Partido dos Trabalhadores

Artigo: O que eu sei sobre André Ceciliano, por Luiz Eduardo Soares

A luta política pode ser vencida sem armas e gritos de guerra. O Rio está farto de sangue e iniquidades. Chegou a hora da virada com Lula, Freixo e Ceciliano, escreve Soares

Não é coincidência que os fascistas se oponham tão ferozmente ao que denominam “ideologia de gênero”, escreve Soares (Foto: Ricardo Stuckert)

Nós vivemos sob o signo da guerra. Não por acaso, o poder é patriarcal. A violência é masculina.

Mais de 90% dos assassinatos no mundo são cometidos por homens. Eles, nós, somos educados para terceirizar para o falo nosso valor. Por isso, ficamos, literalmente, pendurados na brocha. Inseguros, somos muito perigosos. Não é coincidência que os fascistas se oponham tão ferozmente ao que denominam “ideologia de gênero”.

Eles não odeiam as mulheres, individualmente, mas o feminino como signo de um mundo que ignoram e temem, um mundo que poderia vir a ser hostil ao autoritarismo falocêntrico e à exploração mercantil. Eles odeiam o potencial de construção política do feminino.

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Eles odeiam a população LGBTQIA+ porque temem a subversão dos papéis tradicionais, promovida por quem ousa privilegiar a liberdade fluente do próprio desejo e experimentar a indisciplina no jogo das identidades.

Às vezes, na esquerda, nós escorregamos, seja por negligenciar como “identitárias” as lutas que não compreendemos, seja por compartilhar preconceitos machistas (os quais não fazem a cabeça apenas dos homens). Não raro, cobramos postura esteticamente combativa de nossos representantes, exigimos que nossos candidatos ajam como guerreiros, gritem, hostilizem adversários, adotem a linguagem verbal e corporal do embate.

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O homem de esquerda se estiver na vida política, deve exibir disposição para o confronto. Com frequência, entre nós, há um veto estético a quem não se encaixa no modelo de inspiração militar. Um veto à fala mansa, ao estilo amável, ao articulador arguto que alcança finalidades estratégicas por meio da negociação, sem ardis e bravatas.

Negociar não significa ceder, transigir, trair princípios e renunciar a compromissos, mas reconhecer com realismo qual a correlação de forças em cada caso e avançar, passo a passo, sem necessariamente cantar vitória.

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Foi assim que André Ceciliano, como presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio, conquistou a vitória extraordinária que poucos estão vendo. Sem alarde, sem autopromoção, pé ante pé, sem dós de peito retóricos, sem brados doutrinários, com candura e respeito, fazendo valer a palavra empenhada.

Foi assim, com essa incrível coragem de ser simples e gentil, que André impediu que a esmagadora maioria bolsonarista na ALERJ fizesse avançar suas pautas conservadoras. O triunfo foi resistir em tempos tão sombrios e, em meio à tempestade fascistóide, promover avanços progressistas e democráticos.

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Os exemplos são inúmeros. Não se enganem com o jeito modesto do André: o Rio de Janeiro pode dar ao Senado um dos mais competentes, sensíveis e leais políticos brasileiros. A luta também se faz com a palavra serena e afetuosa, com o sorriso doce e a empatia. Nem sempre a força e a firmeza estão onde parecem estar.

A luta política muitas vezes pode ser vencida sem armas e gritos de guerra. O Rio está farto de sangue, fome e iniquidades. Chegou a hora da virada com Lula, Freixo e André Ceciliano.

Antropólogo e Cientista Político especialista em Segurança Pública