Mais do que derrubar a economia, Jair Bolsonaro e Paulo Guedes criaram uma situação em que um problema gera outro problema que gera outro, como uma bola de neve que só cresce e empurra o Brasil montanha abaixo. Um exemplo claro está estampado nos jornais nos últimos dias, quando os números do comércio começaram a ser divulgados.
A inflação descontrolada, que corroeu a renda das famílias, está simplesmente destruindo o varejo, cujas vendas, em setembro, caíram em relação a agosto ainda mais do que era esperado. De 10 segmentos de comércio avaliados pelo IBGE, oito tiveram queda no volume de vendas e os outros dois ficaram estagnados, mostra reportagem do jornal Valor Econômico (veja gráfico abaixo).
O setor de hiper e supermercados, que apresentou diminuição de 1,5%, não têm dúvidas de que a grande culpada é a inflação. O Carrefour, por exemplo, em seu relatório para o período de julho a setembro de 2021, cita uma “deterioração do poder de compra dos consumidores” e lembra que a inflação alimentar dos últimos 12 meses “continuou persistentemente elevada, em 14,7% em setembro, de acordo com dados do IBGE”.
Ao Valor, o coordenador da Sondagem do Comércio do FGV Ibre, Rodolpho Tobler, afirmou que não se pode mais culpar a pandemia de Covid-19 pelos maus resultados. “Os efeitos da pandemia têm ficado cada vez mais para trás e questões macroeconômicas se sobressaem. A maior é de fato a inflação, que tem se mantido num patamar mais elevado”, disse.
Pessimismo
Levantamentos mostram que o Brasil terá, em 2021, uma inflação mais alta do que a de 83% dos países do mundo. E o governo Bolsonaro nada faz para atacar as principais causas, como a dolarização do preço dos combustíveis (que eleva o custo do transporte e faz os produtos, inclusive alimentos, ficar mais caros) e o alto custo da energia, que encarece a produção.
Com isso, o cenário que se instalou é de completo pessimismo, pois, além de não combater a inflação, o governo cria outros problemas, como a elevação da taxa de juros, que dificulta ainda mais a vida do setor produtivo e impede a recuperação econômica. “Preocupa o cenário dos próximos meses porque esses números ainda não têm impacto dos aumentos da Selic, que devem trazer mais desaceleração para o ano que vem”, afirmou Rodolpho Tobler.
O contrário de Lula
Nesta sexta-feira (12), após a confirmação de que, além do varejo, a produção industrial e o setor de serviços também caíram, economistas concluíram que a economia brasileira oficialmente parou após o terceiro trimestre deste ano. O quadro que se desenha é o da famigerada estagflação.
Em resumo, Bolsonaro e Guedes fizeram o oposto do governo do presidente Lula, que, ao valorizar o salário mínimo, criar políticas de distribuição de renda e manter a inflação sob controle, fez a economia entrar em um círculo virtuoso, em que uma boa notícia fazia surgir outra boa notícia que fazia surgir outra. Eram bons tempos, quando o brasileiro estava com dinheiro no bolso e longe da fome.
Da Redação