Após ter tido uma de suas famigeradas lives derrubada pelo You Tube por disseminar mentiras sobre vacinas contra a Covid-19, Jair Bolronaro viu o filho Carlos ter removidos do Instagram, nesta semana, três postagens falsas sobre o presidente Lula. Os bloqueios podem repetir aqui o que aconteceu com o ex-presidente Donald Trump, que foi banido do Twitter no início do ano após espalhar notícias falsas na plataforma. Com o cerco se fechando sobre o clã bolsonarista, igualmente especializado em espalhar todo tipo de fake news em suas redes, Bolsonaro migrou para o Telegram. A estratégia, relata o jornal New York Times, é garantir um canal livre para desinformar seguidores.
Extensa reportagem do diário desta segunda-feira (8) detalha como Bolsonaro aproveitou o Telegram, atualmente o “disseminador mais permissivo de conteúdo problemático – incluindo desinformação – em um ecossistema de mídia social que enfrenta pressão crescente para combater notícias falsas e polarização”, para estabelecer mais uma rede de falsas notícias.
O jornal chama atenção para o crescimento acelerado da plataforma no país e como sua falta de regulamentação é explorada por Bolsonaro. “Em agosto, o Telegram havia sido instalado em 53% de todos os smartphones no Brasil, ante 15% dois anos antes, de acordo com um relatório”, aponta o Times.
O Times informa que especialistas estão preocupados com o uso aplicativo nas eleições presidenciais de 2022, tornando-se uma poderosa ferramenta para disseminação de mentiras, exatamente como ocorreu com o Whatsapp em 2018.
“Twitter, Facebook, WhatsApp e YouTube desempenharam papéis essenciais na impressionante vitória de Bolsonaro em 2018, e o líder da extrema direita continuou a depender fortemente da mídia social para energizar sua base, atacar oponentes e fazer afirmações falsas que praticamente não foram contestadas”, ressalta o jornal.
Queda de popularidade de Bolsonaro
“Bolsonaro, com suas perspectivas de reeleição ameaçadas por sua popularidade decrescente”, observa o jornal americano, “seguiu o manual de Trump e começou a semear dúvidas sobre a integridade do sistema de votação do Brasil, levantando a possibilidade de um resultado contestado”.
“Sua afirmação infundada de que as urnas eletrônicas serão manipuladas irritou a oposição e os principais juízes do país, que dizem que a abundância de desinformação na política brasileira está causando danos duradouros à democracia”, enfatiza o diário americano.
O NY Times ouviu a secretária-geral da Presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Aline Osório, que disse não ter tido sucesso em contatos com a sede do Telegram em Dubai. “Sabemos que a desinformação sistêmica é produzida por estruturas muito bem organizadas e financiadas”, contou Osório ao jornal, informando ainda que a plataforma não possui representação no Brasil.
“O canal de Bolsonaro ultrapassou um milhão de seguidores nas últimas semanas, colocando-o entre os políticos mais seguidos do mundo na plataforma”, diz o jornal americano. “Isso o torna um espaço seguro para figuras incendiárias, incluindo políticos que foram banidos de outras plataformas”, adverte o Times.
Armas ilegais e pornografia
Além de chats em grupo, o Telegram hospeda canais, uma ferramenta de comunicação de massa unilateral usada por corporações, artistas e políticos para distribuir mensagens, vídeos e arquivos de áudio.
A reportagem aponta ainda que o Telegram chama atenção de especialistas não apenas por sua utilização como arma política. “Investigações de organizações de notícias descobriram que [a plataforma] estava hospedando redes de armas ilegais e permitindo a distribuição de pornografia infantil”, descreve o Times.
Da Redação, com NY Times