Governo Bolsonaro é o lanterna mundial no combate à pandemia

Avaliação de brasileiros sobre as ações de Bolsonaro durante a pandemia coloca o país em último lugar numa lista de 53 países pesquisados por um instituto alemão. Para 71% dos consultados, o governo atende pequenos grupos, e não a maioria das pessoas

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Governo Bolsonaro tem o pior desempenho entre 53 países pesquisados

O Brasil ficou em último lugar em uma pesquisa que mediu, em 53 países, como a população avalia a reação dos respectivos governos à pandemia de covid-19. Para apenas 34% dos entrevistados é boa a resposta apresentada pelo país. A média global de satisfação ficou em 70%.

As ações do governo do presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia do novo coronavírus fizeram com que o Brasil obtivesse as duas piores avaliações no ranking. O retrato do Brasil é de um país cujo governo deu respostas parcialmente insuficientes ou totalmente insuficientes frente à pandemia, além de ter um governante que não fez o suficiente para restringir o deslocamento da população pelo país.

Os resultados constam no Índice de Percepção da Democracia 2020 (DPI – Democracy Perception Index), levantamento do instituto de pesquisas alemão Dalia Research em parceria com a Fundação Aliança para as Democracias, organização com sede na Dinamarca.

A insatisfação da população [do Brasil] tem relação direta com a maneira como o governo federal tem enfrentado a pandemia. Em menos de seis meses, três pessoas já ocuparam a pasta do Ministério da Saúde, com discursos e ações discrepantes entre si. Nesse período, nenhum plano nacional de combate à Covid-19 foi apresentado à sociedade

Rachel Barros, doutora em sociologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

O foco da pesquisa é a respeito da percepção do regime democrático em que os cidadãos vivem em seus respectivos países, mas este ano foram acrescidas questões sobre a condução dos governos na luta contra a pandemia.

Na pesquisa, 62% dos brasileiros ouvidos consideraram que a resposta dada pelo governo Bolsonaro diante da crise do novo coronavírus foi “um pouco insuficiente” (32%) ou “muito insuficiente” (30%). Já outros 26% consideraram “um pouco eficiente”, enquanto 8% avaliaram a atuação do governo como “muito suficiente”. Os demais 4% não souberam opinar.

O alto índice de insatisfação do brasileiro fez com que o país ficasse em último no ranking mundial nesse quesito. Junto com o Brasil aparecem Chile (39%), França (46%) e Espanha (50%). Já os países que obtiveram melhor avaliação foram China e Vietnã (95%), Grécia e Malásia (89%), Irlanda e Taiwan (87%).

Para a doutora em sociologia pela UERJ, Rachel Barros, Bolsonaro demonstrou “descaso e baixíssima capacidade de enfrentar a pandemia com a seriedade e importância que ela merece”.Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Questionados sobre as medidas restritivas adotadas pelo governo Bolsonaro, 60% dos entrevistados afirmaram que as ações “foram insuficientes”, 24% consideraram como “na quantidade certa” e outros 11% avaliaram como “excessivas” as restrições, enquanto 5% dos entrevistados não souberam responder.

O Brasil também apareceu mal quando a pergunta foi sobre a percepção das pessoas a respeito de quem geralmente tem os interesses atendidos pelo governo. Para 71% dos brasileiros, o governo atende pequenos grupos, e não a maioria das pessoas. O índice só foi melhor que os de Venezuela (74%) e Chile (72%).

Os brasileiros aparecem ainda com um dos piores déficits de percepção da democracia interna. Enquanto 83% consideram a democracia importante, apenas 51% consideram o país democrático. É uma diferença de 32 pontos percentuais. O pior retrato é o da Venezuela, com respectivamente 74% e 24%, um hiato de 50 pontos.

“A insatisfação da população [do Brasil] tem relação direta com a maneira como o governo federal tem enfrentado a pandemia. Em menos de seis meses, três pessoas já ocuparam a pasta do Ministério da Saúde, com discursos e ações discrepantes entre si. Nesse período, nenhum plano nacional de combate à Covid-19 foi apresentado à sociedade”, afirmou à ‘Sputnik Brasil’ a doutora em sociologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Rachel Barros.

Cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus (AM). Foto: Michael Dantas

O primeiro ministro da Saúde a enfrentar a pandemia foi Luiz Henrique Mandetta, que deixou o cargo em 16 de abril. Deste então, Mandetta não poupou Bolsonaro de críticas. Seu sucessor foi Nelson Teich, que ficou no cargo de 17 de abril a 15 de maio. O general Eduardo Pazuello, atual ministro, está no cargo de maneira interina, embora Bolsonaro tenha afirmado que ele deve ocupar a cadeira “por um longo tempo”.

“Podemos somar a esse quadro a crise do sistema público de saúde, que em diversos estados do país já dava mostras de precarização. Com a pandemia, essa situação ficou ainda mais explícita porque os investimentos públicos neste setor têm sido insuficientes”, diz Barros, para quem, em diversas declarações, Bolsonaro demonstrou “descaso e baixíssima capacidade de enfrentar a pandemia com a seriedade e importância que ela merece”.

O secretário-executivo do Centro de Estudos Estratégicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Assis Mafort, avaliou que as diversas trocas de comando no Ministério da Saúde são um fator que ajuda a explicar o resultado da pesquisa. Mafort destaca a falta de coordenação com estados e municípios no trabalho de enfrentamento à pandemia.

“Há um certo esvaziamento do papel de coordenação nacional exercido pelo Ministério da Saúde na organização, na estruturação das ações nacionais de combate à pandemia”, disse o pesquisador à ‘Sputnik Brasil’, lembrando o incentivo dado, em vários momentos, ao uso de medicamentos como cloroquina e hidroxicloroquina sem a comprovação científica de sua eficácia.

China é o país mais bem avaliado

A China, país de origem do Sars-Cov-2, obteve uma melhor avaliação dos brasileiros sobre sua atuação no combate à pandemia da Covid-19 do que a praticada até agora pelo governo de Donald Trump, dos Estados Unidos.
Questionados sobre as ações chinesas, 73% dos brasileiros entrevistados avaliaram o país positivamente, entre “muito bem” (33%) e “um pouco bem” (40%), enquanto outros 19% consideram que a China teve uma má atuação, entre “um pouco mal” (10%) e “muito mal” (9%). Outros 8% não souberam responder.

A resposta do governo norte-americano, entretanto, foi considerada positiva por 52% dos cidadãos brasileiros ouvidos, variando entre “muito bem” (12%) e “um pouco bem” (40%). Apontaram como uma má resposta dos EUA 38%, sendo “um pouco mal” (25%) e “muito mal” (13%). Os 10% restantes não opinaram.

Na Suécia, país criticado por não impor bloqueios mais duros para conter o avanço do novo coronavírus, 69% dos entrevistados consideraram que o governo trabalhou bem. A estratégia sueca de não impor isolamento social rígido, no entanto, tem sido elogiada por Bolsonaro. Na Itália, um dos países europeus mais afetados pelo novo coronavírus, com cerca de 35 mil mortes, a aprovação do governo ficou em 53%.

Ao todo, 124 mil pessoas responderam às questões apresentadas de maneira diversificada pela empresa por meio de sites e aplicativos entre 20 de abril e 3 de junho. Entre 1 mil e 3,2 mil pessoas de cada país participaram da sondagem.

A Dalia Research informou que colheu as respostas baseando-se em distribuições oficiais de idade, gênero e nível educacional e cada nação. A margem de erro da pesquisa é de 3,25 para mais ou para menos.

As conclusões do estudo foram compartilhadas pelo economista e filósofo alemão Max Roser, diretor de pesquisa em economia da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e fundador do Our World In Data (Nosso Mundo em Dados, em português), um portal que acompanha os dados e traduz em gráficos a evolução da pandemia no mundo.

Os resultados do DPI foram apresentados durante a Cúpula da Democracia de Copenhagen, na Dinamarca, que começou nesta quinta (18) e é realizada pela Fundação Aliança pela Democracia.

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