Medo, intolerância, rejeição, aversão, ódio, discriminação, violência, o não reconhecimento do nome, a inexistência da garantia ao direito à cidadania, são algumas das atitudes e ações transfóbicas que as mulheres trans e travestis sofrem diaramente em virtude da sua identidade de gênero.
A transfobia está estruturada na nossa sociedade, resultando numa exclusão extrema de direitos e na marginalização das pessoas trans e travestis. Como é o caso da jovem de 23 anos, Nathalia Brauly de Castro, que já vivenciou inúmeras violências transfóbicas, sendo impossibilitada até de exercer seu direito de ir e vir.
“É difícil ser mulher trans neste país, você sai e tem medo de voltar! Já deixei de ir em alguns lugares ou fazer simples ações do dia a dia, só pelo medo do que as pessoas vão pensar, falar, e principalmente, pelo medo de ser agredida”, relata a jovem que ainda lembra de vários episódios de agressões físicas.
“Um cara me chutou, já faz algum tempo e nunca me esqueci. Outra situação foi um cara ter cortado meu rosto com uma garrafa de vinho, não fiz nada, e sabemos o porquê. Eu ando com medo”, desabafa.
A realidade da jovem vai ao encontro com o relatório “Trans Murder Monitoring”, de 2019. Aponta que entre outubro de 2018 e setembro de 2019, 130 pessoas trans e travestis foram assassinadas no país. Isso significa que o Brasil continua a ser o país que mais mata travestis e transexuais em todo o mundo.
Outra pesquisa que evidencia a realidade da comunidade é o Dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), constatou que a maior concentração dos assassinatos foi vista na região nordeste, com 45 assassinatos (37% dos casos), seguida da região sudeste, com 37 (30%), Sul; com 14 (11%); Norte, com 14 (11%) casos; e Centro-Oeste, com 12 (10%) assassinatos. Uma vez que São Paulo foi o estado que mais matou a população trans em 2019, com 21 assassinatos, contando com aumento de 50% dos casos em relação a 2018.
Esses dados demonstram a necessidade de implementar novas políticas públicas de combate à violência contra essas minorias, sobretudo, da efetivação da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que reconheceu a transfobia como um crime de racismo. Desta forma, a transfobia passou a integrar o rol de discriminações punidas pela lei 7.716/1989.
Para a pesquisadora e professora sobre gênero, (trans) Diversidades no currículo escolar e suas interfaces com a Educação, Rubra Araújo, além da educação inclusiva, como por exemplo, um currículo diversificado, dar visibilidade, o direito do lugar de fala e protagonismo às pessoas trans são formas de combater a transfobia.
“Essas pessoas existem, temos cidadania, precisamos falar que somos o país que mais mata pessoas trans, contraditoriamente, somos também o país que temos a parada gay e o que mais elegeu pessoas trans e travestis”, aponta.
Mas, afinal o que é transexualidade ?
A pesquisadora e professora sobre gênero, (trans) Diversidades no currículo escolar e suas interfaces com a Educação, Rubra Araújo, conta que a transexualidade durante muito tempo na história foi vista como um transtorno, ou seja, uma doença patológica.
“Atualmente não se trata mais como uma doença, não é algo para ser corrigido, mas sim é algo humano, pois ser uma pessoa trans está relacionado à identidade”, esclarece.
A professora Rubra Araújo exemplifica que a transexualidade é aquele comportamento e vivência da sexualidade que não está de acordo com que se espera socioculturalmente da genitália biológica, do que o sujeito nasceu.
“Partindo do pressuposto da transexualidade, temos a palavra sexualidade, esse prefixo ‘trans’, vem anteceder o radical da palavra raiz, que é a sexualidade, que são as diferentes formas de viver a sexualidade. No ponto de vista identitário, tem a questão ‘cis’ e o prefixo ‘trans’, que denota a transexualidade. Lembrando que o prefixo ‘trans’ significa não de acordo com o padrão sociocultural, estabelecido para genitália, na qual a pessoa tem biologicamente”, explica.
Dandara Barbosa, Agência Todas