O debate sobre os efeitos da pandemia do coronavírus ganha contornos ainda mais assustadores em países como o Brasil, onde a disparidade econômica faz aumentar a angústia das camadas mais pobres do país.
Paralela à iminente ‘luta de classes’ promovida pela crise que assola o mundo, há ainda outro tema que, até mesmo para os campos progressistas, ainda parece à margem do problema: o sistema carcerário brasileiro está preparado para lidar com a pandemia?
Para esmiuçar esta questão, a TV PT convidou para a edição noturna desta segunda-feira (30) duas personalidades do campo jurídico: o ex-ministro da Justiça (governo Dilma) José Eduardo Cardozo e a advogada e membra da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP.
É Sheila, por sinal, quem oferece a epígrafe ao certeira ao debate: “Há uma frase do Nelson Mandela que acho muito pertinente para este momento que é: se você quer conhecer a verdadeira realidade de um país é preciso olhar para os seus cárceres. No Brasil, a primeira pergunta é quem de fato está sendo preso. Há uma população majoritariamente negra ou da baixa hierarquia econômica que ocupa os presídios do país. O problema já começa por ai”.
Sobre a possibilidade de a crise de saúde pública atingir em cheio não só os presidiários como todo o seu entorno familiar. “É preciso lembrar que quem está preso acaba por prender todas as pessoas ao redor junto com ele. Então, é preciso imediatamente pensar na possibilidade de haver impactos drásticos da pandemia caso não haja um debate sério urgente”
Com vivência de sobra em lidar com crises, Cardozo recorda dos tempos em que toda a estrutura do governo federal agia em conjunto. “Em todas as crises o ministro da Justiça era chamado no passado. A ausência de sensibilidade do Ministério da Justiça hoje é total. Com a pandemia posta a pergunta que eu faço é: onde está Sergio Moro?”, questiona.
Para o ex-ministro ainda relembra dos tempos em que, qualquer que fosse a crise, todos os ministros tinham necessariamente de agir em conjunto. “Houve momentos em que participamos de reunião com todas as linhas do governo, inclusive as forças armadas. Isso é governar, integrar, coordenar e planejar. Bolsonaro faz o oposto. Assuma o seu papel, convoque seus ministros, siga as orientações técnicas. É isso que um presidente tem que fazer”.
Da Redação da Agência PT de Notícias