A atuação dos integrantes da operação Lava Jato fez o Estado brasileiro deixar de arrecadar R$ 105 bilhões em impostos entre 2015 e 2019 – valor quatro vezes maior do que tudo o que a força tarefa alega ter recuperado. Uma em cada cinco empresas investigadas faliu, e 1,3 milhão de trabalhadores perderam seus empregos em decorrência do modelo de atuação da lava jato.
Hoje, o Tribunal de Contas da União (TCU) estima que mais de 14 mil obras financiadas com recursos federais estejam paralisadas no país, como consequência das sanções aplicadas após a operação. E o orçamento do governo federal para infraestrutura caiu 60% – de R$ 114 bilhões em 2012 para R$ 43 bilhões neste ano.
Os números fazem parte do estudo ‘A crise da indústria brasileira de construção pesada e seus impactos’. O levantamento, encomendado pelo Sindicato das Indústrias da Construção Pesada (Sinicon), foi obtido com exclusividade pelo Jornal da Band.
Este é o segundo estudo promovido sobre os impactos econômicos da lava jato. Em março do ano passado, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apresentou seu relatório ‘Implicações econômicas intersetoriais da operação Lava Jato’, com dados ainda mais abrangentes e expressivos.
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As duas pesquisas, no entanto, apresentam um aspecto em comum: a crítica ao modus operandi adotado pelo então juiz Sérgio Moro e demais integrantes da força tarefa. “A lava jato, como um modelo de combate à corrupção, como técnica, operou de maneira irresponsável, porque não distinguiu a empresa do empresário”, afirmou o advogado Walfrido Warde ao Jornal da Band.
“O estudo do Dieese foi um trabalho de alta complexidade, que mostra os impactos que a operação causou nos empregos e na economia brasileira, com a exposição total das marcas de grandes empresas nacionais”, afirmou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre, durante a live de lançamento do estudo.
“Desde o início dessa operação, em 2014, nós já dizíamos que empresas não cometem crimes, pessoas sim. E são elas que têm que ser investigadas e punidas. Não as empresas”, prosseguiu Nobre. “A lava jato expôs essas grandes construtoras nacionais e a Petrobrás, que ficou marcada como um símbolo de corrupção”, finalizou.
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Museu reúne documentos sobre o lawfare movido contra Lula
Para o presidente da CUT, “em vez de fazer seu papel de investigar, comprovar e punir os responsáveis pela corrupção, a operação destruiu empresas e empregos ao politizar, partidarizar, agir de forma seletiva e se desviar dos rumos e objetivos das investigações”.
A principal vítima das arbitrariedades da lava jato é Luiz Inácio Lula da Silva, que Moro mandou prender em abril de 2018, levando à eleição de Bolsonaro. Nomeado ministro da Justiça em 2019, o ex-juiz foi desmoralizado no mesmo ano pelo escândalo da Vaza Jato, desencadeado pelo portal The Intercept ao revelar conversas comprometedoras entre ele, o então promotor Deltan Dallagnol e outros integrantes da força tarefa.
Por anos Lula vem lutando nos tribunais para provar que foi vítima de perseguição, o chamado lawfare. A mais recente, e 26ª, vitória judicial foi obtida em agosto, quando a 10ª Vara Criminal do Distrito Federal arquivou denúncia que criminalizava a nomeação para ministro da Casa Civil durante o governo da então presidenta Dilma Rousseff.
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Também em agosto foi lançado o Museu da Lava Jato (MLJ). A iniciativa reúne historiadores, juristas e jornalistas para registrar a sucessão de fatos da “operação que passou de uma iniciativa de grande apelo popular para um escândalo internacional a partir do conluio entre procuradores e o magistrado”, descreve a nota de apresentação.
O acervo digital reúne documentos e registros da Vigília Lula Livre, tomados durante os 580 dias de prisão de Lula em Curitiba. Por enquanto, o museu poderá ser visitado em ambiente virtual, mas há a expectativa de criação de um espaço físico, que pode ser inaugurado até 2024.
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No fim do mês passado, Lula ainda ouviu do apresentador William Bonner, durante entrevista ao Jornal Nacional, a frase “O senhor não deve mais nada à Justiça”. O Jornal Nacional e demais emissoras que formam a chamada mídia corporativa foram um “suporte relevante” para a consolidação do golpe contra Dilma Rousseff, em 2016, e para a eleição de Bolsonaro, afirma a jornalista e linguista Eliara Santana em seu livro ‘Jornal Nacional: um ator político em cena’.
Lula: “Lava Jato foi invenção que enganou imprensa e causou mal ao Brasil”
No início de 2022, como parte das comemorações de seu aniversário de 42 anos, o Partido dos Trabalhadores lançou a história em quadrinhos ‘Lula: da perseguição à esperança renovada’, adaptação do livro ‘Memorial da Verdade: porque Lula é inocente e porque tentaram destruir o maior líder do Brasil’, do jornalista Ricardo Amaral.
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Em abril, durante entrevista à rádio Lagoa Dourada FM, da Rede T do Paraná, Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a lava jato foi uma invenção que enganou a imprensa e causou mal à história e ao desenvolvimento do Brasil.
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“Você pode combater corrupção prendendo alguém que roubou”, argumentou Lula. “O que não pode é destruir todo um sistema produtivo, a indústria naval, a indústria de óleo e gás, a indústria de engenharia e a Petrobrás, que perdeu valores na Bolsa por causa de tantas denúncias, quando você poderia ter prendido quem roubou e deixado a empresa com seus contratos funcionando normalmente”.
“Depois que passou tudo isso, todos os meus processos caíram porque o juiz foi considerado suspeito”, continuou Lula. “Se alguém comete erro, esse alguém é punido. O que não pode é você acusar alguém de um erro que não cometeu. Isso é que é o grave. Qual é a punição que recebe um cidadão que te acusa de ladrão, que destrói sua família, que destrói uma biografia que você construiu?”
Lula poderá ter uma resposta em seu próximo aniversário – 27 de outubro. Nesse dia vence o prazo dado ao governo brasileiro pelo Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) para reparar todos os danos causados a Lula. Na decisão, que reconheceu a parcialidade de Sergio Moro nos processos contra o ex-presidente, o órgão também determina a adoção de medidas para evitar violações similares a qualquer outro cidadão, e exige que o Brasil traduza, publique e divulgue amplamente o conteúdo da decisão enviada à defesa de Lula e ao governo federal.
Da Redação