Faltam nove dias para o divórcio oficial de Doria com a cidade de São Paulo. E quem usou a comparação de “prefeitar” a maior cidade do país a um casamento foi o próprio. Ele igualou o cargo como uma relação de seres humanos que podem cansar dos problemas um do outro, se desinteressar e, por que não, simplesmente decidir entrar em outro relacionamento julgando que talvez fosse melhor, como se o cargo fosse uma mera relação de casal.
Ele deixará a Prefeitura no dia 6 de abril e vai iniciar sua campanha ao governo do estado. Se em um ano e dois meses de gestão, nós, paulistanos, perdemos todos os dias um direito conquistado, imagina no resto do estado?
Mas, também, não há como esperar que ele diminua a função para qual foi eleito: abandonou a cidade nas 47 vezes que foi viajar em 2017; não é a favor dos professores e nem da vida – aumentou a velocidade nas marginais e também o número de acidentes –, fez ações desastrosas na Cracolândia; quis distribuir ração humana às crianças e moradores em situação de rua; está fechando unidades de saúde – serão fechados mais de 100 serviços, inclusive em áreas de risco para febre amarela – ao invés de ampliar o acesso; atrasou o salário do médicos do Programa Mais Médicos.
Recebeu remédios próximos do vencimento de empresas que se favoreceram da incineração dos medicamentos; paralisou obras dos hospitais da Brasilândia e de Parelheiros, regiões periféricas da cidade em que há anos seus moradores reivindicavam a construção dos serviços; não apresenta de forma transparente os números de sua gestão; vai encerrar linhas de ônibus importantes para o trabalhador, entre outras maldades.
Esta terça-feira (27) foi um dia histórico de derrotas para a gestão Doria. Uma delas aconteceu no Ministério Público do Estado de São Paulo, na audiência sobre o fechamento de unidades e serviços de saúde, com a presença de movimentos sociais, conselheiros de saúde, população, entidades médicas – Centro Brasileiro de Estudos de Saúde e Cremesp –, Sindicato dos Médicos de São Paulo e o Secretário Municipal da Saúde, representando a gestão. A proposta do MP era colher as informações para que fosse instaurado um inquérito civil.
A audiência aconteceu pela ineficiência da gestão de entender que mudanças drásticas como essa devem passar pelo crivo da população, que é quem realmente sabe da realidade de cada região.
Foi unânime a desaprovação da sugerida reestruturação da rede de saúde da cidade de São Paulo a que a atual gestão quer implantar. E também foram trazidos dados importantes, como a lista de unidades fechadas na periferia, sucateamento dos serviços hospitalares, da redução de número de profissionais e transferência e fechamento de bases do SAMU – trazido pela conselheira de saúde Ana Rosa.
Serão fechadas 108 unidades da Assistência Médica Ambulatorial (AMA), a gestão alega que o serviço, que foi implantado nas gestões do PSDB, não é um modelo satisfatório, e que não está nos moldes do Sistema Único de Saúde (SUS). E de fato não está, não existe AMA na rede de atendimento do SUS no país. Essas unidades foram implantadas na cidade para desafogar os outros serviços de saúde com atendimentos de urgência e emergência, não recebem recursos do Ministério da Saúde.
Por isso que, quando secretário de saúde na gestão do prefeito Fernando Haddad, integramos as AMAs que estão acopladas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) para que os atendimentos fossem complementares. Mas não fechamos as unidades. Não há como fechar serviços de saúde na cidade de São Paulo! É preciso ampliar e não fechar.
O representante do Sindicato dos Médicos de São Paulo trouxe uma pesquisa sobre o grau de conhecimento dos médicos que atuam nas AMAs da capital sobre a proposta e os resultados foram estarrecedores: Das 381 respostas, 90% sabiam sobre a proposta da Prefeitura em fechar 108 AMAs; 72,4% disseram que não tiveram orientações da Prefeitura ou da gerência das suas unidades sobre as mudanças que irão ocorrer; 82,7% responderam que não tinham sido orientados quanto à realocação de serviços; 69,5% responderam que não foi feita garantia da manutenção das condições de seu trabalho em uma eventual mudança de serviço e 94,2% afirmaram estar se sentindo prejudicados com a mudança.
Ou seja, os médicos não sabem o que está acontecendo e nem o que acontecerá. A proposta é que os médicos das AMAs passem a atender na atenção primária, mas, como a gestão vai qualificar esses profissionais? Haverá consultórios suficientes para todos? Haverá abertura de outros serviços concomitantemente? Já não temos médicos suficientes, também vamos ficar sem eles?
A proposta é totalmente fora da realidade da cidade. A gestão não implantou um novo equipamento de saúde desde que assumiu. Na audiência foi criado um grupo de trabalho com participantes de entidades presentes mais o conselho municipal. Chefe de gabinete da Secretaria Municipal da Saúde levará para o prefeito que tal reestruturação deverá ficará suspensa até que este grupo entre em consenso. Fora isso, o Cremesp pediu que as unidades fossem vistoriadas.
Outra perda foi a não aprovação da reforma da previdência – o Sampaprev – dos servidores municipais. Doria fez inúmeras manobras para que o projeto fosse votado, mas em vista da forte pressão, principalmente com a incrível mobilização dos professores, o projeto não teve os votos necessários para aprovação e foi retirado da pauta por 120 dias.
Essas derrotas são só pequenas vitórias, porém muito significativas. Doria vai ficar apenas 15 meses no cargo de prefeito – ou seria prefake? O mais revoltante é a dissimulação com que reage as manifestações contrárias a suas atitudes, sendo muitas delas cruéis com o paulistano. Quem bate em professor, não merece ser governador.
Doria nunca mais!
Alexandre Padilha é vice-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores