Os dias atuais ainda guardam muitas características dos tempos coloniais deste nosso querido Brasil. A concentração de renda é a mais evidente entre todas elas.
Um dia, já fomos de apenas doze capitães. Nossa economia estava baseada no trabalho escravo e nos ciclos de produção do café e da cana-de-açúcar. Quem detinha posses lucrava exponencialmente. Ainda naquele tempo falava-se de crise e de necessidades de mudanças profundas.
A concentração de renda é um mal congênito contido na nossa história e ainda hoje é muito grande. Apesar dos vários ramos produtivos que se expandiram, mesmo estes estão concentrados nas mãos de dois ou três grupos, vide os setores petrolífero, químico, metalúrgico, portuário, bancário, agrícola e midiático, por exemplo. Historicamente, eles pertencem aos poucos grupos capitalistas que muito já lucraram e que continuam lucrando absurdamente, apesar da crise e da necessidade de mudanças profundas.
Justamente nesses períodos históricos (de mudanças e crises) é que se forma a conjuntura ideal para que, de maneira oportunista, sejam tratados temas muito caros para a sociedade.
Não veremos tão cedo o fim do financiamento privado de campanhas eleitorais. Os grupos econômicos não deixarão de influenciar o Parlamento brasileiro, em todos os seus níveis. Decisões estão sendo tomadas na Câmara Federal, por exemplo, com o claro propósito de abrir terreno para o capital, com viés restritivo aos direitos trabalhistas, civis, religiosos e indígenas, retrocedendo cada vez mais para justificar a própria crise inventada para se lucrar mais e mais. Prova disso é a tentativa de terceirizar até a alma das empresas e os flagrantes de trabalho escravo, dentre outros acintes.
A roda capitalista, infelizmente, gira cada vez mais rápido e, quando encontra resistência, o conflito é inevitável. Mas, sabidamente, o modus operandi dela se aperfeiçoa. Os embates são, muitas vezes, tão sutis que seus efeitos somente serão conhecidos tempos depois.
Um claro exemplo é a composição atual do Congresso Nacional. Para contrapor-se aos diversos avanços sociais, advindos desde o governo Lula, foi preciso muita mobilização dos setores conservadores.
A mais evidente ocorreu nessa última eleição, com a renovação para pior dos parlamentares advindos dos mais variados setores da sociedade com perfil extremamente conservador. Tanto que já ganharam a alcunha de bancada BBB (bala, boi e bíblia). Eles estão ensandecidos com a possibilidade de aprovar a pauta mais conservadora e retrógrada que já se tomou conhecimento na história desse Parlamento. Eles são apoiados pelos grandes grupos econômicos e também pela mídia sensacionalista e golpista (que lhes dão voz e voto).
Na maioria dos casos, contam com o apoio também da opinião pública, como no caso da redução da maioridade penal, cujo debate está sendo totalmente distorcido e esvaziado na sua essência para justificar a construção de mais presídios e menos escolas (no governo FHC já se praticava isso e no governo Alckmin continua-se praticando).
Se alguém achou que os setores conservadores ficariam calados e assistindo passivamente o nosso governo revolucionando com políticas sociais e educativas, achou errado. O resultado está aí. Estamos sentindo na pele (e na cor da pele também) a reação. Mais cuidado com o pré-sal, portanto.
É temerária a previsão que fazemos sobre a pauta legislativa. O comichão por que passa a bancada BBB ainda vai dar o que falar. Enquanto isso, continuamos com o nosso trabalho, pois estão em curso ainda muitas ações que significarão muito positivamente para o país. Não somente do ponto de vista econômico, mas também do olhar cultural do nosso povo.
Vicentinho é deputado federal pelo PT-SP