Aos 75 anos de idade, completados na terça-feira, 27, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva diz estar preocupado com o rumo que o Brasil está tomando. Ele acusa o líder brasileiro de extrema direita de chefiar um governo de destruição e que joga contra os interesses da sociedade brasileira. “É um governo totalmente submisso aos Estados Unidos de Trump. E um governo submisso, que não se respeita, não tem chance de exercer uma influência internacional positiva”, alerta Lula, em entrevista à agência de notícias alemã DPA.
Na entrevista, ele não confirma que será o candidato do PT em 2022 à Presidência da República e sinaliza que estará na mestra trincheira eleitoral daqueles que querem a retomada do desenvolvimento econômico e social do país. “A candidatura presidencial não é uma questão de desejo pessoal. Em 2018, eu queria correr porque sabia que, com minha experiência, poderia fazer muito mais. Eu era o favorito para ganhar a eleição, mas eles criaram uma farsa para impedir minha candidatura”, afirma.
“O que eu quero, como candidato ou como apoiante de um candidato, é ajudar a vencer o atraso que se criou no Brasil. Podemos ter uma ampla coalizão contra o Bolsonaro em 2022 para recuperar o direitos do povo brasileiro”, explica Lula. Ele diz que é dever das oposições não apenas lutar contra Bolsonaro, mas explicar ao povo as consequências de suas escolhas políticas e econômicas. “O atual governo tenta, a todo o momento, reduzir os investimentos em educação, além de agredir professores e cientistas. Eles querem descartar a folha de pagamento mínima para professores e não mais reservar uma determinada quantia de gastos para a educação”, aponta.
A agência alemã DPA diz que Lula retomou suas atividades políticas após ser libertado da prisão há cerca de um ano. “Ele cumpriu 19 meses por acusações de corrupção, o que seus partidários consideram uma manobra para tirá-lo da corrida presidencial de 2018 e abrir caminho para a vitória do lateral-direito Bolsonaro”, aponta a reportagem, assinada pela repórter Martina Farmbauer. Na entrevista, Lula lembra que está em quarentena desde que voltou da Alemanha, em 11 de março, logo no início da pandemia do Covid-19.
“Estou preocupado com o Brasil e a desumanização das pessoas, o aumento da pobreza e as tensões que já começaram antes da pandemia e que esta crise acelerou”, afirma Lula. “No Brasil, houve um grande aumento do desemprego. E em um momento em que precisamos de liderança positiva e unidade, o país é governado por Bolsonaro, alguém que mente e busca a discórdia o tempo todo”.
Política de Bolsonaro é destrutiva
Lula diz que Bolsonaro subestimou os riscos do novo coronavírus e zombou das medidas preventivas sugeridas pela Organização Mundial de Saúde (PMS), além de desprezar a vida dos brasileiros. O país tem mais de 157 mil mortos. “Bolsonaro fez questão de anunciar a cloroquina, que não é eficaz contra o vírus. E agora, por pura ideologia, ele rejeita uma vacina desenvolvida pelo renomado instituto brasileiro Butantan, em parceria com a China”, lamenta. “Sua atitude não tem ajudado a vida dos brasileiros e nem a economia do Brasil”.
O ex-presidente da República, que governou entre 2003 e 2011, diz que a história julgará sua administração. “Governei por dois mandatos, lutei para fortalecer as instituições do país e saí com 87% de aprovação”, afirma. “Tenho orgulho de ter mostrado que um trabalhador poderia ser tão competente ou melhor um presidente do que os filhos da elite. Por ter promovido o maior processo de inclusão social da nossa história. Do aumento do número de jovens brasileiros obtendo ensino de alto nível. Do respeito internacional que o Brasil conquistou”.
A volta do Brasil ao Mapa da Fome e o agravamento da crise econômica e social brasileira são alguns dos problemas agravados pelo governo Bolsonaro. “Eu sei que um Brasil melhor é possível, porque nós provamos isso. O que quero é contribuir para que o Brasil recupere sua democracia, sua soberania, sua alegria e seu otimismo com o futuro”, aponta. “O país precisa recuperar os direitos consagrados na nossa Constituição: o direito à moradia, ao trabalho, à saúde e à educação”.
Lula diz que os direitos do povo brasileiro não podem existir apenas no papel e apenas para parte da população. Ele diz que este é o principal problema do país a ser enfrentado: a desigualdade. “Quando se luta para colocar os direitos em prática, é aí que surge a resistência das elites, e é aí que a política se torna mais importante. Quero continuar fazendo parte dessa luta”, avisa. “Quando a pandemia acabar, acho que o mundo vai estar em um cenário muito difícil – já está – e precisamos discutir muito como recuperar o humanismo, a solidariedade.
Da Redação