A maioria da população brasileira considera que foi justa a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta terça-feira (10). O apoio à sua soltura chega a 54% da população, e é maior entre a faixa de 16 a 24 anos e de entrevistados com escolaridade de nível fundamental, somando 61% nessas segmentos. Já 42% consideram injusta a saída do ex-presidente da prisão. Entre os que têm renda mensal acima de 10 salários mínimos, a reprovação à libertação é de 59%. Na pesquisa, 5% disseram não souberam responder.
Os números representam uma inversão em relação à percepção da população em julho, quando 54% acreditavam que a prisão de Lula era justa e 42%, injusta. Para o cientista político Wagner Romão, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os resultados da pesquisa mostram que “parte considerável da população passou a perceber que houve sim um processo judicial calcado por abusos”, que culminou com a prisão do ex-presidente.
Em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, Romão atribuiu a mudança do sentimento da população às revelações trazidas pelo The Intercept Brasil, no conjunto de reportagens conhecido como Vaza Jato, que demonstrou o conluio formado entre os procuradores da força-tarefa da Lava Jato e o então juiz Sergio Moro e a série de irregularidades processuais cometidas com a finalidade de colocá-lo na prisão. Outro fator importante, segundo Romão, foi a campanha Lula Livre, que também denunciou os abusos cometidos por Moro e pela Lava Jato e angariou apoios expressivos entre setores da sociedade civil – como juristas e artistas –, dos movimentos sociais e sindical.
O descontentamento com o governo Bolsonaro também interferiu nessa mudança de percepção. “Solto, Lula tem capacidade de articular o campo político das esquerdas e buscar eventual diálogo com os partidos de centro, e deve desempenhar importante papel nas eleições municipais de 2020”, afirma Romão.
Segundo o cientista político, os mais jovens e mais pobres estão percebendo que o “modelo bolsonarista” de governo não lhes servem, devido a fatores como o elevado desemprego e o misto de violência urbana e policial em que as cidades estão mergulhando, por isso o apoio à soltura de Lula, que representa uma alternativa ao atual modelo. Do contrário, a maior parte da elite se vê “resguardada” dos impactos econômicos negativos e se sente “protegida” pelo discurso do armamentista e punitivista do governo Bolsonaro, e teme perder parte dos seus privilégios em um possível retorno dos petistas ao governo.