O vereador Carlos Bolsonaro (PSC) empregou Márcio da Silva Gerbatim em seu gabinete na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Ele é ligado ao ex-assessor e motorista de Flávio Bolsonaro (PSL), Fabrício Queiroz. Ex-marido da atual esposa de Queiroz, Gerbatim trabalhou no gabinete de Carlos por dois anos e, em seguida, foi nomeado por Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Com novas informações sobre troca de favores e condecorações, o mapa e os indícios das ligações entre milicianos, parentes de milicianos e a família Bolsonaro crescem a cada dia.
Gerbatim trabalhou com Carlos Bolsonaro entre abril de 2008 e abril de 2010, e, em seguida, foi nomeado assessor-adjunto na Alerj, quando Flávio era deputado estadual, onde permaneceu até maio de 2011. Ao exonerar Márcio da Silva Gerbatim, Carlos nomeou o irmão dele, Claudionor Gerbatim de Lima. As informações foram obtidas pelo Estadão por meio da Lei de Acesso à Informação e divulgadas nesta segunda-feira (15).
Evelyn Mayara de Aguiar Gerbatim – que é filha de Márcio da Silva Gerbatim e enteada de Queiroz – também foi funcionária da família Bolsonaro. Ela esteve nomeada no gabinete de Flávio de 2017 a 2019. A filha de Queiroz, Nathália Queiroz, e a esposa, Márcia Oliveira de Aguiar, também tiveram cargos na Alerj, nomeadas pelo então deputado estadual. Nathália, além disso, esteve lotada no gabinete de Jair Bolsonaro de 2016 a 2018, quando ele era deputado federal.
Quais as ligações entre Queiroz, seus parentes e indicações, a família Bolsonaro e os milicianos? São muitos nomes e muitas conexões. Entenda:
Cadê o Queiroz? Escândalo e fugas
Em dezembro de 2018, relatório produzido pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostrou uma movimentação atípica nas contas de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Alerj. Entre os R$ 7 milhões movimentados por Queiroz, estava um depósito de R$ 24 mil feito para a atual primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Jair Bolsonaro afirmou que o amigo fez o depósito para pagar parte de uma dívida que tinha com ele. O depósito foi realizado na conta de Michelle, de acordo com a justificativa, em razão da falta de tempo do atual presidente.
Depois de declarações controversas, de fugir de aparições públicas e de não comparecer aos órgãos competentes para prestar esclarecimentos, Queiroz assumiu ser o responsável por recolher parte dos salários dos demais funcionários do gabinete de Flávio e, com esses valores, realizar pagamentos para funcionários contratados ilegalmente. Há mais de 40 dias, o ex-assessor garantiu que entregaria uma lista dos funcionários ilegais do gabinete ao Ministério Público e sumiu!
Em uma das ocasiões de fuga de Queiroz, quando o escândalo veio à tona, o ex-motorista foi se esconder na região das comunidades de Rio das Pedras, na zona oeste do Rio de Janeiro.
Território de atuação das milícias
Em janeiro deste ano, uma força-tarefa da Polícia Civil e do Ministério Público decretou a prisão de cinco suspeitos de integrar uma milícia que agia na região de Rio das Pedras. Entre os suspeitos que tiveram prisão decretada na Operação Intocáveis, estão Adriano Magalhães da Nóbrega e Ronald Paulo Alves Pereira.
O ex-policial do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Adriano Nóbrega é apontado pela Polícia como o chefe da milícia de Rio das Pedras. Em 2005, ele, que foi expulso da corporação por envolvimento com a máfia do jogo do bicho, recebeu a mais alta honraria do Legislativo fluminense, a medalha Tiradentes, por indicação do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. Suspeita-se que o miliciano integre o Escritório do Crime, grupo de extermínio apontado como responsável pelo assassinato da vereadora Marielle Franco.
A mãe de Nóbrega, Raimunda Vera Magalhães, e a esposa, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, foram funcionárias de Flávio Bolsonaro, deixando o gabinete no dia 13 de novembro. A mãe é uma das funcionárias que teria repassado parte do salário para Queiroz. De acordo com a assessoria de imprensa do atual senador, ela foi contratada por indicação do ex-motorista, inclusive.
O major da Polícia Militar (PM) Ronald Paulo Alves Pereira é acusado de praticar grilagem nos bairros de Vargem Grande e Vargem Pequena, de chefiar a milícia de Muzema, no bairro do Itanhangá – de onde o carro usado no assassinato de Marielle partiu – e de também fazer parte do Escritório do Crime. Pereira também foi condecorado por Flávio Bolsonaro. Ele recebeu uma moção honrosa quando já era investigado como um dos autores de uma chacina na antiga boate Via Show, em 2003, na Baixada Fluminense.
Outra operação do Ministério Público, nomeada de Quarto Elemento, que investiga suposta quadrilha de policiais especializada em extorsões, prendeu Alan e Alex Rodrigues de Oliveira. Os dois policiais militares, que participaram de atividades da campanha do candidato a senador Flávio Bolsonaro, são irmãos de Valdenice de Oliveira Meliga, ex-funcionária de Flávio, durante sua atuação como deputado estadual. Meliga era da confiança de Flávio, já que ela assinou cheques de despesas de campanha do atual senador.
Quem matou Marielle? Quem mandou matar?
Se quem mora ao lado é inimigo ou amigo, não se sabe, mas o fato é que o sargento reformado Ronnie Lessa, apontado como suspeito de ser o autor dos disparos que assassinaram a vereadora carioca Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, é vizinho do presidente. Jair Bolsonaro e Lessa são moradores do condomínio Vivendas das Barra, na Barra da Tijuca. Além disso, a filha de Lessa foi namorada de Renan Bolsonaro, filho de Jair.
Além de Lessa, Élcio Vieira de Queiroz, ex-policial militar, é acusado de dirigir o carro do qual saíram os disparos contra Marielle e Anderson, em março de 2018. Durante a campanha eleitoral, o acusado publicou fotos com o presidente em suas redes sociais.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações do Estadão