No mesmo dia em que fez um discurso agressivo na abertura da Assembleia Geral da ONU, o presidente Donald Trump viu a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos abrir um processo de impeachment contra ele. A presidente do Legislativo estadunidense, a democrata Nancy Pelosi, fez um pronunciamento na TV no qual apontou que “o presidente deve ser responsabilizado. Ninguém está acima da lei”.
Trump é acusado de ter pressionado o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, a investigar o filho do ex-vice-presidente Joe Biden, o que é visto como uma tentativa de interferir nas eleições presidenciais de 2020. O vice de Barack Obama é tido como principal nome a concorrer pelo Partido Democrata e lidera as pesquisas de intenção de voto.
Segundo Pelosi, a atitude de Trump viola a Constituição estadunidense. “As ações da presidência de Trump revelaram o fato desonroso da traição do presidente por seu juramento, traição à nossa segurança nacional e traição à integridade de nossas eleições”, declarou a presidente da Câmara. Questionado por jornalistas sobre o impeachment, Jair Bolsonaro (PSL) se limitou a dizer que “Trump vai ser reeleito ano que vem”.
Fato é que o processo contra o mandatário dos EUA se dá em um momento em que Bolsonaro vê seus principais aliados internacionais ‘derreterem’ perante a opinião pública de seus países: Macri quase perdendo eleições na Argentina, Netanyahu sem maioria no Parlamento de Israel, o italiano Matteo Salvini fora da cena política e, agora, o super ídolo de Bolsonaro tem processo de impeachment aberto nos EUA.
“I love you”, diz Bolsonaro a Trump
Horas antes de Pelosi abrir o processo, Bolsonaro encontrou Trump na ONU e fez questão de demonstrar toda sua servidão ao presidente dos EUA. Segundo informações do jornalista Lauro Jardim, diplomatas testemunharam o brasileiro soltar um ‘I love you’ ao ver Trump.
Outro que recentemente recebeu o ‘toque de Midas’ de Bolsonaro foi o presidente da Argentina, Maurício Macri. Após visita oficial de Jair a Casa Rosada, em junho, Macri viu seu adversário Alberto Fernández vencer as prévias e abrir mais de 21 pontos de vantagem na corrida presidencial. Se confirmada a vitória da oposição no país vizinho e o eventual impeachment de Trump, Bolsonaro ficará ainda mais isolado no plano internacional.
Outro aliado internacional de Bolsonaro que enfrenta dificuldades internas é o atual primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que viu seu adversário nas eleições, o ex-general Benny Gantz, conquistar mais cadeiras no Parlamento.
Interferência nas eleições dos EUA
Essa não é a primeira vez que o presidente dos EUA vê seu nome envolvido em uma acusação de interferência estrangeira nas eleições do país. Em 2016, as duas principais agências de segurança, o FBI (Agência Federal de Investigações) e a CIA (Agência Central de Inteligência), teriam descoberto intervenções da Rússia nas eleições do país para promover a vitória de Trump.
Na época, o presidente estadunidense reconheceu a ação, mas negou envolvimento. Agora, o mandatário republicano se vê ligado diretamente às acusações. Um agente de segurança do governo revelou que, em 25 de julho, Trump ligou para o presidente ucraniano e pediu que ele colaborasse com seu advogado pessoal, Rudolph Giuliani, em uma investigação sobre Hunter Biden – filho do ex-vice-presidente Joe Biden – que integrou o conselho de uma empresa de gás naquele país.
O agente afirmou que Trump disse oito vezes a Zelensky que ele deveria colaborar com essa investigação. À CNN, Giuliani admitiu que houve pressão à Ucrânia: “Claro que fiz isso”, afirmou e disse que o presidente agiu corretamente. A ligação de Trump ocorreu no momento em que a Ucrânia aguardava a aprovação de um pacote de ajuda militar dos EUA no valor de US$ 250 milhões. A verba foi ratificada no mês seguinte pelo Congresso, mas suspensa logo depois pela Casa Branca, segundo o portal G1.
Após o processo de impeachment ser aberto nos EUA, a expectativa se dá em torno da divulgação dos áudios da conversa de Trump com o presidente ucraniano.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações do G1 e Lauro Jardim