Os trabalhadores da saúde saíram às ruas em todo o país neste domingo (21), homenageando os pacientes e trabalhadores da saúde mortos em decorrência da Covid-19 e exigindo melhores condições de trabalho. As manifestações foram coordenadas pela Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia e pela Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares.
Em manifesto, os organizadores afirmaram que os atos servem para alertar que “a maior parte das mortes por Covid-19 em nosso País seriam evitáveis, caso o governo federal não tivesse uma posição genocida frente à pandemia”. Neste sábado (20), o Brasil chegou à marca de 50 mil mortos pela Covid-19.
“O Brasil, além de ser hoje o segundo país em número de casos e de mortes, tem outros dados que também são alarmantes. Segundo dados do Sindicato dos Médicos de São Paulo (SIMESP) e do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), até o dia 17 de junho de 2020, somos o país do mundo com maior número de mortes de médicas e médicos (ao todo 139 profissionais) e de enfermeiras e enfermeiros (ao todo 190 profissionais) por Covid-19”, afirmam os trabalhadores no documento.
Os profissionais de saúde também criticaram a intervenção militar no Ministério da Saúde e apontam que isso vem comprometendo sobremaneira o trabalho técnico frente à pandemia. Atacaram as declarações do presidente Jair Bolsonaro, hostis aos profissionais de saúde, incentivando agressões a trabalhadores de saúde em seu ambiente de trabalho.
A morte destas profissionais indica descaso do poder público com as condições de trabalho e de assistência à Saúde. Recebemos e fiscalizamos mais de 5 mil denúncias, a maior parte delas referentes à escassez e inadequação dos equipamentos de proteção individuais (EPIs)
O manifesto também expressou apoio à Campanha Leitos Únicos – Vidas Únicas, que garanta para toda a população fila única de acesso às UTI a partir do SUS, tanto nos serviços públicos como na saúde suplementar e exigiu a supressão da Emenda Constitucional 95 (EC- 95), que congela gastos em saúde pública por 20 anos.
“Os profissionais de saúde têm que estar bem, têm que estar vivos para conseguir dar uma resposta no enfrentamento ao coronavírus”, afirmou ao ‘Brasil de Fato’ Rodrigo Diniz, médico de Saúde da Família no Recife e militante da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares.
As manifestações ou atos simbólicos de homenagem e respeito aos pacientes e profissionais de saúde mortos pela Covid-19 ocorreram em Brasília, Fortaleza, Recife, Caruaru (PE), São Paulo, Ilhabela (SP), Campinas (SP), Cuiabá, Petrolina (PE), Juazeiro do Norte (CE), Maceió e Aracaju. Organizações de Salvador, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, João Pessoa, Florianópolis, Porto Alegre, Campo Grande, Belém, Londrina (PR), Pacaraima (RR), Canindé (CE) e Curitiba realizaram mobilizações focadas nas redes sociais simultaneamente aos atos simbólicos presenciais que ocorreram pelo país.
Descaso mata os profissionais
Três em cada dez óbitos de enfermeiros pelo mundo são de profissionais brasileiros, segundo levantamentos do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e do Conselho Internacional de Enfermagem (ICN). São mulheres relativamente jovens, com prevalência da faixa etária de 40 a 60 anos, muitas delas com comorbidades, que não deveriam estar em contato com casos suspeitos de Covid-19.
“A morte destas profissionais indica descaso do poder público com as condições de trabalho e de assistência à Saúde. Recebemos e fiscalizamos mais de 5 mil denúncias, a maior parte delas referentes à escassez e inadequação dos equipamentos de proteção individuais (EPIs)”, afirma o presidente do Cofen, Manoel Neri.
“Também é crucial é o afastamento dos profissionais integrantes de grupos de risco da linha de frente do combate à pandemia. Somos seres humanos, sujeitos aos mesmos fatores de risco da população em geral, e não máquinas”, pontua Neri, lembrando que o Cofen precisou recorrer à Justiça em busca do direito de afastamento e à testagem.
“Os dados são alarmantes e continuam crescendo, pois o Brasil ainda segue em curva de contágio ascendente. Negar a ciência e os fatos não impedirá que as mortes continuem crescendo, só alimenta a insegurança da população e dificulta a adesão a medidas básicas de higiene e distanciamento, fundamentais para contar a pandemia”, afirma o líder da categoria.
Desde o início da pandemia, os Conselhos de Enfermagem receberam 7.742 denúncias de falta de EPI e sobrecarga de trabalho associada ao subdimensionamento profissional. Já foram apuradas 5880. “Poderíamos esperar que a situação dos EPIs, por exemplo, já tivesse sido resolvida, agora que os poderes públicos tiveram tempos de fazer ajustes. Mas nos últimos 15 dias, recebemos 582 denúncias”, contou Walkírio Almeida, coordenador do comitê gestor de crise.
Leia a íntegra do manifesto
Da Redação