Parlamentares da Bancada do PT na Câmara classificaram de genocida a ação do presidente Jair Bolsonaro de vetar o uso obrigatório de máscaras em locais fechados onde haja aglomeração de pessoas, como em comércios, igrejas, indústrias e instituições de ensino. Da mesma forma, os petistas criticaram o veto que desobriga esses estabelecimentos de fornecerem máscaras gratuitas a seus funcionários, e também do poder público ofertar esse item de proteção para a população vulnerável economicamente. Essas obrigatoriedades faziam parte da Lei 14.019/2020, aprovada pelo Congresso, e vetada parcialmente por Bolsonaro.
Para o coautor da lei, deputado Alexandre Padilha (PT-SP), Bolsonaro demonstra com essa atitude que “não está nem aí” para a saúde da população brasileira, principalmente a mais pobre. Ele denunciou que ao vetar o uso obrigatório de máscaras em locais públicos, Jair Bolsonaro tenta colocar em prática a tese da “imunidade rebanho”, uma suposta imunização que poderia ser alcançada quando um percentual da população já tivesse tido contato com o vírus.
“Acontece que mesmo o Brasil vivendo a sua maior tragédia humana, quando se faz exames sorológicos eles nos mostram que temos hoje apenas 9%, 10%, no máximo 15% de pessoas que tiveram contato com o vírus. Ou seja, temos um longo caminho para chegar até os 80%. E se chegarmos rápido a esse número, o nosso sistema de saúde entra em colapso”, observou Padilha.
Segundo especialistas, a chamada “imunidade de rebanho”, em um país onde a pandemia prolifera sem controle, (caso do Brasil), pode gerar resultados catastróficos. Estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), realizado entre os dias 4 e 7 de junho com testes rápidos que detecta a exposição ao vírus, verificou que 2,6% da população nas cidades pesquisadas já teriam tido contato com a Covid-19.
Levando-se em conta o dado mais otimista de pesquisas internacionais, de que com 43% da população já infectada um país alcançaria a imunidade coletiva ou de rebanho (alguns estudos aponta índices acima de 65%), isso significaria que o Brasil chegaria a esse estágio com 90 milhões de pessoas com anticorpos para o vírus. No entanto, se for considerado a média da taxa de letalidade internacional da doença, de 1%, o Brasil alcançaria a imunidade de rebanho (ou coletiva), as custas de até 900 mil mortos.
Nas redes sociais
Pelo Twitter, vários parlamentares criticaram os vetos de Bolsonaro. O deputado Odair Cunha (PT-MG) – autor de um projeto de lei sobre o uso de máscaras apensado a proposta vetada pelo presidente – disse que a atitude de Bolsonaro é uma ação genocida, principalmente contra a população mais pobre.
“Bolsonaro, além vetar o uso obrigatório de máscaras em estabelecimentos comerciais, vetou o dever do poder público de fornecer máscaras apropriadas à população em situação de vulnerabilidade social. Como sempre nesse governo, são os mais pobres que sofrem! Genocida!”, disse sobre Bolsonaro.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara, deputado Helder Salomão (PT-ES), ressaltou que Bolsonaro “assumiu de vez sua política genocida”, ao falar sobre os vetos do presidente, “enquanto a pandemia avança”.
E o deputado Bohn Gass (PT-RS) avaliou que, vetar a obrigatoriedade do uso de máscaras em igrejas, comércios, indústrias e escolas, o presidente Bolsonaro destruiu o espírito da lei. “É quase como dizer: máscara só é obrigatória onde ela não é necessária. Em casa, por exemplo”, criticou.
Na avaliação do deputado Henrique Fontana (PT-RS), a “irresponsabilidade” de Bolsonaro na gestão da pandemia não tem limites. “Desde o início, ele boicota o isolamento social e menospreza a gravidade da Covid-19. E agora, veta a obrigatoriedade do uso de máscaras no comércio, escolas e templos!”, lamentou.
E a deputada Luizianne Lins (PT-CE) destacou que “a cada medida genocida a gente fica chocada se pergunta qual é realmente o objetivo de Bolsonaro. Vetar uso de máscara em meio a uma pandemia grave interessa a quem e para que? Instalar o caos social, só pode ser!”, lamentou.
Desprezo à vida dos brasileiros
A atitude de desrespeito à vida dos brasileiros também foi muito criticado por outros parlamentares. Para o líder da Minoria na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), os vetos demonstram que Bolsonaro governa o País totalmente alheio à realidade.
“Bolsonaro vetou a obrigatoriedade do poder público de fornecer máscaras a vulneráveis. Os mais pobres, que estão lutando para garantir o pão, também terão que custear a própria proteção contra o vírus. Somos governados por alguém com completo desconhecimento da realidade”, acusou.
Já a deputada Erika Kokay (PT-DF), disse que Bolsonaro coloca em prática a “lógica da morte”. “A lógica do genocida é: Deixa todo mundo se infectar. Quem morrer, morreu!”, criticou.
O deputado Nilto Tatto (PT-SP) levantou outra hipótese para tentar entender a atitude de Bolsonaro. “Se existe uma orientação médico-sanitária, Bolsonaro faz e determina o contrário. Não por demência ou insensatez, mas por projeto, o único que ele tem: a Eugenia”, explicou.
A eugenia foi um projeto aplicado pelos nazistas de extermínio de parte da população considerada mais “fraca e vulnerável”, com o objetivo de alcançar uma sociedade considerada por eles “perfeita”.
Segundo dados do Consórcio de Veículos de Imprensa, colhidos junto as Secretarias Estaduais de Saúde de todo o País, até às 13 horas desta sexta-feira (3), a pandemia já havia causado a morte de mais de 62 mil brasileiros (62.304) e infectado mais de 1,5 milhão de pessoas (1.508.991 casos detectados).
Mais repúdios
Deputado Paulo Teixeira (PT-SP) – “Bolsonaro vetou uso obrigatório de máscaras em igrejas e comércios. Um irresponsável! Temos que derrubar esse veto”.
Deputado Zeca Dirceu (PT-PR) – “Bolsonaro vetou o uso obrigatório de máscaras em órgãos e espaços públicos, comércio, templos religiosos. Vetou também a obrigatoriedade do poder público de fornecer máscaras a população mais pobre”.
Deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) – “E o genocida do Bolsonaro vetou a obrigatoriedade do uso de máscaras nas igrejas e lojas! Vetou também o trecho que obrigava o poder público a fornecer máscara para a população vulnerável. O Fora Bolsonaro é questão de vida ou morte!”.
Deputada Margarida Salomão (PT-MG) – “Por que o veto? Só pode ser o desejo de que o povo brasileiro morra. Vamos derrubá-lo. Bolsonaro será derrotado”.
Deputado Alencar Santana Braga (PT-SP) – “Ao vetar a obrigatoriedade de máscaras em igrejas e lojas, Bolsonaro incentiva a negligência com a pandemia”.