O óleo que atinge as praias do litoral do Nordeste desde o dia 30 de agosto já comprometeu a produção de ostras na cidade de Porto de Pedras, na faixa litorânea norte de Alagoas. De acordo com a Associação Mariostra, 2.500 sementes que estavam em período de reprodução no rio Manguaba foram perdidas por conta da tragédia ambiental. Só em Alagoas, outras 13 cidades também foram atingidas. O Instituto do Meio Ambiente (IMA) do estado informou que 726 toneladas de óleo misturadas com areia contaminada foram retiradas até o momento das praias.
Em entrevista à jornalista Nahama Nunes, da Rádio Brasil Atual, a presidenta da Associação Mariostra, Edmara Lara, conta que o desastre ambiental destruiu toda a produção de ostras desenvolvida com exclusividade pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) para as pequenas produtoras do município.
“A expectativa dos associados – que são 22, mas estavam em atividade apenas 13 porque a gente estava aguardando novas sementes e novas mesas para poder abrigar o restante da comunidade – era de entrar nessa temporada de férias, quando vem o pessoal de fora para cá, para poder suprir toda essa demanda. Porque você fala em ostra e todo mundo quer e agora nosso sonho foi por terra, não temos condição de comercializar absolutamente nada”, lamenta a presidenta.
Segundo Edmara, os danos ambientais provocados pelo derramamento do óleo são imensuráveis, e outras produções podem ser destruídas, prejudicando ainda o sustento das famílias locais. “Se ficar constatado realmente o problema, que é muito provável que aconteça, do envenenamento da água, não é só ostra não. Ali no mangue tem siri, caranguejo, quer dizer, isso tudo está condenado. Nós estamos falando de ostra porque o impacto do óleo, daquelas manchas, foi em cima delas”, relata Edmara. “Mas nós estamos dentro da APA (Área de Proteção Ambiental) Costa dos Corais, a segunda maior reserva de corais no mundo, e justo numa área de preservação de tão grande importância aconteceu um negócio desse”, lamenta.
O diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Sustentabilidade (IABS), entidade que apoia pescadores, marisqueiras e maricultores em algumas comunidades no estado de Alagoas, Tadeu Assad, destaca que a produção local é garantida por pequenos produtores, familiares, em sua maioria mulheres, uma maricultura “muito social” e desprotegida na legislação.
À Rádio Brasil Atual, o diretor-presidente afirma que a entidade irá identificar os impactos imediatos e futuros, garantir segurança ao consumidor na comercialização das ostras, além de também se comprometer a buscar medidas de indenização aos produtores para que possam reestruturar o cultivo de ostras.
Desde que o vazamento atingiu as praias de Alagoas, voluntários se uniram para limpeza do local. Edmara ressalta que é preciso agir com rapidez para conter os estragos provocados pelo vazamento. “Tem que lembrar que isso já está acontecendo há 50 dias”, critica. A Justiça Federal alagoana já concedeu liminar determinando que o governo de Jair Bolsonaro adote com urgência medidas para diminuir os danos ambientais causados pelo óleo no estado sob pena de fixação de multa.