O presidente Jair Bolsonaro estarrece o mundo ao jogar com a vida dos brasileiros e zombar do sofrimento de milhares de famílias. Desafia a lógica da ciência e do bom senso ao insistir na tese irresponsável de relaxar a quarentena como estratégia de combate à pandemia do coronavírus. Enquanto isso, a tragédia golpeia o país com seus 110 mil casos e 7.485 mil mortes. Com a taxa de mortalidade subindo exponencialmente – a média tem sido de 400 mortes por dia -, a esperança de saída da mais grave crise humanitária desde a 2ª Guerra Mundial vem dos Estados. O governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB) decretou lockdown de dez dias na região metropolitana de São Luís para frear a disseminação do Covid-19. O bloqueio quase total de atividades, o primeiro do país, passa a valer a partir desta terça-feira (5). Diante do piora do quadro sanitário, governadores de outros Estados avaliam adotar medidas semelhantes.
As medidas abrangem mais de 1,5 milhão de pessoas em São Luís e três vizinhas: Paço do Lumiar, Raposa e São José de Ribamar. Nessas cidades, apenas os serviços essenciais funcionarão. O decreto, emitido sob decisão judicial, estabelece que trabalhadores dos serviços essenciais poderão circular, desde que munidos de uma declaração com informações sobre suas atividades. Comerciantes terão obrigações como a organização de filas com marcação de distância no chão, entre outras normas. Estabelecimentos que descumprirem as normas poderão ser advertidos, multados e até interditados.
“Nós estamos nesse esforço conjunto, de demonstração objetiva de muita transparência, e por isso acredito que nesses dez dias, nós não teremos o efeito, obviamente, do desaparecimento do coronavírus, mas sim a inclinação para baixo mais forte da curva de casos e, com isso, nós possamos prognosticar a estabilização, e logo em seguida o declínio, que é o que nós desejamos”, afirmou Dino, em entrevista concedida à Rádio CNB.
Recife, Fortaleza e Belém podem ser as próximas capitais a aderir ao lockdown. O Ceará, que já superou 8,3 mil casos e 677 mortes, possui uma das mais altas taxas de letalidade do país, de cerca de 8%. O governador do Pará, Hélder Barbalho, estuda decretar o bloqueio total em algumas cidades do Estado se a taxa de isolamento não se mantiver acima de 70%, o mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Na outra ponta, o governo de Santa Catarina, que optou pela abertura de estabelecimentos comerciais como shoppings, já assinala novos aumentos de infecções por coronavírus.
Interiorização da doença pode acelerar ‘lockdown’
A pressão exercida pelo avanço da pandemia do coronavírus no interior preocupa especialistas. A sobrecarga do sistema de saúde pode acelerar medidas mais severas de restrição de circulação em mais estados, ao invés de uma reabertura. Monitoramento de pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fiocruz, indica que 44% das cidades médias, com 20 mil e 50 mil habitantes, registram casos de Covid-19.
Segundo nota técnica do Sistema Monitora Covid-19, desenvolvido pela Fiocruz e divulgada na segunda-feira (4), a situação é preocupante porque “metade das regiões para onde a doença se difunde apresenta recursos de saúde abaixo dos parâmetros indicados para situações de normalidade”. Os pesquisadores analisaram dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Esse já é um quadro preocupante em cidades polo, como Manaus, que atende não só aos moradores do município, mas também a pessoas vindas de um conjunto de pequenas cidades e vilas situadas ao longo de rios”, alerta Diego Xavier, epidemiologista do Icict/Fiocruz, em entrevista ao portal da instituição.
Bloqueio comprova eficácia
A completa restrição da circulação de pessoas mostrou-se uma das estratégias mais eficazes para o controle da velocidade de contágio e o achatamento da curva do número de infectados. Reino Unido, Austrália, França e Alemanha estão entre os países que obtiveram êxito em frear a disseminação do vírus, evitando a sobrecarga dos sistemas de saúde. Itália e Espanha, por sua vez, demoraram a reagir à chegada da pandemia e foram brutalmente atingidas. Após adoção de severa restrição da circulação de pessoas, os dois países conseguiram, lentamente, reduzir o número de novos casos e mortes.
Na vizinha Argentina, o presidente Alberto Fernández, decretou quarentena em março e estendeu o isolamento total dos cidadãos até 10 de maio, podendo ser prorrogado. O país tem hoje 4,8 mil casos e 260 mortes. Fernández também fechou as fronteiras argentinas e suspendeu voo comerciais internos e internacionais até setembro. “Prefiro ter 10% mais de pobres e não 100 mil mortos na Argentina por conta do coronavírus. Da morte não se volta, mas a economia se recupera”, disse o presidente, em entrevista. A capacidade de liderança de Alberto Fernández, que ainda tomou medidas de urgência para proteger empregos e famílias, fez crescer a sua popularidade no país.
Reabertura prematura em Santa Catarina
Após uma quarentena que durou perto de três semanas, o Estado de Santa Catarina decidiu testar uma volta à normalidade, permitindo, a partir de 21 de abril, que setores que o comércio retomasse as atividades. O resultado mostra que a decisão do governador Carlos Moisés pode ter sido afobada. Blumenau, que ganhou o noticiário pela aglomeração de pessoas na reabertura de um shopping da cidade, viu uma explosão do número de casos de Covid-19, chegando a 173%, segundo o jornal ‘Folha de S. Paulo’.
Da Redação