Nesta quarta-feira, 17, em Doha, capital do Catar, Bolsonaro voltou a atacar o Enem usando falsas comparações com sistemas educacionais de outros países. Na segunda-feira, Bolsonaro disse o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) “começa agora a ter a cara do governo”.
Sem argumentos, Bolsonaro apelou para o seu besteirol ideológico extremista. “Olha o padrão do Enem do Brasil. Pelo amor de Deus! Aquilo mede algum conhecimento, ou é ativismo político? Ou é ativismo também na questão comportamental. Não precisa disso”, disse Bolsonaro tentando desacreditar o exame.
Segundo o jornal Nexo, o Enem e dois dos maiores vestibulares do país, a Fuvest (que seleciona para a USP, a Universidade de São Paulo) e a Comvest (Unicamp), ja registram queda nas inscrições de estudantes negros e de escolas públicas nos processos seletivos para o próximo ano. Os dados foram levantados pelo portal UOL.
“Um Enem com a ‘cara do governo’ é simplesmente ilegal. As universidades que adotam o exame podem inclusive questionar os itens que confrontam a pesquisa e a ciência. Não foi fácil construir a credibilidade acadêmica do Enem”, advertiu o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad.
Haddad, ressalta que a reforma do Enem, em 2009, foi a maior iniciativa da história para a acabar com o vestibular e criar o Sistema de Seleção Unificada (SiSU). “São políticas afirmativas. Deu muito trabalho e olha agora o descaso dessa joça de governo”, denuncia Haddad.
Para Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação Universidade de São Paulo (USP) e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, “o Enem não está prejudicado — está finalizado — mas está sob risco (enquanto política pública)“. Segundo Cara, em 2019, eles começaram o ataque ao banco de itens.
“O que está em risco nesta edição é a questão da logística, mas os estudantes não podem se preocupar com isso. A qualidade da prova está mantida. A sociedade civil deve solicitar, via Lei de Acesso à Informação (LAI), informações sobre o Enem e todos os outros processos do Inep”, alerta ele.
Na semana passada, 35 servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) pediram exoneração de seus cargos. Os funcionários, entre eles coordenadores-gerais do exame, alegaram falta de comando técnico e fragilidade administrativa na atual gestão do Inep.
Para o também ministro da Educação, Aloízio Mercadante, “nos governos do PT, o Enem foi transformado no grande caminho de oportunidades de acesso à educação superior brasileira, sendo o critério republicano para programas como o Sisu, o Fies, as cotas e o ProUni”.
“Para dar segurança ao exame, realizamos aprimoramentos de gestão e elaboramos um processo que envolvia, desde a elaboração até a realização e correção, mais 11 módulos de segurança e mais de 3,6 mil pontos de controle, além de parceria com a Polícia Federal para a prevenção de tentativas de fraude”, destaca em artigo recente.
Da Redação