Depois do ‘New York Times’ falar na “tempestade perfeita” que se abate sobre o Brasil, o jornal americano ‘Washington Post’, um dos mais influentes dos Estados Unidos, aborda o agravamento da crise no Brasil, em razão da fusão da emergência sanitária da pandemia do Covid-19 com as suspeitas de corrupção contra o presidente Jair Bolsonaro. Na edição desta quarta-feira (29), o jornal noticia que a maioria dos brasileiros quer Bolsonaro fora do cargo e que antigos aliados estão se voltando contra o seu governo. Outros veículos da mídia internacional também dão destaque à crise institucional no Brasil.
“Os investigadores estão cercando. Os apoiadores estão virando as costas. Centenas em seu país morrem todos os dias de uma doença que ele descartou como um caso de ‘resfriadinho’. A maioria das pessoas quer que ele se vá”, diz a abertura da reportagem de Terrence McCoy, Heloísa Traiano e Marina Lopes, correspondentes do ‘Post’. Eles relatam que o presidente está se debatendo – “cercado por escândalos, prejudicado por traições, sem foco e contraditório em pronunciamentos públicos”.
O diário informa que Bolsonaro só ouve os próprios filhos e que brigou com Sérgio Moro, que o acusou de corrupção, levando o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, a determinar a abertura de uma investigação contra sua administração à frente da Presidência da República. “Ninguém, nem mesmo o presidente, está acima da Constituição e da lei”, disse o juiz do mais alto tribunal do país.
Vergonha internacional
A abertura do inquérito policial contra o presidente é tema também de outros veículos da imprensa estrangeira nesta quarta-feira. O diário francês ‘Le Monde’ noticia que a Suprema Corte brasileira ordenou a abertura de investigação para apurar as acusações e ressalta que o juiz concedeu à PF 60 dias para ouvir o ex-ministro da Justiça, que renunciou na sexta-feira. O britânico ‘Financial Times’ também noticia a autorização do STF para investigar o presidente, acusado de interferência no trabalho da Polícia Federal, assim como o tradicional diário inglês ‘The Times’.
A reação debochada do presidente brasileiro diante das mortes de 5 mil brasileiros na pandemia também ganha repercussão internacional. O diário argentino ‘Clarin’ destaca a declaração desdenhosa do presidente, assim como o ‘La Nación’, que aborda o colapso brasileiro e diz que “Bolsonaro repete seus vícios com pior sorte”, ao compará-lo aos presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos e a alemã Angela Merkel. O também argentino ‘Página 12’ informa que a Suprema Corte acabou com o “pacto de gângsteres” de Bolsonaro e Moro, ambos agora na mira da Justiça.
No diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, o colunista Daniel Deckers questiona quanto tempo Bolsonaro vai durar. “Em nenhum outro país da América do Sul a população paga um preço mais alto pela incapacidade do governo de responder adequadamente à pandemia dos Covid 19 do que no Brasil. Mas os danos causados pelo presidente Jair Bolsonaro em sua estratégia de ridicularizar a doença vão muito além do número exorbitante de infecções e mortes. O país, que gosta de se imaginar em pé de igualdade com outros países emergentes, como Índia, África do Sul e Rússia, não tem mais um aliado confiável como Donald Trump na crise global. Poucos são tão enganosos quanto Bolsonaro, mesmo entre os párias da comunidade internacional, como o ditador bielorrusso Lukashenka ou seu companheiro nicaragüense Ortega”, escreve Deckers.
As acusações contra Bolsonaro e as mudanças no governo, com a indicação de um delegado amigo para o comando da Polícia Federal – manobra barrada pelo Supremo agora pela manhã – é destaque também das agências, com despachos da Reuters, Associated Press, EFE e France Presse – anunciando a inclusão de André Mendonça para o lugar de Moro e de Alexandre Ramagem para a PF. Todas as reportagens relatam que as investigações podem custar o cargo a Bolsonaro. O material da Reuters é replicado em veículos influentes, como os americanos New York Times e Voice of América e o chinês Global Times.