Os trabalhadores e trabalhadoras em mineradoras como a Vale, dona da Barragem 1, no Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), que se rompeu no dia 25 de janeiro, estão se articulando para realizar manifestações com o intuito de chamar a atenção da sociedade para os riscos de novos acidentes e cobrar tanto do poder público como da própria mineradora a responsabilidade pelo crime socioambiental, já considerado o maior da história do Brasil.
As primeiras ações serão realizadas já nesta sexta-feira (1º), em todo o país. Em São Paulo, o ato será realizado na Praça da Sé, a partir das 18h. Os sindicatos ligados à Confederação Nacional do ramo Químico (CNQ-CUT) e outras entidades, além de movimentos sociais também farão atos em Porto Alegre (RS), Fortaleza (CE), Altamira e Belém, no Pará, e atividades no Rio de Janeiro, Teresina (PI), Vitória (ES) e no Amapá.
As entidades farão, ainda, uma manifestação no dia 25 de fevereiro, um mês após a tragédia, em Brumadinho e uma reunião no dia seguinte (26), em Belo Horizonte para traçar uma estratégia de ações em solidariedade e apoio às vítimas.
Segundo Lucineide Varjão, presidenta da CNQ-CUT e integrante do conselho da IndustriALL Global União, sindicato global de trabalhadores em indústrias, o objetivo é discutir a situação tanto da tragédia em Brumadinho como a condição de outras barragens que apresentam riscos, grande parte delas em Minas Gerais, além de planejar ações no enfrentamento à Vale.
Lucro e exploração
A presidenta da CNQ-CUT, Lucineide Varjão, a Lú, explica que a mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras tem como argumento principal a precarização do trabalho, ocasionada tanto pela reforma Trabalhista do ilegítimo Michel Temer, que possibilitou a ampliação da terceirização, inclusive no setor, quanto pela privatização da empresa que só visa o lucro.
A falta de segurança no trabalho também é apontada pela dirigente como uma grave violação aos direitos da Vale, que construiu o refeitório e a área administrativa abaixo de barragem.
“É inimaginável construir um refeitório ou qualquer espaço administrativo, de grande concentração de trabalhadores da empresa, em um local como era em Brumadinho, abaixo da barragem”.
Por causa desse descaso da empresa, “os trabalhadores foram as primeiras vítimas da tragédia”, diz Lu Varjão, que acrescenta: “Se não ficarmos atentos e fizermos as denúncias, haverá mais tragédias no Brasil e para evitarmos, vamos reivindicar que os trabalhadores tenham um mínimo de segurança no local de trabalho”.
Para ela, tanto a precarização quanto a falta de segurança no trabalho são frutos do “entreguismo das riquezas brasileiras ao capital e da ambição desenfreada pelo lucro”. E a dirigente lembra que tanto o movimento sindical quanto os movimentos sociais denunciam isso há anos.
Na Vale, o lucro está acima da vida
Para a presidenta da CNQ-CUT, a prova de que, para a Vale, o lucro está acima de tudo, inclusive da vida dos trabalhadores e trabalhadoras, são os resultados do balanço da empresa no ano passado.
No terceiro trimestre de 2018, a Vale apresentou lucro de R$ 8,3 bilhões e distribuiu US$ 1,142 bilhão em dividendos. Registrou recorde de produção e venda de minério de ferro e pelotas de julho a setembro, chegando a 104,9 milhões, alta de 10,3% em relação ao mesmo período de 2017.
Foi para isso que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso privatizou a empresa, em 1997? questiona Lu Varjão, complementando que a privatização alterou o direcionamento da empresa.
Precarização sem custo para o bolso do governo
A dirigente da CNQ-CUT afirma que a partir de agora, de acordo com a postura e a promessa de privatização de estatais já feitas pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL), a expectativa é de mais precarização do trabalho e mais luta da classe trabalhadora.
Ela lembra que Bolsonaro também afirmou que o governo federal não tem relação com a questão da Vale, mas foi o próprio governo que desarticulou o Ibama e aparelhou o Ministério do Meio Ambiente para acelerar a exploração de minério. Bolsonaro falou sobre acabar com a “festa” das licenças ambientais que atrapalham as obras.
A fala foi veiculada por meio das redes sociais, no dia 1° de dezembro, quando ele ainda não havia tomado posse. Em outro “’pronunciamento”, no dia 9 de dezembro, Bolsonaro falou em extinguir um programa de conversão de multas em projetos de recuperação ambiental. Durante a gestão do ilegítimo Temer (MDB), as multas aplicadas a mineradoras que cometem infrações ambientais já haviam sido reduzidas a valores irrisórios.
Lú Varjão, da CNQ, reforça que o enfrentamento é inevitável e os trabalhadores da mineração estão mobilizados em todo o país. “É preciso haver união para organizar os trabalhadores da mineração para que possam resgatar sua dignidade. Lutar por direitos como toda a classe trabalhadora e por mais respeito das mineradoras como a Vale”, afirma.
As entidades
A indústria de mineração no país emprega cerca de 165 mil trabalhadores (extração de carvão, minerais metálicos e minerais não-metálicos).
A CNQ-CUT tem 13 entidades filiadas relacionadas ao setor de minério que representam juntas pouco mais de 17 mil trabalhadores. A entidade participou da fundação da Federação Interestadual de Trabalhadores nas Indústrias de Extração, Pesquisa e Prospecção de Minérios e Metais Básicos, Metálicos e Não Metálicos da CUT (FITEM), em 2015, e tem atuado na organização sindical do setor, inclusive, por meio de intercâmbios internacionais.
Entre os sindicatos da categoria filiados à CNQ/CUT há trabalhadores da Vale representados pelos sindicatos de Metabase de Carajás, no Pará, e Sindicato dos Trabalhadores na Pesquisa e Extração de Minérios do Rio de Janeiro. Até o ano passado haviam também trabalhadores no Sindicato de Trabalhadores em Extração de Minérios de Sergipe, mas a planta da Vale foi vendida para a empresa Norte-Americana Mosaic.
Por CUT