Em passagem pelo Brasil, o arquiteto e ativista argentino Adolfo Pérez Esquivel, condecorado com Prêmio Nobel da Paz em 1980, mostrou preocupação com a situação política no país e no restante da América Latina. Segundo ele, o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff rompeu o ciclo de independência e soberania iniciado pelos governos progressistas no continente a partir do final dos anos 1990.
Além de citar os golpes praticados na Venezuela (2002), Honduras (2009) e Paraguai (2011), Esquivel criticou a postura dos governos dos Estados Unidos em relação aos vizinhos do Sul.
“Os Estados Unidos não são aliados de nenhum país latino-americano. O que eles têm são súditos. Porque os Estados Unidos agem de acordo com seus interesses políticos e econômicos, e sempre viram a América Latina como um quintal, não como aliada”.
Pérez Esquivel, que já havia se posicionado contra o golpe de estado em 2016 no Brasil, fez duras críticas ao que chamou de perseguição contra o ex-presidente Lula. “Temos que prestar nossa solidariedade e apoio para que Lula possa voltar ao governo porque há problemas muito importantes. Atacam o Lula por um delito que ele nunca cometeu, com a cumplicidade de deputados, senadores. Mas atacam para impedi-lo de concorrer as eleições”, criticou.
O Nobel da Paz anunciou que pretende postular o nome do ex-presidente como candidato ao Prêmio Nobel da Paz, com o qual ele próprio foi agraciado pelos trabalhos à frente da fundação do Servicio Paz y Justicia en América Latina (SERPAJ-AL), que se dedicava a combater e revelar os crimes cometidos pelas ditaduras militares no continente americano.
“Eu estou pensando seriamente propor o Lula como candidato ao Prêmio Nobel da Paz, porque me parece que isso seria muito importante. Antes vou conversar com ele, porque obviamente é preciso avaliar. Mas acho que seria um reconhecimento internacional muito forte.”
“Lula deu dignidade ao povo, aos favelados, aos mais pobres. Fez a luta pela fome zero. Claro que falta muito por ser feito no Brasil, mas se avançou muitíssimo. Ele ganharia o Prêmio. Aliás, o Brasil precisa disso. Seria o primeiro Prêmio Nobel da Paz do Brasil”, argumentou.
Em razão da intervenção federal e militar no estado do Rio de Janeiro, o Nobel da Paz criticou o governo golpista de Michel Temer. “Esse governo é um governo neoliberal, e a única forma de se manter no poder é através da violência. Colocam outra vez os militares nas ruas para fazer o controle social. E isso não resolve o problema, pelo contrário, agrava. A única forma de superar a violência social é a educação, são as políticas sociais, é dar dignidade aos trabalhadores”.
Pérez Esquivel também argumentou contra o uso das Forças Armadas no combate à violência: “Nenhum exército pode garantir a paz. Todos os exércitos quando atuam levam a violência e a morte. São guerreiros, vão para matar, para submeter, não para construir a paz. A paz não é um presente de ninguém, ela é construída. A paz também não significa a ausência do conflito. A paz é estabelecida através das relações humanas entre as pessoas e os povos”.
Ele fez coro com a ex-presidenta Dilma, ao identificar que os ocupantes do poder no Brasil tentam criar um inimigo interno, para criminalizar aqueles que são as verdadeiras vítimas do Estado. E aproveitou para fazer duras críticas à imprensa.
“Os povos originários, os Mapuches, os Guaranis, são tidos como inimigos, quando realmente são as vítimas. Então querem transformar as vítimas em vitimários. Lamentavelmente, para fazer essa política, precisam dos grandes meios de comunicação, da imprensa canalha, da imprensa que mente, da imprensa que faz de tudo para que a mentira se torne uma verdade”.