O deputado federal Fernando Francischini (PSL-PR), ferrenho apoiador de Jair Bolsonaro, destinou R$ 24 mil de sua cota parlamentar para a empresa de um casal que administra veículos que propagam notícias falsas. Os pagamentos podem ser comprovados por meio de seis notas fiscais, obtidas pela reportagem do UOL.
As notas aparecem no Portal de Transparência da Câmara dos Deputados e foram emitidas pela empresa Novo Brasil Empreendimentos Digitais para “divulgação da atividade parlamentar”. Foram pagos R$ 4.000 mensais entre dezembro e março, além de outros dois pagamentos no mês de abril.
Registrada junto à Receita Federal como propriedade dos sócios Ernani Fernandes, e sua esposa, a advogada Thais Raposo Chaves, a empresa Novo Brasil Empreendimentos aparece como responsável pelo domínio do site Folha Política, notadamente disseminar de notícias falsas.
Desde que a Novo Brasil recebeu a verba do deputado Frascischini, o site Folha Política vem publicando conteúdos favoráveis ao parlamentar. Alguma textos possuem títulos como “Delegado Francischini fala ‘na lata’ o que pensa de Lula” ou “Delegado e Bolsonaro apresentam projeto de lei para acabar com privilégios para ex-presidentes”. Em janeiro, o site também publicou um vídeo com o título “URGENTE: Em transmissão ao vivo, Bolsonaro anuncia candidatura pelo PSL”.
Questionada sobre as notas fiscais, a assessoria de Francischini disse que Ernani Fernandes “presta consultoria em redes sociais e edita alguns vídeos para publicação” nos perfis do deputado e que os pagamentos não têm nenhuma relação com os sites da rede administrada pelo casal.
Além da Novo Brasil Empreendimentos Digitais, Thais e Ernani também são sócios em outra empresa registrada junto à Receita Federal: a Raposo Fernandes Marketing Digital. A reportagem do UOL foi até os endereços associados aos registros das duas empresas, ambos em Interlagos, na zona sul de São Paulo.
Em um deles, um condomínio residencial, o porteiro informou que a unidade pertencente a Ernani e Thais estava vazia e que o casal apenas busca correspondências no local. O outro é um sobrado germinado, com um letreiro rasgado de uma clínica desativada, com uma porta metálica cheia de pichações.
Ernani é filho do coronel da reserva Ermindo Neto, que foi assessor especial do comandante do Exército entre novembro de 2013 e dezembro de 2015. Em pouco mais de 20 textos publicados pela Folha Política entre 2013 e 2014, era possível encontrar mensagens publicadas pelo perfil do coronel em redes sociais na caixa destinada a comentários dos leitores.
Elo com Frota e Kataguiri
A “Folha Política”, assim como diversos outros sites semelhantes como “Política na Rede”, “Correio do Poder”, “Crítica Política”, “Folha do Povo” e “Gazeta Social”, se apresenta como um veículo administrado pela Rede RFA (Raposo Fernandes Associados) – uma combinação dos sobrenomes de Ernani e Thais.
O grupo também administra as páginas no Facebook dos sites citados acima e outras como “MCC – Movimento contra Corrupção” (a maior delas, com mais de 3,5 milhões de seguidores), “Juventude contra Corrupção”, “Juiz Sergio Moro – O Brasil Está com Você”, “Apoio ao Moro” e “Movimento Democracia Participativa”, além do perfil oficial do ator Alexandre Frota na rede social e do canal “Ficha Social”, no YouTube, entre outros.
Vídeo do canal Ficha Social tiveram como apresentador em 2014 o atual coordenador do MBL (Movimento Brasil Livre), Kim Kataguiri. Na época, o grupo que foi um dos pivôs do golpe ainda não havia sido formalmente criado.
Alimentação do antipetismo
Para o pesquisador Pablo Ortellado, coordenador do projeto Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP (Universidade de São Paulo), a rede de sites associada a Ernani Fernandes constitui “um ecossistema próprio” no universo de conteúdo político engajado na internet.
“Ele tem um portfólio tanto de sites como de páginas no Facebook”, aponta Ortellado. “Se a gente somar tudo, vamos ver que o alcance dele é de milhões de pessoas. Ele é um dos atores isolados mais influentes na rede que jogam com essa relação entre sites de notícias e páginas engajadas.”
A Folha Política é um dos principais sites citados em artigos, pesquisas e listas que abordam o fenômeno das “fake news” – notícias falsas publicadas na internet ou baseadas em informações distorcidas e tiradas de seu contexto original.
Ortellado afirma que os sites geralmente associados ao termo “fake news” apenas ocasionalmente produzem mentiras travestidas de notícias. “A maior parte do que é produzido por esses sites são matérias recheadas de pequenas distorções: exageros, manchetes apelativas, sensacionalistas ou em desacordo com o texto, especulações apresentadas como fatos, falsas atribuições e outros procedimentos de fraude de logro”, explica.
Da redação da Agência PT de notícias, com informações do UOL