Sem ter qualquer explicação para apresentar à sociedade e à mídia brasileira sobre o escândalo envolvendo funcionários do gabinete do irmão e do pai, Eduardo Bolsonaro foi ao Chile para fazer o que nem os próprios chilenos têm coragem de fazer publicamente: elogiar o ditador Augusto Pinochet, condenado por crimes contra a humanidade e por atos de corrupção que causaram, inclusive, a prisão da sua viúva e dos cinco filhos do casal, em 2007.
O filho do presidente eleito – que não soube explicar o que está por trás do esquema de Fabrício Queiroz, ex-funcionário do irmão, o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro – visitou a capital chilena na semana passada para se encontrar com expoentes da extrema-direita e saudosistas de Pinochet.
O líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), criticou a apologia ao genocida chileno feita pelo parlamentar brasileiro. “Isso é uma vergonha para o Brasil perante o mundo democrático. Nem no Chile as pessoas têm coragem de defender publicamente o Pinochet. Mesmo os saudosistas da ditadura têm o mínimo de bom senso e por isso têm vergonha de elogiar um genocida, mas parece que isso não é problema para a turma do Queiroz. Aliás, será que o Queiroz não está por lá também, já que ninguém o encontra aqui no Brasil?”, indagou Pimenta.
Economia
Eduardo Bolsonaro também elogiou, em sua visita, a economia do Chile e o sistema de previdência do país. Segundo ele, em entrevista ao jornal La Tercera, o Chile hoje vê “os frutos de sua reforma nas aposentadorias, na economia” e que isso tem “muito a ver com o que aconteceu nos anos 80”. O deputado do PSL diz que “agora também temos o nosso Chicago Boy, que é Paulo Guedes”, e que, trinta anos depois, o Brasil “vai tentar fazer o que o Chile fez nos 80”. Embora tenha dado tais declarações, na mesma entrevista Eduardo Bolsonaro esclareceu que não tem “profundo conhecimento da situação do Chile”.
Para o deputado Enio Verri (PT-PR), o desconhecimento da história chilena, inclusive na área econômica, levou Eduardo Bolsonaro a cometer graves equívocos. “O Chile é um dos países com uma das mais altas taxas de suicídio entre idosos no mundo e isso é resultado direto do sistema de previdência criado por Pinochet, que hoje faz com a média das aposentadorias seja equivalente a 694 reais. É por isso que nem o atual presidente Sebastián Piñera defende esse modelo, que está prestes a ser reformado”, explica Verri, que é professor licenciado de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
“Na economia, a mentira é ainda maior. O crescimento médio do PIB chileno nos 17 anos da ditadura Pinochet foi de 1,6%, enquanto nos 17 anos após o fim do governo militar a média de crescimento foi de 4,36%. Esses são dados públicos. Portanto não faz nenhum sentido fazer elogio à política econômica de Pinochet, já que foi no período democrático que ocorreu um crescimento sólido e sustentável”, argumenta o parlamentar paranaense.
De acordo com o senador Alejandro Navarro, do partido País Progressista, Eduardo foi ao Chile para “dar curso de fake news”. Navarro é autor de um projeto de lei que pune com prisão e perda de mandato os políticos que difundirem mentiras nas campanhas eleitorais. A proposta já é conhecida no país como “Lei Bolsonaro”.
No Twitter, Pimenta reforçou a crítica de Navarro e relacionou a agenda internacional de Eduardo Bolsonaro ao esquema fraudulento que permitiu a vitória de Bolsonaro na eleição presidencial. “O clã em silêncio fúnebre sobre o motorista sumido. Mas um dos filhos foi ao Chile dar curso de fake news – ou seja, ensinar como fraudaram a eleição com esquema de caixa 2 e conexões internacionais”, escreveu o líder petista.
Por PT na Câmara