A mentira mais repetida por Jair Bolsonaro, segundo levantamento do site de checagem Aos Fatos, é a de que seu governo chegou até aqui sem nenhum escândalo de corrupção. “Estamos há três anos e três meses sem corrupção”, gosta de repetir. Além de ser a mais frequente, essa é também a mentira mais descarada do ex-capitão. Afinal, seu governo está a zero dia sem um escândalo de corrupção.
O mais novo, que se soma a uma grande lista, foi revelado na noite de segunda-feira (21) pela Folha de S. Paulo. Trata-se de um áudio no qual o ministro da Educação, Milton Ribeiro, admite, diante de prefeitos, que um esquema de liberação de verbas, comandado por um pastor sem ligação formal com o MEC, foi montado a pedido do próprio Bolsonaro.
“A minha prioridade é atender, primeiro, os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos que são amigos do pastor Gilmar. (…) Por que o Gilmar? Porque foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim”, diz Ribeiro, na gravação. O ministro ainda acrescenta que, ao terem seus pedidos atendidos, os prefeitos “amigos” do pastor Gilmar teriam que dar uma contrapartida: “O apoio que a gente pede é apoio sobre construção de igrejas” (ouça abaixo).
A fala do ministro Milton Ribeiro, que também é pastor, é muito clara. Um pastor evangélico sem ligação formal com o MEC tem o poder de determinar quais prefeitos serão atendidos pela pasta. Em troca, esses prefeitos devem apoiar a construção de templos ligados à igreja desse pastor. E mais: todo esse esquema foi um “pedido especial” de Jair Bolsonaro.
Pastores têm amplo acesso ao MEC
A existência desse esquema começou a ser revelada na sexta-feira (18) pelo jornal O Estado de S. Paulo. Segundo o diário, o pastor Gilmar Silva dos Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, e Arilton Moura, assessor de Assuntos Políticos da entidade, lideram um gabinete paralelo que tem o controle da agenda e até o orçamento do MEC.
Ainda segundo o Estadão, os dois pastores acompanhar Milton Ribeiro em viagens oficiais, usam com frequência aviões da FAB e levam prefeitos a Brasília para reuniões no MEC. O jornal apurou que os dois religiosos tiveram, nos últimos 15 meses, 22 agendas oficiais no ministério, sendo 17 delas com participação de Ribeiro.
Também segundo a reportagem, os prefeitos costumam ser do Progressistas, do PL e do Republicanos, partidos que integram o Centrão, que, de acordo com o UOL, comanda o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão que concentra os recursos do ministério e é presidido por Marcelo Ponte, ex-assessor do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente do Progressistas. O FNDE tem um orçamento de R$ 945 milhões — no total, o MEC tem R$ 45 bilhões de verba.
PT aciona STF
Após a denúncia feita pelo Estadão, a Folha obteve a gravação que liga Bolsonaro diretamente ao esquema. A revelação fez com que o termo “Bolsolão do MEC” se tornasse um dos temas mais comentados do Twitter e gerou diversos pedidos de investigação, incluindo de parlamentares do PT.
O líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), classificou a gravação de “indecorosa”. Para ele, é urgente que o Congresso Nacional tome providências. “Um esquema criminoso colocar a educação do Brasil a serviço de igrejas com liberação de verbas do MEC para amigos do pastor Gilmar e a pedido do Bolsonaro”, criticou o líder.
Já o senador Fabiano Contarato (PT-ES) informou que pedirá ao Supremo Tribunal Federal (STF) a imediata abertura de inquérito. “Milton Ribeiro converteu o MEC num balcão de negócios para suas traficâncias rasteiras, negociando favores públicos à luz do dia”, disse.
A bancada do partido na Câmara também reagiu. “Igrejas são entes particulares privados. Então, quando o ministro da Educação confessa que, a mando de Bolsonaro, está liberando dinheiro público para igrejas ao invés de aplicar em escolas, universidades, livros, merenda, salário de professores, estamos, sim, diante de um CRIME!”, resumiu o deputado Bohn Gass (PT-RS), no Twitter.
“O áudio divulgado hoje na imprensa demonstrou o esquema e escandalizou o país. Queremos investigação e punição já”, cobrou o deputado Henrique Fontana (PT-RS), ao apoiar a decisão a Minoria da Câmara que apresentou notícia-crime no STF contra Jair Bolsonaro e Milton Ribeiro por advocacia administrativa e prevaricação.
Da Redação, com PT no Senado