Após três anos e meio de governo Bolsonaro, o Brasil tem mais civis com permissão para ter armas do que policiais militares ou membros das Forças Armadas. É o que revela levantamento feito pelo Instituto Igarapé a pedido do Jornal O Globo.
Segundo a entidade especializada em segurança pública, existem hoje 605,3 mil pessoas com carteirinhas ativas de caçadores, atiradores ou colecionadores (CACs). É mais do que o total de PMs em ação no país (406,3 mil) e de militares em serviço (357 mil).
O número é resultado direto da série de medidas criadas por Bolsonaro para facilitar o acesso a armas. Segundo o estudo, o contingente total de CACs triplicou desde 2019. E o total de permissões para aquisição de armamento é 1.451% maior do que a comercialização consentida em 2018, um ano antes das mudanças legais.
Essa situação, alertam especialistas, cria um cenário de extrema insegurança nas eleições. Seguindo os passos de Donald Trump, Bolsonaro tem feito de tudo para que seus seguidores mais fanáticos não acreditem no resultado das eleições caso o atual presidente não vença. Essa crença, aliada a repetidas mensagens de estímulo à violência, pode estimular movimentos golpistas ou mais ataques como os que mataram o líder petista Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu (PR).
“Num ano eleitoral de tanta polarização e violência, é um risco muito grande. Ainda mais com governantes que põem em xeque as urnas e, de forma mais indireta, insuflam essa base que pode sim pegar em armas para fazer alguma loucura”, disse ao jornal O Globo a diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo, claramente se referindo a Bolsonaro.
Insegurança, crime organizado e lucro
Ao espalhar armamentos pelo Brasil, Bolsonaro não só gerou um exército de fanáticos armados capazes de atacar a democracia. Ele também deu lucros absurdos às empresas que fabricam pistolas, fuzis e metralhadoras e ainda facilitou o acesso a armamentos pesados pelo crime organizado, tornando o país muito mais inseguro.
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Para se ter uma ideia de como se trata de um negócio e tanto, a empresa brasileira Taurus alcançou, em 2019, um lucro líquido de R$ 43,4 milhões. No ano anterior, antes de Bolsonaro assumir, o resultado da empresa havia sido de prejuízo perto de R$ 60 milhões.
Há dados também sobre como o crime organizado tem sido beneficiado. Levantamento feito pelo jornal O Globo no começo do ano, em Tribunais de Justiça de todo o país, identificou CACs que, na verdade, são integrantes de milícias e grupos de extermínio e atuam como armeiros de facções do tráfico e fornecedores de armas e munição para assaltos a bancos e sequestros. Graças às regras frouxas criadas por Bolsonaro, esses bandidos conseguem comprar armas legalmente, uma vez que estão registrados como CACs.
“Temos visto cada vez mais casos da relação do crime organizado com essa categoria, seja se inscrevendo como CACs, seja cooptando pessoas para conseguir acessar essas armas de calibre restrito”, ponderou Carolina Ricardo ao jornal.
Para piorar, não há fiscalização
O cenário se torna ainda mais preocupante quando se nota que todo esse crescimento de pessoas armadas ocorre praticiamente sem fiscalização.
De acordo com Michele dos Ramos, gerente de Advocacy do Instituto Igarapé, em 2020, o Exército fiscalizou só 2,3% dos 311.908 locais que deveriam ser inspecionados, entre acervo privado de CACs, lojas e clubes de tiro.
Da Redação, com informações de O Globo