O presidente Lula anunciou, na segunda-feira (24), durante viagem à Argentina, que o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) vai voltar a apoiar as empresas brasileiras de engenharia que querem exportar seus serviços e realizar obras no exterior.
Imediatamente, parte da oposição ressuscitou a fake news de que os governos do PT usam o BNDES para emprestar dinheiro para outros países realizar suas obras. Por isso, voltamos a esclarecer o que é e qual é a importância dessa forma de empréstimo.
Como mostramos no tira-dúvidas abaixo, o financiamento de exportação de engenharia não só fortalece o mercado de trabalho e a indústria brasileira como pode ser um impulsionador do desenvolvimento de toda a América Latina, o que também é muito positivo para o Brasil.
Afinal, como lembrou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que acompanha Lula na viagem à Argentina, o desenvolvimento dos demais países favorece o crescimento do Brasil. Haddad lembrou, por exemplo, que são os países sul-americanos que compram os produtos manufaturados brasileiros. Uma América do Sul empobrecida significaria um prejuízo nas exportações brasileiras, ressaltou o ministro: “Nossas exportações de manufaturados são para América do Sul. Se a gente perder esse espaço, aumenta a desindustrialização na região”.
Outro exemplo, também apresentado nessa viagem à Argentina, é a possibilidade de o BNDES financiar empresas brasileiras que fornecerão peças para a conclusão do gasoduto de Vaca Muerta, gigantesca reserva de gás natural no país vizinho. Ao concluir o gasoduto, a Argentina poderá vender seu gás, e o Brasil terá mais uma opção de adquirir o produto, diminuindo sua dependência da Bolívia.
1. O BNDES não empresta para outros países, mas para empresas brasileiras
Dizer que o Brasil pega dinheiro e empresta para que outros países façam seus portos, metrôs e outras obras é uma mentira espalhada de propósito para confundir a opinião pública. O que o BNDES faz é emprestar para as empresas brasileiras que querem exportar seus serviços.
Por exemplo: um país deseja construir um porto. Uma empresa brasileira pode entrar na concorrência e ser contratada pelo governo desse outro país para fazer a obra.
Mas, para entregar esse serviço, essa empresa precisa “gastar” antes de receber. Ela vai precisar, por exemplo, produzir e exportar máquinas, contratar engenheiros que vão planejar a obra etc.
Para conseguir fazer esse investimento inicial, ela pode recorrer ao BNDES e tomar dinheiro emprestado. Então, o BNDES está emprestando para a empresa brasileira, não para outro país.
O dinheiro nem sai do Brasil. O empréstimo é feito em real para a empresa brasileira. E é a empresa que fica devendo o BNDES.
2. É um empréstimo igual ao feito a qualquer exportador brasileiro
Uma forma de entender melhor esses empréstimos feitos a empresas de engenharia é perceber que eles são iguais aos empréstimos feitos ao agronegócio, por exemplo.
Vamos supor que um país quer comprar soja do Brasil. Um fazendeiro brasileiro pode negociar com esse país e garantir que vai entregar x toneladas de soja todo ano para aquele país.
Antes de vender a soja, porém, esse produtor vai precisar “gastar”, ou seja, fazer um investimento. Ele vai comprar máquinas de plantio e irrigação, vai contratar funcionários para plantar e colher, vai contratar técnicos que vão preparar o solo, vai comprar fertilizante, vai contratar o transporte que vai levar a soja até o porto etc.
E, para conseguir o dinheiro necessário para esse investimento inicial, ele pode recorrer a um banco público (como o Banco do Brasil, a Caixa e o BNDES) e fazer um empréstimo.
Nos dois casos, os bancos estão emprestando para um exportador brasileiro. Só que um exporta soja, o outro exporta engenharia. Então, dizer que o BNDES deu dinheiro para um governo fazer uma obra é tão absurdo quanto dizer que Brasil deu dinheiro para outro país comprar soja.
3. O dinheiro do BNDES não vai contratar trabalhadores estrangeiros
A prova de que os empréstimos são iguais é que, no caso das empresas de engenharia, o financiamento do BNDES não cobre, por exemplo, bens adquiridos no exterior ou gastos com mão de obra de trabalhadores que estão no outro país.
Ele cobre exclusivamente os bens e serviços de origem brasileira utilizados na obra. Lembrando: o empréstimo é feito em real, dentro do Brasil, para a empresa brasileira.
4. Se o governo do outro país não pagar, ele fica devendo à empresa, não ao BNDES
Como o governo do outro país assinou contrato com a empresa brasileira, caso ele deixe de pagar, ele fica devendo a empresa, não o BNDES.
Já a empresa brasileira faz seguros que cobrem algum prejuízo caso o governo do outro país atrase os pagamentos. Assim, as chances de o BNDES tomar calote são bastante reduzidas.
5. Ajudar empresas a exportar engenharia é vantajoso para o Brasil
Como vimos, quando uma empresa brasileira exporta seus serviços de engenharia, ela acaba exportando máquinas e contratando mão de obra bastante qualificada. Isso fortalece tanto o mercado de trabalho quanto a indústria do Brasil.
Se a obra não for feita por uma empresa brasileira, uma empresa de outro país vai realizá-la. E, aí, vai ser a indústria e os trabalhadores desse país que vão ser beneficiados.
6. As empresas brasileiras acabam lucrando e participando do crescimento de toda a região
Além das vantagens para o mercado de trabalho e a indústria brasileira, o fato de os países da América Latina poderem contratar os serviços de engenharia do Brasil ajudam também no desenvolvimento de toda a região, o que também é positivo para o Brasil.
Quanto mais todo o continente se desenvolver, mais fortalecido será seu mercado interno e mais oportunidades haverá para o comércio entre as nações da região. Isso, consequentemente, traz impactos positivos na industrialização e na geração de empregos desses países. Em outras palavras, se se desenvolverem juntos, os países latino-americanos podem crescer muito mais.
Um exemplo perfeito disso pode ser o gasoduto de Vaca Muerta, mencinoado acima. O BNDES pode ajudar empresas brasileiras a vender tubulações para a Argentina, a um preço mais barato que o das peças chinesas, por exemplo. Depois que o gasoduto ficar pronto, a Argentina poderá vender seu gás ao Brasil, que não dependerá tanto da Bolívia. Assim, todos ganham.
Veja entrevista em que a atual secretária-executiva da Casa Cil, Miriam Belchior, explica os empréstimos do BNDES:
Da Redação