Cleidenilson da Silva, negro, de 29 anos, morreu de joelhos e amarrado com cordas a um poste. Ele fora espancado até a morte por um grupo de moradores, após um assalto frustrado a um bar no Jardim São Cristóvão, bairro pobre de São Luis, no Maranhão. Em fevereiro de 2014, um adolescente de 15 anos, negro, também foi amarrado nu a um poste no Flamengo, surrado, torturado e abandonado à própria sorte. Sorte que talvez nunca tenha encontrado na sua breve vida. Quiçá nunca a encontrará.
Os trágicos, lamentáveis e tristes acontecimentos atordoam, chocam e despertam indignação e incompreensão, ademais de evocar uma clara lembrança do Brasil escravocrata. O pelourinho, lugar em que séculos atrás se cumpriam as sentenças que determinavam os desígnios de desafortunados e desterrados homens e mulheres arrancados da África, está sendo repaginado em postes de cidades brasileiras.
O jurista Mareio Sotelo Felippe, em artigo recente, fala sobre os múltiplos fatores que levam a opressão do povo negro. Aponta o débito social histórico, essa miséria transmitida de geração a geração sem que a sociedade se lembre de resgatá-lo: o preconceito e a exploração da estrutura capitalista.
A Secretaria Nacional da Juventude trouxe dados que oferecem a exata medida da diferença abissal no tratamento entres brancos e negros pelo sistema de justiça: “mais de 60% dos presos são negros (prende-se 1,5 mais vez que o número de brancos), e uma parcela próxima a essa é composta por jovens. Quanto mais se prende, mais jovens e mais negros lotam as cadeias”.
Como se não bastasse ao povo negro ser criminalizado por um sistema de justiça seletivo que tem cor, idade, classe social e foco preciso, ainda é vítima de ações ultrajantes, violentas, crimes contra a humanidade praticados pela turba covarde, insana e sedenta por fazer ‘justiça’ com as próprias mãos.
Esses crimes de ódio são estimulados pelo jornalismo sensacionalista, e o silêncio preocupante das autoridades faz com se esse fenômeno se propague. É passada da hora de fazermos algo para evitar essa cotidiana tragédia social. A música do Rappa, de onde saiu o título deste artigo, é de um acerto impressionante; permito-me apenas substituir o termo linchamento.
(Artigo originalmente publicado no jornal O Dia, no dia 24 de julho de 2015)
Wadih Damous é deputado federal pelo PT – RJ