Os alimentos continuam protagonizando a escalada inflacionária dos dois dígitos de Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes. Mas cuidar da saúde, encher o tanque, comprar o botijão de gás ou pagar a conta de luz também ficou mais caro. A “prévia da inflação” divulgada nesta sexta-feira (25) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) se dissemina pelos nove grupos de produtos e serviços que compõem o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15).
O indicador atingiu o maior nível para março em sete anos: 0,95%. Em março de 2021, a taxa foi de 0,93%. O IPCA-E, acumulado do IPCA-15 no primeiro trimestre de 2022, ficou em 2,54%, acima dos 2,21% registrados no mesmo período de 2021. Em um ano, o IPCA-15 soma 10,79%, acima dos 10,76% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores.
Como em janeiro e fevereiro, o principal puxador da inflação foi o grupo Alimentos e bebidas, que acelerou em relação ao mês anterior (1,20%) e apresentou a maior variação (1,95%) e o maior impacto (0,40 ponto percentual) sobre o IPCA-15. Saúde e cuidados pessoais, cujos preços subiram 1,30%, teve o segundo maior impacto. Na sequência veio o grupo Transportes, com 0,15 p.p. de contribuição e alta de 0,68%.
Juntos, os três grupos representaram 75% do impacto total sobre o IPCA-15 de março. Outros destaques foram Habitação (0,53%) e Artigos de residência (1,47%), este último com a segunda maior variação no índice do mês.
Houve disparada dos preços da cenoura (45,65%) e altas expressivas nos preços do tomate (15,46%) e das frutas (6,34%). As altas atingiram ainda os preços da batata-inglesa (11,81%), do ovo de galinha (6,53%) e do leite longa vida (3,41%).
No grupo Saúde e cuidados pessoais, houve alta dos itens de higiene pessoal (3,98%) e, em particular, dos perfumes (12,84%). Houve ainda aumento de 0,83% nos produtos farmacêuticos e de 0,58% dos serviços médicos e dentários.
Já os preços da gasolina subiram 0,83%, o subitem de maior peso no IPCA-15 (6,40%) e terceiro maior impacto no índice do mês (0,05 p.p). O aumento já reflete o mega reajuste de 18,77% do combustível nas refinarias, em 11 de março. Ocorreram altas também nos preços do óleo diesel (4,10%) e do gás veicular (5,89%).
Fipe também detecta aceleração inflacionária
A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) também divulgou nesta sexta seu Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede a inflação na cidade de São Paulo. O indicador subiu 1,14% na terceira quadrissemana de março, acelerando em relação à alta de 0,96% observada na segunda quadrissemana deste mês.
Na terceira leitura de março, quatro dos sete componentes do IPC-Fipe ganharam força: Habitação (de 0,53% na segunda quadrissemana para 0,71% na terceira quadrissemana), Alimentação (de 2,21% para 2,32%), Transportes (de 0,76% para 1,13%) e Despesas Pessoais (de 0,51% para 0,78%). Os custos de Vestuário e Educação avançaram 0,83% e 0,11%, respectivamente, na terceira quadrissemana do mês.
Coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe, o economista Guilherme Moreira lembrou que, em três anos, incluindo este, a inflação deve acumular alta de mais de 20%. “É muita coisa. É um quadro muito preocupante. Em três anos perdemos 21% do poder de compra e precisaríamos ganhar entre 20% a 21% a mais para compensar o poder de compra perdido”, afirmou ao Estado de São Paulo.
Não à toa, 97% dos entrevistados na medição quinzenal do Instituto Ipespe, também apresentada nesta sexta, disseram ter sentido a disparada inflacionária das últimas semanas. Para 77% deles, os preços “aumentaram muito”, enquanto outros 20% consideram que os preços “aumentaram”.
Entre os que acreditam que os preços continuarão a “aumentar muito” nos próximos meses estão 33% (eram 27% há uma quinzena), enquanto 46% estimam que eles “vão aumentar”. Os que acham que a economia vai no “rumo errado” são 63%, contra 27% que afirmam que ela está no “rumo certo”.
População se vira cortando as compras e se endividando no cartão de crédito
O indicador oficial da inflação brasileira, Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), será divulgado pelo IBGE em 8 de abril, mas uma pesquisa da consultoria global Kantar divulgada nesta semana revelou que, em 2021, com o IPCA a 10,06%, o brasileiro levou para casa um volume 5,6% menor de produtos de uma cesta com 120 categorias, entre alimentos, bebidas, higiene e limpeza, na comparação com o ano anterior. Em número de unidades, o recuo foi de 2,6%.
Mesmo comprando menos, o consumidor gastou 8,6% a mais do que em 2020. Em 2022, a alta de preços não deu trégua, pelo contrário (em 12 meses, até fevereiro, subiu para 10,54%). Esse cenário “se consolidou no final de 2021, especialmente no caso das commodities e dos produtos perecíveis, que inclui carnes”, afirma Raquel Ferreira, diretora comercial da Kantar.
A consultoria tira uma fotografia mensal da despensa de 11 mil domicílios para projetar as compras dos 58,8 milhões de lares do país. No último trimestre de 2021, o consumo dessa cesta de produtos caiu ainda mais em unidades: 5% em relação ao mesmo período de 2020. No caso das commodities (como farinha, arroz e óleo de soja), a retração foi de 7,7%. E o desembolso em reais pela cesta como um todo aumentou 5,5%.
Com a renda comprimida, brasileiros e brasileiras apelam cada vez mais para a modalidade mais arriscada de crédito. Nesta quinta (24), a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) revelou que o uso do cartão de crédito é responsável pelo endividamento de 72% dos moradores das duas mais populosas cidades do país – São Paulo e Rio de Janeiro – neste ano. A taxa era ainda maior em 2021 (81%).
Mas a proporção de entrevistados que se consideram muito endividados aumentou de 18% em 2021 para 23% em 2022. O desemprego (44%) e o cheque especial (42%) também aparecem em destaque na lista de principais fatores que levaram a população a se endividar.
Da Redação, com Imprensa IBGE