De acordo com a última atualização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), as manchas de óleo no litoral do Nordeste, avistadas pela primeira vez em 30 de agosto, já chegaram a 233 praias da região. São 88 cidades e 9 estados afetados no total. A ação tardia do poder público, em especial do governo federal, fez com que milhares de voluntários buscassem recolher o petróleo bruto tanto na areia quanto no mar, mas há riscos envolvidos nesse tipo de atividade.
O Sistema CFQ/CRQ, que inclui o Conselho Federal de Química (CFQ) e os 21 Conselhos Regionais de Química (CRQs) brasileiros, divulgou nota alertando para o perigo da exposição às substâncias tóxicas presentes nas manchas de óleo. “A maior parte do petróleo é formada por hidrocarbonetos, compostos de carbono e hidrogênio, e entre eles existe um grupo, o de hidrocarbonetos poliaromáticos, que são solúveis em água porque seu peso molecular é baixo”, explica a presidenta do Conselho Regional de Química da 1ª Região (Pernambuco) Sheylane Luz.
De acordo com Sheylane, que tem mestrado em Engenharia Civil e Ambiental, há riscos imediatos e também a médio e longo prazo. “Para a saúde deles (voluntários) é algo perigoso, pode ser que não aconteça nada nunca, por sorte, mas realmente eles precisam ser monitorados depois disso. Os hidrocarbonetos poliaromáticos podem causar até mutação genética”, descreve, ressaltando também o potencial cancerígeno de algumas das substâncias. “Outro ponto que me preocupou foi ver no jornal as pessoas limpando o óleo cru com óleo diesel, que também tem poliaromáticos dentro. Desta forma, estão potencializando o risco com a exposição a esses compostos.”
Casos de reação ao petróleo têm sido registrados nas regiões afetadas. De acordo com o portal G1, 17 voluntários deram entrada no Hospital Osmário Omena de Oliveira, em São José da Coroa Grande, litoral sul de Pernambuco, nesta quarta-feira (23), por conta do contato com o óleo. Pacientes tiveram problemas de pele e reações como dor de cabeça e enjoos por terem inalado os gases que saem das manchas.
Para participar do trabalho de remoção, Sheylane frisa que é necessário se proteger de forma adequada. “Quem está na areia precisa usar de todo jeito a bota, tipo galocha, que é mais alta, e luva, de preferência de cano mais longo, porque o óleo vai bater na pele e pode causar algumas feridas. E como o cheiro é muito forte, é importante usar máscara”, pontua. “No mar, devem ser pessoas preparadas para isso, com roupa especial para não ter contato com a pele, e é necessário proteger os olhos e não ter ingestão.”
Ela destaca ainda a necessidade de acompanhamento, por um período de tempo que ainda não é possível estimar, das áreas atingidas para saber o nível de contaminação. “É importante o monitoramento não só das pessoas, mas na areia e no mar podem ter ficado os resíduos, contaminados por esse material lixiviado”, aponta, ressaltando que a possível contaminação também da flora e da fauna marinha vai depender do nível de exposição às substâncias tóxicas.