A subserviência aos Estados Unidos é a marca registrada do desgoverno Bolsonaro. Para além de atender os interesses do capital estrangeiro, Jair e sua base querem importar todas as desastrosas políticas públicas para saúde, educação, habitação e segurança do presidente Donald Trump. Bolsonaro, inclusive, já declarou que se inspira no mandatário estadunidense.
O problema é que Jair não explica para os brasileiros que aplicar as políticas dos EUA no Brasil significa uma retirada de direitos sem precedentes. Se hoje o país enfrenta problemas na saúde e educação, por exemplo, com o modelo estadunidense os trabalhadores vão sofrer ainda mais.
Apesar de ser apontada como uma democracia desenvolvida, os Estados Unidos caminha para ser o país “líder mundial de desigualdade extrema”, segundo Philip Alston, especialista em direitos humanos na ONU e professor de Direito na Universidade de Nova York. Ainda de acordo a pesquisa de Alston, que o G1 repercutiu, a pobreza nos EUA se aprofundou sob o governo de Trump, uma vez que suas políticas buscam remover uma rede de proteção aos mais pobres.
Segundo o estudo, nos EUA 41 milhões de pessoas, ou 12,7% da população, vivem em situação de pobreza, enquanto 18,5 milhões estão em situação de extrema pobreza. Crianças representam um em cada três membros dessas populações vulneráveis. “O ‘Sonho Americano’ está a tornar-se rapidamente a ‘Ilusão Americana’”, explicou Alston. E é justamente a retirada dos direitos, que compõem a rede de proteção dos mais pobres no Brasil, que Bolsonaro busca fazer no seu desgoverno.
Saúde privatizada
Os EUA não tem um sistema público e universal como Sistema Único de Saúde (SUS), que foi criado aqui no Brasil com a Constituição de 1988 ao definir a saúde como “direito de todos e dever do Estado”. Na terra de Trump, contudo, saúde não é nem direito, nem dever do Estado. Nos EUA, ou você paga um plano de saúde ou precisará ter dinheiro para pagar cada consulta e exame, o que não sai nada barato.
Outro problema na saúde estadunidense é que as seguradoras de planos não são fiscalizadas pelo governo, o que significa que elas podem alterar os preços ou vetar serviços aos usuários sem prestar contas. Essa característica, inclusive, deve soar como música aos ouvidos do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que tem largo compromisso com empresas de planos de saúde. Além de ter presidido a Unimed, ele também teve campanha eleitoral financiada pela Amil.
Educação é um privilégio
Quando pensamos na Educação nos EUA é inevitável não lembrar das grandes universidades que existem no país. O problema é que, assim como prega o ministro da Educação de Bolsonaro, Ricardo Vélez Rodríguez, “a ideia de universidade para todos não existe” na grande potência mundial. As principais universidades nos Estados Unidos são particulares e, por isso, as anuidades estão entre as mais caras do mundo.
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), cursos de especialização e curta duração custam em média R$ 7 mil por ano, a anuidade na graduação sai por R$ 25.400, em média, e o mestrado custa aos estudantes cerca de R$ 33.500 por ano. As consequências são graves. Um estudo realizado no âmbito do Programa Internacional para Avaliação de Competências (PIAAC, na sigla em inglês) revelou que os EUA teve uma performance considerada medíocre entre as nações membros da OCDE.
Cresce número de sem-teto nos EUA
Falar de habitação nos EUA é falar da crise da bolha imobiliária que atingiu o país em 2008. Naquele ano, cresceu o número de estadunidenses que atrasaram ou deixaram de pagar a hipoteca da casa própria. As empresas envolvidas nos empréstimos imobiliários foram afetadas. Como os imóveis eram a garantia para os empréstimos, a falta de pagamento provocou uma reação em cadeia. Famílias estadunidenses perderam suas casas e sob o governo Trump a situação só piorou.
A política trumpista de cortes em programas habitacionais acessíveis e instalações para saúde mental nas últimas décadas fizeram com que muitas pessoas acabassem nas ruas nos EUA. Segundo Alston, “as políticas do atual governo federal estão focadas em cortar, ao máximo possível, os subsídios para moradia. E acredito que o pior ainda está por vir”. Pela lógica de Trump, que Bolsonaro quer copiar, o Estado não deve subsidiar moradias populares para a população mais pobre, como ocorre no programa Minha Casa, Minha Vida dos governos do PT.
Armas de fogo e mortes de crianças
Bolsonaro sempre cita os EUA quando trata da questão de segurança pública e sua proposta de flexibilizar a posse de armas de fogo. O que ele não conta para os brasileiros é que no país de Trump o número de mortes por arma de fogo aumentou pelo terceiro ano consecutivo, segundo dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. Segundo o centro, a taxa está em 12 mortes a cada 100 mil habitantes, algo que não ocorria há mais de vinte anos. De acordo com dados do Global Burden of Disease, os EUA contabilizaram 37 mil mortes por arma em em 2016.
Além disso, todos os anos, 2.715 crianças morrem nos Estados Unidos por conta de armas de fogo, segundo a Academia Americana de Pediatras. Ainda de acordo com a instituição, 62,1% dos casos são de homicídios e 31,4% de suicídios – muitas vezes involuntários. O acesso à armas é algo cultural no EUA. Tanto é que houve mais de 90 ataques a tiros – homicídios envolvendo quatro ou mais vítimas – desde 1982 – sendo o pior o que ocorreu em 2017 em Las Vegas.
Casa Branca e Palácio do Planalto racistas
Se tem algo que Bolsonaro está à frente ou ao menos empatado com Trump é no racismo. Ainda candidato, Jair deixou claro seu desprezo pelos negros e comunidades quilombolas. Tanto é que ele superou o mandatário dos EUA e faturou dois dos três prêmios Idiota de Ouro, nas categorias Racista do Ano e Misógino do Ano do canal estatal France 2. Aqui no Brasil, Bolsonaro disse que quilombolas “não servem nem para procriar”.
Nos EUA, Trump aliviou para os ataques de supremacistas brancos em Charlottesville, em 2017. Na ocasião, um homem apoiador de crenças neonazistas jogou o carro contra manifestantes contrários aos supremacistas. Uma mulher morreu e outras 35 pessoas ficaram feridas. Ao comentar os fatos, Trump disse que havia “ótimas pessoas dos dois lados”. O presidente estadunidense também é publicamente conhecido por seu preconceito contra latino-americanos, algo que Bolsonaro parece querer reproduzir aqui.
Da Redação da Agência PT de Notícias