Partido dos Trabalhadores

Artigo: Olhem para cima!, por Washington Quaquá

“Não desrespeitei a ex-presidenta Dilma. Fiz uma observação política crítica e outra objetiva. Onde está a mentira no que falei? Onde estava o desrespeito no que falei?”, questiona Quaquá no artigo

Fernando Frazão/Agência Brasil

Washington Quaquá, ex prefeito de Maricá e vice presidente (eleito) nacional do PT.

Amanheci o dia com alguns xingamentos de alguns “militantes virtuais de esquerda de rede”, acompanhados de algumas sentenças: expulsa! Esfola! Pune! Só faltou o: Prende e arrebenta! Dos tempos da ditadura! Mas não ligo para esse pessoal que planta um “Pomar” que não dá frutos…

Tudo isso porque perguntado por um jornalista, num contexto da não ida da ex presidenta Dilma no evento do grupo prerrogativas, dando conta de que ela teria ficado chateada “com uma reunião com golpistas” e perguntando “qual o papel eleitoral dela na campanha do Lula”.

Respondi:

Não sou da coordenação (que aliás não foi formada) e não tenho influência sobre isso, mas “a Dilma não tem mais muita densidade eleitoral para ter um papel leitoral central na campanha do Lula”.

Portanto, como disse a presideta Gleisi. Falei em meu nome e, obviamente, não em nome do PT. E também não só não falei nenhuma mentira como não desrespeitei em nenhum momento a ex presidenta.

Depois indagado sobre se não achava ruim o presidente Lula fazer aliança com quem apoiou o golpe?

Eu disse:

“A direita brasileira e o centro romperam o pacto democrático de 1988, é isso foi uma tragédia pro Brasil. Deu no que Deu! Mas também precisamos reconhecer que à presidente Dilma faltou habilidade para tratar com a base aliada no Congresso”. Onde também não falei nenhuma mentira e não desrespeitei em momento nenhum a ex-presidenta:

Mas você não acha que é muito ruim uma aliança com quem apoiou o Golpe? Insistiu o jornalista!

Eu disse:

“Não! O passado é importante, mas não podemos cristalizar a história! Não vamos aceitar o voto do eleitor que voltou no Bolsonaro? A esquerda precisa levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima!”

E pronto! Finalizou a conversa.

E me digam onde está o desrespeito a presidenta Dilma?

Sinceramente!

Todos reconhecemos o valor da integridade pessoal e da vida de combate da ex-presidenta Dilma. Não está em questão!

Mas não me venham, como alguns, a me acusar de “Misoginia”, com a mesma facilidade e método que os bolsonaristas chamam os adversários de “comunista”!

Quer dizer que agora não se pode mais fazer uma avaliação política? E se essa avaliação política é em relação a uma mulher, vira misoginia? Poupem-me! É burrice ou é mau-caratismo que se chama? O combate ao machismo e o apoio à luta feminista é indispensável ao projeto civilizatório! Mas a banalização da adjetivação sem critério não fortalece, antes desmoraliza à luta necessária das mulheres!

Eu nasci em favela e ajudei a construir um partido quando ainda morava na beira de um rio, o Rio Mumbuca, em Maricá. O PT é o partido que deu vez e voz aos pobres, como eu!

Quer dizer que agora meia dúzia de petistas querem calar a minha voz? A voz que o PT me Deu e deu a milhões como eu? E ainda usando da pratica da desqualificação a critica e rasteira?

Não me filiei a um partido de quadros, stalinista, sem direito a crítica e sem a prática do debate!

Continuarei emitindo minhas opiniões, a não ser que o PT decida transformar opinião em crime e censurar o debate de ideias. Como isso não vai acorrer eu continuarei a falar o que penso!

Eu não queria sequer ser candidato a deputado federal, porque tive o mandato roubado pelo “lawfare” da Justiça. E juro que estou cansado dessa mediocridade da política! Decidi ser por conta da volta do Lula!

Lula para mim é prioridade absoluta, até mesmo sobre qualquer disputa eleitoral pessoal! Se precisar sacrificar candidatura pessoal eu o farei. Mas não vou deixar de contribuir com o debate do que acho melhor para a sua volta ao comando desse país! O Brasil e, sobretudo os brasileiros e brasileiras pobres, precisam de Lula.

Lula precisa ganhar! Mas não precisa só ganhar! Precisa ter condições de governabilidade! Governabilidade para fazer mudanças e construir um pacto para melhorar a vida do povo! O futuro do Brasil, da democracia, do povo e da esquerda está sendo jogado nessa eleição presidencial!

É preciso ampliar as alianças para vencer as eleições. E vencer não será nem a principal batalha. Precisamos tomar posse e governar, porque a direita fará o que fez com Getúlio no segundo mandato.

Como nas palavras do canalha de então, Carlos Lacerda, que sentenciou, com relação a Getúlio: “”Não pode ser candidato. Se for, não pode ser eleito. Se eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar”.

Alguns iludidos que caíram no buraco de Alice e vivem no País das Maravilhas, de mãos dadas com um coelhinho vermelho, dirão que temos que mobilizar o povo e a esquerda para sustentar as mudanças!

Não discordo que temos que primeiro ORGANIZAR o povo e mobilizá-lo. Problema é que no geral quem vocifera isso não organiza uma kombi para uma atividade política na periferia. Vamos lá, um fusca…

E o Brasil não tem força popular organizada que altere a correlação de forças sociais e políticas para mudanças radicais. Aqui a mudança social precisa ser um processo de avanço na organização popular paulatina e crescente, para ir sustentando mudanças a medida que avançamos na alteração da correlação de forças.

A realidade, o tamanho e a complexidade do Brasil são muito maiores que essas vans filosofias de botequim de classe média.

Precisamos primeiro ampliar ao máximo as alianças em direção ao centro. Estado por Estado, porque o Brasil é grande e cada estado tem sua própria dinâmica política. Cada região é quase um país. E de fato maior que muitos em território, população e diversidade cultural. Sigamos o exemplo dos companheiros e companheiras do nordeste que consolidaram uma hegemonia popular e transformadora!

Depois, rachar as elites e atrair uma parte do empresariado para um programa econômico reformista, primeiro de baixa intensidade, que garanta comida na mesa e dignidade mínima ao povo, fortalecendo a dinâmica de construção do estado de bem estar social precário e inconcluso do Brasil. Rumo a construção de uma Estado de Bem Estar Social pujante e verdadeiro, que avance a consciência popular e sua organização rumo a um socialismo democrático. Para isso é preciso construir um pacto que garanta por 30 anos três eixos essenciais para o país:

1- Fortalecimento da democracia e desmonte do Estado Policial, com garantia das liberdades e direitos individuais; da participação e organização popular; do Estado de direito e da presunção da inocência no devido processo legal;

2- Da soberania nacional, com o controle das riquezas nacionais, sob comando do Estado, mesmo que aberto a parceria com o capital nacional e internacional, em especiais controlando os resultados financeiros, industriais e tecnológicos das riquezas minerais, obviamente com critérios e cuidados ambientais;

3- Distribuição de renda e riqueza de forma paulatina, mediante a criação de uma Lei Geral de Desenvolvimento com discrição de renda e riquezas. Para que tenhamos uma Brasil cada vez mais justo, sem fome e miséria e com oportunidades crescentes e melhores para cada geração.

O presidente Lula tem dito que quer fazer deste terceiro governo um governo melhor que os dois primeiros. Ele tem toda razão! E não o fará se for um governo de confronto, com muito desejo e pouco combustível.

Terá que fazer um pacto que lhe garanta forças. Forças no congresso nacional; forças sociais amplas (inclusive com PARTEda burguesia); força internacional (que ele tem muita!); força moral e política que ele também tem de sobra, assim como sua imensa capacidade política e de atração e sedução.

E só Lula tem força pra construir um pacto de 30 anos de prosperidade! Prosperidade para o Brasil e para o povo brasileiro! Um pacto Lula + 30!

Mas é um pacto para além do PT! Para além até da esquerda! Um pacto para além do próprio Lula biológico. Um pacto do Lula como grande figura nacional. Como símbolo da nacionalidade de baixo. Do povo brasileiro que nos ensinou Darcy Ribeiro. Lula é a síntese do sucesso desse povo brasileiro na arena da política.

E o que tudo que falei tem a ver com esse histerismo em relação a uma declaração simples e nada desrespeitosa que dei em relação a ex presidenta Dilma?

Tem a ver que não podemos cometer os mesmos erros cometidos. E tem muita gente querendo cometer. Em essência esses que criticam o ato do grupo prerrogativas e a foto do presidente Lula com Geraldo Alckmin.

Não podemos nem cometer os erros de:

– Não organizar o povo;
– Não fortalecer os partidos de esquerda e organizações populares;
– Escolher mal ministros de Supremo; STJ etc;
– Dar autonomia político/persecutória/ilegal a PF;
– Deixar que uma corporação se autogoverne e faça o que quer, inclusive escolhendo seu procurador geral, como no caso do MPF;
– Criar leis como a do terrorismo; MP conduzir inquéritos e investigação; Delação premiada sem nenhum critério; etc etc etc…

E nem os erros de:

– descuidar e tratar mal a base aliada no congresso e não saber fazer conta na hora de disputar o comando da câmara e do senado;
– não entender que o Congresso, para o bem e para o mal, represente s sociedade brasileira e suas virtudes e deficiências, é que nenhuma sociedade é uma loja de perfume francês, cheirosinha… E que é preciso fazer política com base na realidade existente;
– Etc etc etc

Então meus companheiros e companheiras fiquem certos de que eu continuarei dando minhas opiniões, no sentido de contribuir com o debate.

Eu nasci na favela do Caramujo em Niterói, filho de uma família muito pobre. Meu bisavô veio de Portugal em 1913 para vender miúdos de porco no lombo de um cavalo, e morreu fazendo isso; minha vó uma negra neta de escravos.

Como já disse, e vou repetir, tenho muito orgulho de, com 14 anos, ter ajudado a fundar o PT já em Maricá, onde fui morar na beira do Rio Mumbuca, onde nem descarga e nem chuveiro tinha no banheiro. Coisa que só conheci com 18 anos de idade.

Só o PT possibilita que gente como eu possa ter futuro. Seja dando dignidade a milhões, como fizemos em nossos governos, em especial nos do Lula e no primeiro da Dilma; e em vários estados e municípios; Seja fazendo com que pobres como eu pudessem ser prefeitos e mudassem a história de sua cidade, como fiz em Maricá!

Não ajudei a fundar um partido stalinista; autoritário e elitista. Não vai, no PT, ninguém me dizer a opinião que eu tenho que ter! Falo o que penso e o que quero! Dentro, obviamente dos limites do respeito e do nosso ideário político macro.

Não desrespeitei a ex presidenta Dilma. Fiz uma observação política crítica e outra objetiva. Onde está a mentira no que falei? Onde estava o desrespeito no que falei?

Até Prestes, Marighella, o velho e querido Apolônio de carvalho erraram! Porque a presidenta que tem grandes contribuições dadas as povo, eu sei, não pode errar?

Criticar Lula ou Brizola, ou Mandela, é possível, como é com qualquer um ou uma… E isso é misoginia?

O setorial de mulheres fez uma nota tentando me acusar de misoginia! Poupem-me! Temos que tratar nos setoriais de organizar o povo! As mulheres, os negros e negras, Os LGBTQIA +; os indígenas; etc para que suas reivindicações e direitos sejam organizados e ouvidos; fazer com que o dinheiro de seus fundos eleitorais cheguem a todos e todas com critérios igualitários e objetivos para crescer a representação politica…

Enfim, vamos seguir a orientação que o comandante Rochinha, dirigente histórico de nossa tendência interna, a CNB, com sapiência e capacidade política dirigente, fez, com elegância e companheirismo. Ele o fez num dos grupos da CNB e respeito suas críticas.

Mesmo que não concordemos com tudo que um companheiro e companheira tenha dito. Ouça! Reflita! Leia primeiro o que foi dito! Depois debate com honestidade!

Não veja um filme na Netflix achando que ele fala de Trump, Bolsonaro e os bolsonaristas, porque ele pode estar falando também de você!

Olhe para cima!

Washington Quaquá, ex prefeito de Maricá e vice presidente (eleito) nacional do PT.