Mesmo diante da incansável luta feminista contra a estrutura machista e dos esforços de governos e organizações da sociedade civil pela superação das opressões de gênero, a violência tem ocorrido cada vez mais cedo na vida de mulheres e meninas.
Em todo o mundo, entre as adolescentes com idade de 15 a 24 anos, 25% já foram vítimas da violência de gênero (736 milhões). O apontamento está no relatório “Estimativas Globais, Regionais e Nacionais sobre Violência de Parceiros Próximos a Mulheres e Estimativas Globais e Regionais de Violência Sexual advinda de Não-Parceiros”, da Organização Mundial da Saúde (OMS).
No documento, a OMS destaca que essa violência, física ou sexual, é praticada por um parceiro ou alguém próximo a elas, e confirma: o número global de todas as mulheres vítimas se mantém em torno de um terço, sem mudanças ou melhoras na última década.
Tedros Ghebreyesus, diretor da OMS, alerta que a violência a mulheres é endêmica em todos os países e culturas, e afeta milhões de famílias. De acordo com ele, a pandemia da Covid-19 só serviu para piorar a situação. Dos 736 milhões de vítimas da violência, 641 milhões foram agredidas pelo parceiro íntimo.
Os números sugerem que a recente, mas adulta história do empoderamento feminino, com ponto partida no século XIX, tem no estigma uma das principais barreiras nessa luta, mesmo com tantas conquistas significativas. Do total entrevistadas, 6% das mulheres reportaram ataques sexuais por alguém que não era o marido ou parceiro. E esse número pode ser ainda mais alto, segundo a organização internacional para a saúde, porque muitas vítimas temem o estigma de relatar um crime sexual.
Feminicídio, a “pandemia paralela”
A expressão é da chefe da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka. Mulher negra, recém conduzida ao cargo, Mlambo-Ngcuka diz que todos os governos devem tomar medidas fortes e pró-ativas para combater essa violência, que para ela é uma “pandemia paralela”.
Os dados do novo estudo da OMS, em parceria com um grupo de trabalho da ONU, relatam coletas de 2000 a 2018 e atualizam informações de 2013. Apesar dos resultados chocantes, eles não incluem a situação agravada pela Covid-19, a partir de dezembro de 2019, quando a doença surgiu na cidade de Wuhan, na China.
Alguns países aumentaram linhas de auxílio durante a pandemia, mas ainda não existem dados para aferir o resultado das iniciativas.
No Brasil: uma mulher morta a cada 9 horas
No Brasil, um levantamento, sem recorte etário, registrou que 497 mulheres perderam suas vidas desde que a pandemia do novo coronavírus começou, resultando uma morte de mulher a cada 9 horas. O período avaliado ocorreu entre os meses de março e agosto do ano passado.
O número de feminicídios, divulgado pela plataforma AzMina em outubro de 2020, tem origem no monitoramento dessa violência, chamado “Um vírus e duas guerras”, feito por sete veículos de jornalismo independente.
Violência de gênero no mundo
O texto do estudo liderado pela OMS destaca que, cerca de 37% das cidadãs, entre 15 e 49 anos, sofreram violência física ou sexual de um parceiro em nações pobres. E em alguns países, este número sobe para a metade. Já na América Latina e Caribe e na América do Norte, a taxa é de 25% cada.
As regiões da Oceania, Sul da Ásia e África Subsaariana tiveram as maiores taxas entre mulheres de 15 a 49 anos. As menores ocorreram na Europa (de 16% a 23%), Ásia Central (18%), Ásia Oriental (20%) e Sudeste da Ásia (21%).
Da Redação, com informações da OMS