Candidato à punição ou mesmo expulsão em qualquer escola ou universidade, o indicado a ministro da Educação, Carlos Alberto Decotteli, começou a semana em situação ainda pior do que o dia seguinte ao anúncio de seu nome.
No final de semana, novas denúncias de fraude envolvendo seu currículo ganharam as páginas dos jornais, desta vez questionando a dissertação de mestrado acusada de plágio e seu pós-doutorado na Alemanha, desmentido pela universidade.
Também suspeito de superfaturamento na compra de computadores pelo Ministério da Educação, e sem explicações convincentes sobre as denuncias, Decotteli teve a solenidade de sua posse adiada nesta segunda-feira.
A indicação do “oficial reservista da Marinha”, Carlos Alberto Decotteli, com apoio de “setores militares” foi mais um passo na ocupação dos principais cargos do governo por quadros oriundos das Forças Armadas. Agora sob risco de cair antes mesmo de assumir, Decotteli se perfila no quesito incompetência ao lado do general Eduardo Pazuello, interino na Saúde, os dois à frente de dois dos principais ministérios do governo brasileiro.
Com eles, são mais cerca de três mil militares à frente de cargos nos ministérios, estatais e empresas públicas, em boa parte alocados em funções que destoam não apenas das funções nos quartéis, mas também de suas habilidades profissionais.
Partido do Exército
A ocupação de tantos ministérios e cargos no governo faz dos militares, em especial do Exército, uma força política com poder de partido, o Partido do Exército. No caso de Decotteli, a indicação sugere ter mais a ver com o fato da “origem militar” do que um perfil adequado para a função. Segundo o site do FNDE, Decotelli é apresentado como financista, professor e coautor de livros de administração bancária e financeira.
“As Forças Armadas ocupam no Executivo, através de uma presença maciça, um papel estratégico, porque parece que funcionam como substitutos à inexistência de um partido político que dá sustentação ao Bolsonaro e lhe forneceria os cargos dirigentes”, definiu a ex-presidenta Dilma Rousseff, em entrevista ao jornal El País. “Houve essa ingenuidade de pensar que eles (os militares) estavam quietos, aceitando, e que tudo estava sob controle”, avaliou o historiador e ex-deputado federal Manuel Domingos, em entrevista ao jornal Valor.
Sob o argumento “técnico”, e de tratar de um “excelente militar”, a indicação de Decotteli para uma função estratégica como o Ministério da Educação, também coloca em dúvida os critérios utilizados e a qualidade das indicações oriundas do quartéis. Em março deste ano, o futuro e atualmente pendente Ministro da Educação seria condecorado pela Marinha do Brasil, certamente devido ao seu festejado currículo, agora questionado ou desmentido por instituições e autoridades.