Na última atividade da Cúpula do G20, nesta terça-feira (19), o presidente Lula apresentou os resultados da Rodada de Investimento da OMS. Ao seu lado, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, e o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, destacaram a importância de investir na saúde global para um mundo mais justo e seguro.
O presidente Lula iniciou seu discurso criticando as desigualdades globais no investimento. “Enquanto a OMS luta para receber US$ 2 bilhões por ano para salvar vidas, o orçamento mundial para guerras é de US$ 2,4 trilhões. É uma diferença absurda. Isso mostra as prioridades distorcidas do mundo em que vivemos hoje. Precisamos de mais recursos para salvar vidas, não para destruí-las”, enfatizou.
Lula falou sobre a fome e compartilhou sua experiência pessoal com a falta de acesso a alimentos básicos. “Até os sete anos de idade, eu nunca tinha comido pão. Só fui conhecer pão quando saí de Pernambuco e fui para São Paulo. Essa desigualdade que afeta a saúde das pessoas é algo que nunca deveria ser aceito. O que nós estamos tentando fazer é garantir que as crianças não morram antes dos cinco anos, simplesmente por falta de comida ou água potável”, disse.
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O presidente reforçou que é necessário tratar a saúde como um direito fundamental, não como privilégio. “Quando falamos em saúde, falamos de dignidade. E é por isso que trazemos o tema da saúde e da desigualdade ao G20. Precisamos garantir que a saúde esteja no topo das prioridades globais, e não apenas nas conversas de quem nunca enfrentou a realidade da miséria.”
Saúde global
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, destacou o papel do Brasil na promoção da equidade em saúde. “O Brasil tem uma posição histórica de defesa da saúde global, desde a criação da OMS após a Segunda Guerra Mundial, e seguimos firmes nesse compromisso”, afirmou.
Ela também ressaltou o sucesso do Brasil ao liderar discussões no G20 que resultaram em compromissos concretos. “A declaração final do G20 reafirmou a importância de fortalecer o sistema multilateral de saúde, promover a inovação e garantir o acesso equitativo às tecnologias de saúde. Isso é fundamental para enfrentar futuras pandemias e crises sanitárias.”
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A ministra enfatizou que o Brasil defende uma abordagem de saúde única, que considera a saúde humana, animal e ambiental. “Esse é um conceito central para o futuro da saúde global, e o Brasil tem sido um dos principais defensores dessa abordagem integrada. O SUS mostrou ao mundo que é possível ter um sistema de saúde público, universal e de qualidade. É nosso dever fortalecer o SUS e garantir que ele esteja preparado para futuras emergências.”
Rodada de investimentos da OMS
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, agradeceu a liderança do presidente Lula e a mobilização do Brasil na cúpula do G20. “A rodada de investimento que anunciamos hoje é um marco importante para a saúde global. Estamos falando de recursos para manter o mundo seguro e salvar 40 milhões de vidas nos próximos 40 anos”, explicou Tedros. Ele destacou que, durante a pandemia de Covid-19, a OMS desempenhou um papel essencial, mas enfrentou limitações financeiras. “A pandemia mostrou que precisamos de financiamento previsível e flexível para poder responder rapidamente e salvar vidas”, acrescentou.
Tedros também anunciou que a iniciativa já recebeu 70 compromissos de financiamento, totalizando US$ 1,7 bilhão, e enfatizou a importância de ampliar a base de doadores. “Mais de metade dessas promessas vêm de contribuintes inéditos. Isso mostra um compromisso crescente, mas ainda temos muito trabalho pela frente para garantir a sustentabilidade da nossa estratégia global”, disse. A OMS espera arrecadar US$ 3,7 bilhões para implementar sua estratégia nos próximos anos.
Lula destacou o papel transformador do SUS durante a pandemia. “Durante anos, o SUS foi desacreditado e criticado. Mas, quando a Covid-19 chegou, o SUS provou ser o maior e mais importante sistema de saúde pública do mundo. O SUS não é apenas um serviço de saúde, é um símbolo de justiça social. É o direito à saúde para todos, independentemente da condição social.”
Desigualdade
Lula relatou histórias pessoais para ilustrar a necessidade de combater a desigualdade de forma mais eficaz. “Eu sou de um tempo em que, por falta de dinheiro e dentista, a gente ia até um benzedor para aliviar a dor de dente. E muitas crianças morriam por doenças que hoje são facilmente evitáveis”, relembrou. Ele também mencionou um ex-senador que, após anos na política, revelou a surpresa ao descobrir a pobreza extrema na periferia do Rio de Janeiro. “Isso mostra que muitos líderes políticos não têm noção do que é viver na miséria. E é por isso que é tão difícil colocar o tema da fome e da saúde na mesa das grandes decisões.”
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O presidente enfatizou que os recursos para a saúde precisam ser vistos como investimento, não gasto. “É inaceitável que em um mundo tão rico, com tanto dinheiro para armamentos, falte dinheiro para vacinas, pesquisas e tratamentos básicos. Precisamos garantir que a OMS tenha o necessário para fazer o seu trabalho”, declarou.
Luta contra a fome e a pobreza
Nísia Trindade reforçou a conexão entre saúde e segurança alimentar. “Quando falamos em saúde, estamos também falando de alimentação. A fome é uma das maiores causas de problemas de saúde no mundo, e combatê-la é fundamental para termos um planeta mais saudável”, afirmou. Ela ainda elogiou o papel do Brasil na criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, destacando que a cooperação internacional é a chave para resolver esses problemas.
O presidente Lula prometeu continuar a luta, mesmo depois de seu mandato. “Eu quero que vocês saibam que, enquanto eu tiver vivo, serei um soldado dessa causa. A OMS pode contar comigo, e eu vou cobrar de todos os líderes do G20 que mantenham seu compromisso com a saúde global. Precisamos de um mundo onde todas as crianças possam viver com dignidade”, finalizou.
Da Redação