Em matéria especial publicada nesta quarta-feira, 01, a Agência Publica mostra as relações de promiscuidade e de ilegalidade institucional entre a Lava Jato e o FBI. Com base nos diálogos da #VazaJato e em apuração complementar, os autores da investigação identificaram a presença de agentes da agência norte-americana agindo em território nacional.
“Segundo um documento constante dos arquivos da Vaza Jato, em 2015 havia nove policiais americanos lotados na embaixada de Brasília e no Consulado de São Paulo, incluindo do FBI, da Polícia de Imigração e Alfândega e do Departamento de Segurança Interna”, diz a matéria.
Na matéria, a Agência Pública aponta a existência de dezenas de menções ao FBI e seus agentes nos diálogos constantes da Vaza-Jato analisados. “Fica claro que o relacionamento mais constante é entre membros da PF brasileira e agentes do FBI”, diz a matéria.
De acordo com a publicação, “pela lei, nenhum agente americano pode fazer diligências ou investigações em solo brasileiro sem ter autorização expressa do Ministério da Justiça, pois as polícias não têm jurisdição fora dos seus países de origem”.
O esquadrão para América do Sul, segundo a matéria, é o quarto esquadrão do FBI especializado em corrupção internacional, todos criados nos últimos cinco anos, ou seja, durante o período das operações da Lava Jato.
A matéria destaca a agente especial Leslie R. Backschies que, de especialista em armamentos e terrorismo, passou a investigar casos de corrupção e lavagem de dinheiro na América Latina, com destaque para o Brasil.
“Em outubro de 2015, Leslie fez parte da comitiva de 18 agentes americanos que foram a Curitiba se reunir com procuradores e advogados de delatores sem passar pelo Ministério da Justiça, órgão que deveria, segundo a lei, intermediar todas as matérias de assistência jurídica com os EUA”, segundo as revelações da Agência Pública e The Intercept Brasil.
“A proximidade com a equipe da Lava Jato era tanta que Leslie foi um dos agentes do FBI que posaram com um cartaz apoiando o projeto de lei das 10 Medidas Contra a Corrupção, bandeira da Força-Tarefa e em especial do seu chefe, Deltan Dallagnol, que foi derrotada no Congresso Nacional”, diz a matéria.
A relação com a Lava Jato foi satisfatória para o FBI, como deixa claro declaração da comandante das operações. “Nós vimos muita atividade na América do Sul — Odebrecht, Petrobras. A América do Sul é um lugar onde… Nós vimos corrupção. Temos tido muito trabalho ali”, disse ela à Agência de Notícias Associated Press no começo de 2019, segundo a matéria.
Um dos alvos da operação, a construtora Odebrecht, foi objeto da troca de informações reveladas pela publicação. Segundo a matéria, o Procurador Geral da República Rodrigo Janot chegou a ter uma reunião na embaixada americana para pedir ajuda com os sistemas criptografados da Odebrecht.
“O canal com o FBI é com certeza muito mais direto do que o canal da embaixada. O FBI tb já tem conhecimento total das investigações, enquanto a embaixada não teria”, informou o procurador Paulo Roberto, em troca de chat. Depois, ele explica, segundo a matéria: “A nossa foi sim com o adido, porém o que fica em SP. O mesmo que acompanha o caso LJ”.
“Os agentes do FBI já apoiaram (o projeto). Mas não pode publicar a foto ok? Eles não deixaram”, registra chat da procuradora Thaméa Danelon com Deltan Dallagnol, citado na matéria, evidenciando a obscuridade das relações entre os operadores da Lava Jato e os agentes do FBI.