A alta demanda por leitos de UTI para pacientes com Covid-19 continua o manter o sistema de saúde sob forte pressão. Nesta semana, pelo menos dez capitais e o Distrito Federal têm uma taxa de ocupação acima de 90% na rede pública, aponta um levantamento da Folha de S. Paulo. De acordo com o jornal, Curitiba apresenta o cenário mais desesperador, com 101% de UTIs lotadas. Logo atrás, aparecem Aracaju e Palmas, com 97%.
O quadro sanitário indica que, com quase meio milhão de mortos, o país já vive uma terceira onda da pandemia. Nesta quarta-feira (16), o Brasil voltou a registrar uma média móvel de mortes acima de 2 mil óbitos. O número havia sido atingido pela última vez no dia 10 de maio.
Mas não é só. Além das 2.997 mortes acumuladas nas últimas 24 horas, o número de novas infecções por Covid-19 também é explosivo: nada menos do que 95,2 mil contágios foram registrados no país, o maior número desde 1º de abril, o auge da segunda onda do surto. Desde o início da crise sanitária, o país acumula 493.693 mortes e 17,6 milhões de casos confirmados.
A taxa de transmissão do vírus desta semana, medida pelo Imperial College de Londres, confirma o descontrole da pandemia. Está em 1,07, o que significa que 100 pessoas contaminam, em média, outras 107.
Brasil volta a ser líder no ranking de mortos
Na última edição do podcast Diário do Front, veiculado pelo jornal El País, o neurocientista Miguel Nicolelis alertou que o país está permitindo uma aceleração da terceira onda de infecções. E chamou a atenção para o alarmante fato de que o Brasil voltou a liderar o ranking de países com mais mortos. “Já somos, de novo, o país que mais mata pessoas no mundo na pandemia”, advertiu o cientista.
Apesar de ter menos de 3% da população mundial, o país concentra por volta de 25% dos óbitos diários por covid-19 no planeta. O cientista traçou um paralelo entre os quadros sanitários de EUA e Brasil, a partir do número de mortos.
Enquanto em janeiro, os EUA tinham quase 286 mil mortos a mais que o Brasil, em junho o número despencou para cerca de 100 mil óbitos, apontou Nicolelis. “A nossa diferença vem caindo dramaticamente em relação ao país que mais mortos teve no mundo, um país que tem pelo menos 50% a 60% mais habitantes que o Brasil”, explicou.
“É como se Florianópolis sofresse um ataque nuclear e toda a população da cidade, por volta de 500 mil habitantes, desaparecesse num piscar de olhos”, comparou Nicolelis, no podcast, em referência ao total de óbitos.
Covid longa ou crônica
O jornal americano New York Times divulgou um estudo preocupante sobre os efeitos a longo prazo em pacientes recuperados da infecção por Covid-19. De acordo com o levantamento, feito com quase 2 milhões de pessoas, divulgado nesta quinta-feira (16), milhares de americanos passaram a desenvolver problemas graves de saúde não identificados antes da doença.
A pesquisa revelou que cerca de 23% dos americanos recuperados – de todas as idades, incluindo crianças – procuraram tratamento médico para novas doenças, a partir do primeiro mês após a cura. Entre os novos problemas de saúde mais comuns, dores nos nervos e músculos, dificuldades respiratórias, colesterol alto, fadiga e hipertensão.
“Uma coisa que nos surpreendeu foi a grande porcentagem de pacientes assintomáticos que estão nessa categoria de Covid longo”, afirmou ao jornal o presidente da FAIR Health, Robin Gelburd, que conduziu o estudo.
“Tudo o que você possa imaginar [de doenças] está sendo descrito como consequência dessa infecção crônica em pacientes que nem sabiam, inicialmente, que tiveram Covid”, comentou Nicolelis, sobre o estudo. “Esse é um vírus para não pegar, para não entrar em contato”, advertiu.
Copa América
Nicolelis também voltou a condenar a realização da Copa América no país, em meio a uma situação de absoluto caos sanitário. “Uma competição que, em 24 horas, revelou 41 casos de pessoas infectadas”, criticou. Ele advertiu para o risco de o torneio se transformar em um “super spreader”, termo em inglês que é associado a uma transmissão em massa em eventos públicos.
“Enquanto isso ocorre, continuamos sem vacinas suficientes”, declarou. “Precisaríamos ter 2 a 3 milhões de doses diárias [aplicadas]”, lamentou Nicolelis.
Da Redação, com informações de El País e NY Times