e fomos lá, tentaram em Porto Alegre e não deixamos.”

“Estamos aqui para dizer ao Lula que ninguém vai prendê-lo nesse país”, afirmou o líder do MST.

“Eles que tomem juízo porque o único que pode julgar o Lula não é qualquer juiz de tribunal. Quem são esses juízes para julgar o Lula. O único tribunal que queremos é o tribunal do povo, é as urnas. Por isso que vamos lutar, para dia 7 de outubro eleger o Lula presidente da república pela vontade popular”.

“Aqui é um ato regional onde temos muitos companheiros agricultores familiares, sem terra, assentados”, acrescentou João Pedro. “Eles acabaram com qualquer programa de incentivo à agricultura. Mesmo com a exportação de soja, todos sabem que o monocultivo de soja destrói a biodiversidade, destrói a água, e os únicos que se beneficiam são as multinacionais que vendem veneno e maquinas”.

“A verdade é que o estado do Rio Grande está falido por causa do monocultivo da soja que explora nossas riquezas e não paga imposto. A verdade é que se não acabarmos com a Lei Kandir, não teremos dinheiro para pagar os professores. O que está em jogo é o modelo agrícola. Não é só garantir terras para sem-terra, indígenas e quilombolas, mas o debate agora é qual modelo de agricultura queremos para o Brasil, para o futuro”.

“Queremos um modelo baseado na produção camponesa, na produção de alimento sem agrotóxico, que só pode ser cultivado com base na agroecologia. Ao eleger o Lula, estaremos elegendo outro modelo de desenvolvimento para o país.”

“Não basta aqui fazer confissão de fé e jurar lealdade ao Lula. Os bolsonaros já demonstraram do que são capazes. Vamos fazer campanha e esfregar no nariz deles que o único soberano desse país é o povo. Por isso nosso encontro deve ser um compromisso de que vamos arregaçar as mangas e não vamos fazer outra coisa que não seja campanha para eleger Lula presidente”, completou.

Olívio Dutra: “Temos que conversar com todas as pessoas onde estejam. Isso é ser sujeito, e não objeto político”

Olívio Dutra defendeu que cada cidadão deve se considerar sujeito e não objeto da política. “A política não é profissão, uma carreira para os bem nascidos, para os bem postos e endinheirados. A política é da natureza do ser humano. As elites desse país sempre se acharam donas da política, e para nós a política é razão da nossa existência”.

“Nós somos políticos quando nos organizamos nos nossos movimentos, sindicatos, cooperativas, associações, diretórios acadêmicos. Somos políticos sem cargo, mandato ou qualquer outra benesse. Temos no entanto de assumir, de forma integral, militante e cotidiana, essa condição de seres políticos.”

“As elites nos querem como números em estatísticas, como peças nas nossas engrenagens, querem nos humilhar. Tem pessoas envenenadas pelo discurso fascistas, desinformadas pela grande mídia. Tem pessoas cheias de curiosidade. Cada um de nós tem que conversar com todas as pessoas onde estejam. Isso é ser sujeito, e não objeto da política.”

Lula pelo Brasil

A viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos estados do Sul do país, em março, é a quarta etapa de um projeto que deve alcançar todas as regiões do país nos meses seguintes. No segundo semestre de 2017, Lula percorreu todos os estados do nordeste, o norte de Minas Gerais, o Espírito Santo e o Rio de Janeiro.

O projeto Lula Pelo Brasil é uma iniciativa do PT com o objetivo de perscrutar a realidade brasileira, no contexto das grandes transformações pelas quais o país passou nos governos do PT e o deliberado desmonte dos programas e políticas públicas de desenvolvimento e inclusão social, que vem sendo operado pelo governo golpista.

Da Redação da Agência PT de Notícias