Os leitores dos mais variados veículos de imprensa, seja da mídia tradicional, seja da mídia alternativa vêm tomando conhecimento do que se convencionou chamar de “hiperativismo judicial”, isto é: a presença, cada vez maior, dos organismos de estado, polícias, Ministérios Públicos e sobretudo o Poder Judiciário como pontas de lança do vasto noticiário político.
Com um jornalismo enviesado e parcial, a chamada grande imprensa ataca ferozmente a franja progressista da sociedade e seus governos. Revela o seu viés conservador e antipopular, atuando como principal baluarte desse chamado “hiperativismo”.
Hoje o principal motivador da atrofia e disfuncionalidade institucional que vivemos é essa profusão de juízes, procuradores e delegados de polícia em busca frenética pelo protagonismo midiático em detrimento do dever de recato que deve ser praxe das autoridades concursadas e, portanto, imunes (deveriam ser) às tentações do
eleitoralismo.
Chega-se ao ponto dessas autoridades arvorarem-se em guardiões da “moral e dos costumes” tecendo comentários de fundo político, querendo de toda as formas influenciar no humor do eleitor. Atuam como um bloco concatenado, cujo objetivo central parece ser a interdição da candidatura de Lula à presidência da república. Tarefa que se incumbem diariamente.
A velocidade que foi marcado o julgamento da apelação da defesa de Lula no TRF-4 de Porto Alegre, cuja morosidade é notória, contribui, sensivelmente, para aumentar as suspeitas sobre a parcialidade dos julgamentos a que o ex presidente está sendo submetido.
Apesar de grande parte das elites dominantes apostar suas fichas na interdição da candidatura do ex-presidente, pela via judicial, tal intento não será fácil de se consumar. Os juristas que se debruçaram sobre a sentença informam que esse ato judicial é frágil em sua fundamentação, dada a carência de provas. Reconhecem que houve, por parte do magistrado, um hercúleo esforço para condenar o ex-presidente, mas não podendo contar com provas que embasassem “suas convicções”, a peça não passa de uma “tese”, ou uma tentativa de materializar “o seu desejo não revelado” de interditar a candidatura do ex-presidente.
O governador do Maranhão e ex juiz federal Flávio Dino em entrevista nesta segunda-feira ao jornal Folha de São Paulo, quando questionado sobre a candidatura Lula, responde com precisão: “Não há razão para não ser (candidato) a não ser um processo de lawfare, de perseguição judicial. Adiante diz: “se for candidato, ganha. Se a elite brasileira tivesse um pouquinho de espírito nacional, e menos espírito de Miami, concordaria que Lula é importante para o Brasil”.
Infelizmente, essa clareza parece não fazer parte do sentimento e ação de alguns juízes, procuradores e colunistas da mídia que imbuídos do espírito de justiceiros e de castas dominantes preferem fazer “vista grossa” aos desejos da maioria da população. A criminalização da atividade política e dos partidos gestaram um caldeirão de ressentimentos e ódios que aliados às frustrações produziram esse delírio fascistóide
que ocupa parte do panorama nacional.
É preciso romper esse cerco. É imperativo que o Brasil saia desse marasmo decadencial implementado pelo desgoverno Michel Temer e associados. A presença no dia 24 de janeiro em Porto Alegre, mais que um desagravo à Lula, é um chamamento para que o país retorne ao Estado Democrático de Direito e possa
reconstruir a soberania nacional cada vez mais vilipendiada pelos inquilinos palacianos de ocasião.
Haveremos de não permitir que os interesses e desejos do povo sejam capturados
pelos arranjos das elites.
Alberto Cantalice é Vice Presidente do Partido dos Trabalhadores.