Dilma: “Sob um governo neoliberal e neofascista, não há educação e cultura”

“Enquanto isso perdurar, a educação será considerada secundária, a cultura, desnecessária”, afirma Dilma, na estreia do ‘Entre Elas’. “O empoderamento da mulher passa pela atividade política”, aposta

Foto: Roberto Stuckert Filho

Dilma: "Precisamos da educação como um caminho de superação da miséria e da pobreza”

O desafio de resistir e superar o massacre neoliberal e de ultradireita do atual governo contra o povo brasileiro, em especial, as mulheres, foi tema da estreia do programa Entre Elas, no canal do PT de Minas no You Tube, nesta quinta-feira (4). Coordenado pela secretária Nacional de Finanças e Planejamento do PT, Gleide Andrade, o programa teve como convidada a ex-presidenta Dilma Rousseff. A live contou ainda com a participação da deputada estadual Leninha (PT-MG), da vereadora por Belo Horizonte Macaé Evaristo (PT-MG), da vice-presidente do PT de Minas Gerais, Patrícia Melo, e da professora da Rede Pública de Ensino, Thay Araújo.

No centro da luta política, as participantes apontaram para a construção de um caminho de participação equitativo das mulheres na vida pública brasileira para derrotar o fascismo e vencer a pobreza que assola sobretudo a população negra.

“Temos de ser capazes de perceber que temos hoje um governo neoliberal e neofascista. Enquanto essa situação perdurar, a educação será considerada secundária, a cultura, desnecessária, a pesquisa científica e tecnológica, abandonada”, avaliou Dilma Rousseff. “Precisamos da educação como um caminho de superação da miséria e da pobreza”.

“A questão do empoderamento da mulher passa pela atividade política”, apontou Dilma. “As mulheres precisam fazer política, é uma luta conjunta. Ainda tem muito misógino solto por aí, aquele que não se conforma com o fato de que as mulheres tenham algum tipo de poder”, observou Dilma. “Querem nos converter só para a vida privada, porque já mostramos que damos conta, mas queremos a vida pública”.

Mulheres na pandemia

Dilma chamou a atenção para o papel crucial das mulheres na pandemia, atuando na linha de frente dos serviços essenciais. “As mulheres são as enfermeiras que trataram de pacientes com Covid nos hospitais, os caixas de mercado em contato com o público. Nos momentos mais difíceis da pandemia, a mulher é quem estava na linha de frente”, defendeu. “Além de ser capaz de acolher, de dar a amor, a mulher luta”.

Ela também lamentou a volta do país ao Mapa da Fome das Nações Unidas. “Temos 20 milhões de pessoas passando fome no Brasil. E, pelos dados estatísticos, você tem mulheres, jovens e crianças passando fome”, apontou a ex-presidenta.

PEC 125

Gleide Andrade citou a PEC 125, que trata da reforma do sistema eleitoral brasileiro, para identificar retrocessos e a importância da luta por mais participação da mulher na política. “De 513 deputados federais, 77 são mulheres, o que corresponde a 15%. Temos centenas, milhares de casas legislativas sem nenhuma mulher”, apontou Gleide.

“Essa PEC 125 precisa ficar na memória das pessoas como um recado, o de que a nossa luta ainda é frágil, precisamos intensificar nossa luta por mais mulheres na política, por mais espaço”, comentou Gleide, na conversa com Dilma. “A sua história de vida é motivo de grande inspiração para todas nós mulheres”, elogiou Gleide.

“Somos a maioria da população, não podemos ter uma representação tão precária. A PEC tinha uma grande importância, porque mostrava que tem de ter medidas para garantir que as mulheres tenham paridade com os homens nas casas legislativas”, destacou Dilma. “A vida pública, pelo patriarcalismo, é reservada aos homens, isso não é justo para nós nem para os homens. Afinal, somos as mães deles”.

Legado do PT

Patrícia Melo destacou a importância dos programa sociais e o legado do governo Dilma Rousseff. “Só no município de Uberaba (MG) foram contratadas mais de 23 mil casas do Minha Casa, Minha Vida, entregues 13 mil”, além de duas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), afirmou.

“Eu vivi na prática a melhoria dos governos do PT. Sou do distrito rural, onde as meninas da minha sala voltaram a estudar por causa do Bolsa Família”, lembrou. “São hoje médicas, advogadas”.

Ataque à educação

“Estamos em um governo marcado por desigualdades de ordem econômica e cultural, sofremos constantes cortes e ataques à educação”, relembrou a professora Thay Araújo. Ela citou a importância do centenário de Paulo Freire para a educação e quis saber como retomar um projeto de valorização do ensino no país.

“Temos de mudar essa estrutura de poder, que bloqueia todo o desenvolvimento educacional no Brasil”, ponderou Dilma. “Sem educação, não há produção científica e tecnológica”, insistiu. “Não será possível se emparelhar com um mundo dominado por inteligência artificial, internet das coisas, carros sem motorista, telemedicina”, comentou. “Temos de entrar quarta revolução industrial”.

Herança da escravidão

Dilma também sustentou que a superação da miséria passa pela luta popular das comunidades negras, que deve ter dimensão e caráter nacional. “Temos uma herança da escravidão, pelo desprezo que existe na elite pela maioria da população. A elite não olha a população como sujeito de direitos, mas como objeto de exploração”, lembrou a presidenta. 

“Tivemos 300 anos de escravidão, a elite é oriunda da elite escravocrata. Pelo último censo, a maioria da população é de pretos e pardos, como diz o IBGE. Somos o segundo país negro do mundo. Então, a questão negra não é apenas social, ela é nacional”, alertou.

Dilma enfatizou que até o início dos governos do PT, as empregadas domésticas, predominantemente negras, não tinham nenhum direito trabalhista. “Não tinham direito a férias, 13º, direito previdenciário”, disse a presidenta. “O que é gravíssimo no Brasil é que isso foi uma luta para conquistar”, pontuou, lembrando o papel fundamental da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) no reconhecimento da atividade perante as leis trabalhistas.

Violência contra a mulher

Macaé Evaristo demonstrou preocupação com a crescente violência política contra vereadoras e deputadas do PT e de outros partidos progressistas. “A violência cresce de forma muito superior ao aumento da nossa participação efetiva, tanto no Legislativo quanto no Executivo. Fica evidente a estratégia de silenciar e desencorajar as mulheres à disputa e ocupação de cargos eletivos”, ponderou.

Dilma destacou para a importância da criação de um observatório para acompanhar a violência política contra mulheres. “Cada estado tem de formar esse observatório, a violência política não é só física, é também a desqualificação, o xingamento, as fake news”, enumerou Dilma.

A ex-presidenta também defendeu a união da luta parlamentar com a dos movimentos sociais e dos sindicatos como instrumento de fortalecimento das mulheres. “A presença da mulher deve estar em todas as esferas”.

2022

Leninha argumentou que é fundamental uma articulação política para garantir a presença de mulheres negras nas eleições de 2022, uma vez que serão palco de uma das mais importantes lutas populares da história brasileira.  Ela quis saber de Dilma como construir o caminho para aumentar essa participação das mulheres negras em “espaços de decisão política e da gestão pública”.

Dilma defendeu o sistema de cotas para aumentar a participação. “Esse processo de cotas é muito questionado por aqueles que são contra as mulheres, os negros, eles veem como privilegio. Mas as cotas são a ruptura com um processo secular de exclusão”, opinou. “Teremos muitas candidatas negras em 2022, há uma consciência negra crescente”.

Da Redação

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