BRICS era uma sigla criada pelo economista Jim O’Neill no distante 2002 para se referir ao Brasil, Rússia, Índia e China, depois incorporando a África do Sul. Quando ele fez este estudo queria apenas se referir a cinco economias emergentes no mundo, com potencial de influenciar os rumos do planeta.
Isso porque, entre 2003 e 2007, o crescimento destes países representou 65% da expansão do PIB mundial. Para dar uma ideia do ritmo de crescimento desses países, em 2003 os BRICs respondiam por 9% do PIB mundial, e em 2009 esse valor aumentou para 14%. Em 2010, o PIB conjunto dos cinco países (incluindo a África do Sul), totalizou US$ 11 trilhões, ou 18% da economia mundial.
A ideia levantada por Jim foi o embrião de um grupo político de cooperação, que passou a tentar coordenar ações comerciais, chegando a nível político nos organismos como a Organização Mundial do Comércio e ONU, apesar de grandes diferenças internas. A sigla, então, passou a ser amplamente usada como um símbolo da mudança no poder econômico global, quando as economias desenvolvidas do G7 começaram a entrar em recessão. Foi nesta época que, quando os economistas tradicionais falavam em “crise mundial”, outros, mais críticos, passaram a deixar claro que isto era um erro. Que a América Latina, a Ásia, a África, na verdade, cresciam.
Os BRICS passaram a ganhar cada vez mais importância nos diálogos diplomáticos entre estes países pois, com o avançar da crise explodida em 2008 que, como disse o ex-presidente Lula, atingiu o Brasil apenas como uma marolinha, os países desenvolvidos passaram a querer impor acordos cada vez mais duros para poderem retomar seu crescimento às custas do restante do mundo. Foi desta forma que a antiga sigla passou a ser uma nova referência internacional como alternativa ao modelo neoliberal que, no dito Primeiro Mundo, seguia cortando direitos, salários e empregos.
Neste período, as semelhanças entre os países dos BRICS começaram a ter mais importância do que as diferenças. A principal delas era justamente o modelo de desenvolvimento que os fazia um grupo de nações emergentes que mantiveram taxas de crescimento razoáveis (ou recordes, como a China) e conseguiam reverter mazelas históricas recentes, como no caso da Rússia, na condição social de suas populações.
O grupo, assim, passou a ser fontes de estudos notáveis no meio econômico. Em 2005, o México e a Coreia do Sul foram considerados “candidatos à BRICS”, mas suas economias foram inicialmente excluídas por serem consideradas mais desenvolvidas, uma vez que já eram membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Só que a OCDE era justamente o grupão de nações capitaneadas pelo G7 em crise, por causa da decadência neoliberal. É na OCDE que as receitas de FMI e Banco Mundial são gestadas e, através da cultura que a permeia, um sentimento de pertencimento aos países do “primeiro time”, impostas às nações desta classificação que só considerados “desenvolvidos” para caírem neste conto do vigário e manterem-se quintais dos interesses de EUA, União Européia e Japão.
Esta semana, após a vitoriosa #CopadasCopas, o mundo assiste ao histórico lançamento do Banco e do Fundo dos BRICS, na prática a inauguração da Nova Ordem Mundial tão sonhada. Com Banco e Fundo, mesmo, como disse a presidenta Dilma, “não sendo contra ninguém”, há uma alternativa real aos países emergentes, em desenvolvimento ou ainda muito subdesenvolvidos. E por que esta alternativa? Porque por anos o FMI e o Banco Mundial não atenderam os apelos por mais democracia interna, para ser menos draconianos com os povos. Hoje, a Europa sofre gravemente os efeitos destas instituições, enquanto nós, sul-americanos, por exemplo, nos livramos delas e protagonizamos este belo momento para ser contato às gerações futuras.
As instituições criadas pelos BRICS serão coerentes e vão se concentrar em promover o modelo de desenvolvimento que deu certo, calcado na combinação entre crescimento e redução da desigualdade. O Fundo socorrerá os países, não para arrocharem suas economias e privatizarem serviços públicos, e sim para ampliar o financiamento do papel do Estado como indutor do desenvolvimento. O Banco dos BRICS será o oposto do Banco Mundial, estruturando linhas de crédito para a produção industrial com valor agregado, obras de integração logística, fortalecimento da governança com viés distributivo de renda e riquezas, entre outros.
Com a união formalizada, já que serão oficialmente sócios, estes instrumentos serão oferecidos como alternativas progressistas e anti-neoliberais para a América Latina, Eurásia e África.
Como brasileiros devemos nos orgulhar, pois foram as mudanças que há doze anos implementamos em nossa economia que permitiram, primeiro, nos tornar um BRICS e, segundo, estar na liderança deste novo mundo que nasce.
Anne Karolyne é secretária nacional de Desenvolvimento Econômico e Sustentável do PT