No município de São Leopoldo, região metropolitana de Porto Alegre, a catástrofe ambiental que se abateu sobre o Rio Grande do Sul é sentida em dimensões superlativas, notadamente pela população mais vulnerável. A lama, os destroços pelas ruas, as 34 mil casas debaixo d’água, o desespero e o desalento compõem o cenário de devastação que afeta severamente a vida de 180 mil leopoldenses. “Essa é uma tragédia que nós nunca vimos”, lamenta o prefeito da cidade, Ary Vanazzi (PT).
Em entrevista concedida ao Jornal PT Brasil, da TvPT, nesta segunda-feira (20), ele falou sobre a situação em São Leopoldo e as medidas adotadas para mitigar as consequências das fortes chuvas. A população já havia encarado duas enchentes desde 2023, nada assemelhado, entretanto, à atual calamidade climática. “Se perdeu tudo, não se tem mais nada dentro de casa, na nossa cidade. Então, é uma situação dramática e reverter uma situação dessa é sempre muito complicado”, antecipou Vanazzi.
Mais de 100 mil pessoas seguem desalojadas e outras 13 mil estão em abrigos públicos organizados pela prefeitura. “A população está sofrendo muito, porque já estamos há 15 dias com a população fora de casa. E isso eleva ainda mais a preocupação e também a situação de desespero. Além de perder tudo, tem o problema de perder o emprego, de perder as questões que fazem parte da sua comunidade. É um momento muito triste, muito difícil”, desabafou o prefeito de São Leopoldo.
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De acordo com Vanazzi, 18 escolas do município foram arrasadas pelas águas, o que representa atraso na educação de 10 mil estudantes. As enchentes destruíram também nove postos de saúde. “O governo federal nos deu uma força-tarefa do SUS, um hospital de campanha que nos ajuda um pouco. Agora é um recomeço.”
Reconstrução e prevenção
Na percepção do prefeito de São Leopoldo, as medidas tomadas pelo governador Eduardo Leite (PSDB), até agora, estão aquém das necessidades do Rio Grande do Sul. Para Vanazzi, a crise humanitária a que os gaúchos estão submetidos representa uma janela de oportunidade à restruturação mais ampla do estado. “O governo lançou um ou dois programas aqui, que são importantes, mas que são insignificantes frente à grande destruição que o estado enfrentou”, argumentou.
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“Se o estado não aproveitar esse momento, juntar toda a sociedade gaúcha, desde empresários, movimentos sociais, trabalhadores autônomos, se não juntar a sociedade que pensa a ciência, a tecnologia, e fizer um grande movimento de aglutinação dessas principais ideias, sugestões, desafios, eu acho que nós não saímos da crise e nos aprofundamos na crise que o estado vive já há muitos anos”, avaliou.
Os níveis de água em São Leopoldo seguem baixando graças ao trabalho conjunto entre a prefeitura e o governo federal: os diques de contenção estão recuperados e sistemas de bombeamento foram instalados para reduzir o volume. As medidas emergenciais, adotadas de maneira célere, vão permitir, ao menos, que as famílias retornem às suas casas em breve, espera Vanazzi.
“Nós vamos ter muito trabalho, primeiro porque são 35 mil famílias que vão jogar tudo fora o que têm dentro de casa. Elas perderam sua história, perderam suas lembranças, perderam suas relações comunitárias, perderam as coisas materiais, não tem geladeira, não tem fogão, não tem mais nada dentro de casa”, explicou o prefeito. O mutirão de limpeza da cidade está orçado em R$ 70 milhões.
Volta do republicanismo
Desde que se desencadeou a crise humanitária no Rio Grande do Sul, o governo Lula se fez presente no apoio e na solidariedade ao povo gaúcho. Além de comparecer três vezes ao estado em menos de 15 dias, para acompanhar de perto os estragos produzidos pelas enchentes sem precedentes, o presidente anunciou a liberação de mais de R$ 50 bilhões em socorro à população. Vanazzi elogiou a volta do republicanismo e da empatia à Presidência do Brasil nesse momento delicado.
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“Eu vivi a tragédia do covid, em que o presidente anterior vivia de jet ski, passeando, não tinha compromisso nenhum com as cidades. E hoje há uma mudança na postura da Presidência da República, do Lula em especial, extremamente significativa e importante, que remete à possibilidade objetiva de fazer com que a gente possa ter esperança de recuperar”, afirmou o prefeito gaúcho.
O ministro da Defesa, José Múcio (PRD-PE), realiza visita a São Leopoldo, nesta segunda, para vistoriar as estruturas montadas pelo Exército Brasileiro (EB) no município da Grande Porto Alegre. “Há uma relação muito séria, muito responsável, uma relação de compromisso com as pessoas que estão sofrendo”, reconheceu Vanazzi.
“Acho que essa mudança de postura (…) dá condições para a gente também se planejar, se estruturar, do ponto de vista político e econômico, em processo de longo prazo, a recuperação dos nossos municípios, a recuperação das nossas cidades e do nosso estado do Rio Grande do Sul. Isso é extremamente significativo, importante, nos conforta saber que a gente pode bater em uma porta e a porta se abrir”, acrescentou.
Vanazzi agradeceu ainda o trabalho e a sensibilidade de voluntários Brasil afora e condenou a divulgação de notícias falsas. “São nesses momentos de tragédia que a gente percebe o quanto o país, e as pessoas que vivem nesse país, tem o sentimento de solidariedade, sentimento de carinho, de compromisso com a vida, com o conjunto. É um núcleo pequeno que atrapalha muito, da extrema-direita, das fake news.”
Da Redação