A militância de 35 anos no Partido dos Trabalhadores e de 50 anos nas lutas e movimentos sociais, a partir do movimento estudantil secundarista, possibilitou-me conhecer pessoas extraordinárias e construir belas e duradouras amizades.
Zezéu Ribeiro foi um desses companheiros inesquecíveis. Militante exemplar desde a adolescência, conciliava de forma esplêndida, porque natural, espontânea e sem artifícios, a fidelidade às causas que deram sentido à sua, às nossas vidas, com a ternura e a delicadeza nas relações pessoais.
Apaixonado pela companheira Lola, pelos filhos, netos, foi sempre um consenso entre a multidão de amigos. Todos os que tiveram esse privilégio sabiam, dizíamos entre nós: Zezéu é um amigo diferenciado. É aquele amigo-irmão que, sem prejuízo de seus compromissos com o bem comum, constrói o tempo do encontro, da escuta, do acolhimento e, sempre que necessário, estende a mão, partilha, ajuda.
Zezéu era um mestre na arte da boa conversa, da grande prosa do mundo. Aparava as diferenças, buscava os territórios do consenso, sem nunca abdicar dos princípios, valores e convicções que o acompanharam em sua belíssima trajetória existencial.
Fecho os olhos, libero os terrenos meio incerto da memória, e revejo Zezéu nos acolhendo, a mim e à Vera, na sua querida Salvador. Ele e Lola nos mostrando os recônditos da cidade que Zezéu tão bem conhecia e amava. Depois os bons restaurantes, não os mais caros, mas os mais acolhedores e mais presentes na alma e na vida da Capital Primaz do Brasil. A conversa que se estendia pela noite adentro, a cerveja gelada, a boa comida baiana.
Uma vez nos encontramos – encontro não previsto – no Rio de Janeiro: mais uma vez um encontro familiar. Subimos juntos o Pão de Açúcar, juntos contemplamos o mar de Copacabana, de Ipanema, as belezas imensas da Cidade Maravilhosa. O Brasil sempre presente, tema referente em nossas conversas. Verinha sempre partilhando comigo o encontro com aquele casal e família de baianos tão generosamente brasileiros e universais.
Estivemos juntos na Câmara dos Deputados, vizinhos do mesmo prédio em Brasília. Ele, Lola e Júlia, sempre hospitaleiros. Eram ótimos os encontros, as conversas, os jantares.
Zezéu era íntegro e múltiplo. A Política no sentido mais alargado da palavra, era tema presente, as grandes questões sociais, o clamor dos pobres. Entrava pela História, refazia os caminhos da Coluna Prestes nos sertões da Bahia. Pensava o desafio das grandes cidades a partir do olhar atento, amoroso do arquiteto-urbanista, estudioso das questões ambientais.
Transcendia os territórios políticos e sociais na atenção generosa com a família, as famílias, a sua e a dos amigos; na sensibilidade para os temas culturais, artísticos e aqueles que transcendem a condição humana e nos colocam em frente das grandes perguntas, do mistério, da morte. Zezéu sabia das nossas limitações, das fragilidades humanas, mas acreditava nos melhores sonhos de nossa sofrida e contraditória espécie.
Zezéu não é para ser esquecido. Afinal, amigo, como Zezéu, é para se guardar vivo nos terreiros da memória. E que deve ressuscitar a cada dia nos nossos corações e mentes: viver a memória de Zezéu nos faz melhores porque nos faz acreditar no projeto humano: “ Se todos fossem iguais a você…“
Patrus Ananias de Sousa é ministro do Desenvolvimento Agrário.